Descrição de chapéu Eleições 2018

Em mensagem a funcionários, empresários declaram voto em Bolsonaro

MPT e MPF apuram se mensagem configuram coação de votos, violação trabalhista e eleitoral

Curitiba

“Meu voto é no Bolsonaro 17”, escreveu, em negrito, o empresário Pedro Joanir Zonta, 67, fundador e presidente da rede de supermercados Condor, em uma carta dirigida a seus funcionários nesta terça-feira (2).

“Ele não tem medo de dizer o que pensa; protege os princípios da família, da moral e dos bons costumes; luta contra o aborto e a sexualização infantil; é a favor da redução da maioridade penal e segue os valores cristãos”, justifica. 

Ao final da missiva, também em negrito, uma promessa: “Fica o meu compromisso, com você meu colaborador hoje, de que não haverá, de forma alguma, corte no 13º salário e nas férias dos colaboradores do grupo”.

Pedro Joanir Zonta, presidente da rede de supermercados Condor, que declarou voto em Bolsonaro
Pedro Joanir Zonta, presidente da rede de supermercados Condor, que declarou voto em Bolsonaro - Guilherme Pupo - 28.abr.2010/Folhapress

A empresa, com sede no Paraná e que tem cerca de 12 mil colaboradores, não foi a única cujo presidente declarou voto no presidenciável do PSL, Jair Bolsonaro, em mensagens dirigidas a seus empregados nos últimos dias. 

Assim também o fizeram Luciano Hang, dono da varejista Havan, e um terceiro empresário de Santa Catarina, cujo áudio dirigido aos funcionários ainda não teve a autenticidade confirmada. 

As mensagens estão sob análise do MPT (Ministério Público do Trabalho) e MPF (Ministério Público Federal), que apuram coação de votos, uma violação trabalhista e eleitoral.

Em entrevista à Folha, Zonta negou que tivesse qualquer intenção de coagir funcionários.

“De forma nenhuma. Falei no que eu acredito, eu”, disse. “E outra coisa, o voto é secreto. Não adianta eu pedir para eles. Acabou o tempo dos coronéis.”

Segundo o empresário, sua intenção foi a de tranquilizar funcionários que temiam que, com a eleição de Bolsonaro, fossem revogados os direitos ao 13º salário e às férias –um receio motivado pelas declarações recentes do vice do candidato, Hamilton Mourão (PRTB), que foram refutadas pelo capitão reformado.

Na carta, Zonta prossegue e diz também os motivos pelos quais “não vota na esquerda”, como o fim da família, a desestruturação das empresas brasileiras, o aumento da corrupção e o agravamento da crise econômica. “Em nenhum país a esquerda deu certo”, diz o documento.

Carta Pedro Joanir Zonta pró-Bolsonaro
Em carta, Pedro Joanir Zonta, 67, fundador e presidente da rede de supermercados Condor, declara voto em Jair Bolsonaro (PSL) para presidente - Reprodução

“Eu não me coloquei como chefe; eu me coloquei como pessoa, como cidadão”, disse Zonta à Folha. Ele e outros membros da família são doadores de campanha de Bolsonaro –o empresário doou pessoalmente R$ 4.000. “Cada um fez aquilo que achava que deveria fazer; é uma doação aberta e registrada”, afirmou.

A tentativa de coação também foi refutada por Hang, da Havan, que afirmou à Folha que “você pode dizer em que você acha que deve votar, mas nunca obrigar”.

Ele gravou vídeos em que afirma que a empresa fez levantamentos de intenção de voto entre seus funcionários, e diz que, a depender do resultado da eleição, pode deixar de abrir mais lojas.

Um deles, que está sob investigação do MPT, mostra um pronunciamento de Hang em frente a centenas de funcionários, na sede da Havan, em Brusque (SC). O empresário, vestindo uma camiseta com as inscrições “Bolsonaro Presidente”, toca o Hino Nacional e faz críticas ao comunismo e ao PT, exibindo cenas de miséria na Venezuela e em países soviéticos da década de 1990.

“Não tem empreendedor desse país que vai investir dinheiro com o PT novamente no poder”, diz, durante o ato cívico, como o evento é chamado internamente.

Em seguida, ele critica as pesquisas eleitorais e os candidatos à Presidência que aparecem no pelotão intermediário, como Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), Alvaro Dias (Podemos), João Amoêdo (Novo) e Henrique Meirelles (MDB), exibindo a frase: “Esses candidatos estão fora”.

Hang declarou em nota que está exercendo seu direito de manifestação e que “ainda não vivemos na Venezuela”.

O MPT de Santa Catarina, estado-sede da Havan, que tem 15 mil funcionários, recebeu pelo menos 35 denúncias de empregados contra a varejista. A procuradora do trabalho Marcia Lopez Aliaga pediu uma liminar ao TRT (Tribunal Regional do Trabalho) contra a empresa para impedir manifestações que “coajam, intimidem, admoestem ou influenciem o voto de seus empregados”.

“O que se observa é uma violação à Constituição, um cerceamento da liberdade de orientação política”, afirmou Aliaga, destacando que o caso ainda está em investigação.

Para a Procuradora Regional Eleitoral no Paraná, Eloisa Helena Machado, a prática abusa do “temor reverencial”, um conceito do direito nas relações de trabalho.

“Quando o dono de uma grande empresa divulga a seus funcionários em quem irá votar e, ao mesmo tempo, pede 'que confiem em mim e nele para colocar o Brasil no rumo certo' [trecho da carta de Zonta], há clara ofensa ao direito de escolha desses empregados”, afirma Machado.

O deputado federal Fernando Francischini (PSL-PR), que apoia a campanha de Bolsonaro no Paraná, elogiou o posicionamento de Zonta. 

“Parabéns ao grupo Condor e ao empresário Joanir Zonta pela coragem e senso patriótico em defesa do Brasil”, escreveu, nas redes sociais.

Após audiência no MPT, o presidente do Condor concordou em enviar uma carta de esclarecimento aos seus funcionários ainda nesta terça (2), afirmando que respeita a liberdade de consciência e "não tolera a imposição ou direcionamento nas escolhas políticas dos empregados".

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