Descrição de chapéu Eleições 2018

Na TV, emoção do PT contrasta com sobriedade de Alckmin e Meirelles

Profissionais e pesquisadores que trabalham com publicidade registram diferenças no horário eleitoral

propaganda eleitoral de Fernando Haddad no sábado, dia 22 de setembro
Propaganda eleitoral de Fernando Haddad (PT) exibida no sábado, dia 22 de setembro - Reprodução
Gustavo Fioratti
São Paulo

Comparadas as campanhas no horário eleitoral dos três candidatos à Presidência com mais tempo de televisão, a de Fernando Haddad (PT) se distanciou das de Geraldo Alckmin (PSDB) e Henrique Meirelles (MDB) em elementos formais. 

O petista apela para composições emocionais, e os adversários optam por estilos que passam ideia de sobriedade.

A percepção é da antropóloga Valéria Brandini, autora da tese de pós-doutorado pela USP “A Era das Causas - O Propósito como Capital na Estética Publicitária”. Para chegar a esse diagnóstico, ela observou os tipos de narração utilizados, as opções cromáticas e de iluminação e quais tipo de imagens, personagens e informações são exibidas.

Propaganda eleitoral de Geraldo Alckmin à presidência
Propaganda eleitoral de Geraldo Alckmin à presidência - Reprodução

A Folha convidou especialistas para analisar os programas do horário eleitoral dos três candidatos com mais de 1 minutos no bloco diário. O líder das pesquisas, Jair Bolsonaro, tem apenas 8 segundos. 

Para Baldrini, a diferença entre a campanha de Haddad para a de Alckmin e Meirelles, “é gritante”. “Na campanha do Haddad, há um tipo de engajamento afetivo quando as pessoas são chamadas [para o voto]. É quase a voz de um pai”, diz.

Ela exemplifica: Haddad tem preferido conjugar verbos na terceira pessoa ou na primeira do plural, de forma a colocar Lula como um participante. “Recebemos, todos, uma missão do presidente. É hora de sair para a rua de cabeça erguida e ganhar a eleição”, diz em uma das propagandas mais recentes. 

Os rostos de homens e mulheres de origem pobre exibidos em sequência, com expressões muitas vezes entristecidas, é outra ferramenta. Adiciona-se a isso o contraste de luz, ressaltando traços, rugas e olhares, e a cromatização puxada para o vermelho.

Para Brandini, nessa estratégia de Haddad está contido um esforço para mostrar o candidato como uma figura que age em nome e a favor de um mártir: Lula foi condenado em segunda instância na Lava Jato e proibido de concorrer à Presidência por causa da Lei da Ficha Limpa.

“Em uma situação polarizada, tem-se que entender que não é todo o povo brasileiro que é a favor de Lula. Isso vai instigar humores de quem está do outro lado”, critica.

Ela diz que Alckmin e Meirelles, na contramão, apelam para a razão e não para a emoção. “Sem esse poder de arregimentação carismática de Lula, Alckmin vai buscar dados e fatos”, diz, referindo-se, por exemplo, aos recortes de jornais, muitos deles negativos para a imagem dos adversários. Os dois preferem apelar também para suas experiências como gestores. 

O tucano e o emedebista procuram se isentar de um jogo polarizado, diz a pesquisadora. “O administrador não se interessa por direita ou esquerda. Ele passa a imagem de que trabalha pelo todo”.

Propaganda eleitoral de Henrique Meirelles de terça, dia 25 de setembro
Propaganda eleitoral de Henrique Meirelles de terça, dia 25 de setembro - reprodução

Para a antropóloga, as linhas da propaganda de Meirelles e Alckmin também casam com opções cromáticas nos filmes dos candidatos, puxados para o verde ou para o azul. Ela acha que, no caso do esverdeamento, há menos uma associação com a bandeira e mais uma tentativa de mencionar uma “onda green”, movimentos de preservação ambiental.

O diretor de cinema Gustavo Leme lembra que o verde sempre esteve na linguagem do PSDB. Ele diz que as campanhas de Alckmin e de Meirelles “evitam o vermelho”. 

Leme também destaca que o programa de Alckmin é apresentado por uma mulher negra e jovem: são três tipos de eleitores que o candidato mira conquistar. 

Para Ary Azevedo, coordenador do grupo de pesquisa sobre propaganda política da Universidade Federal do Paraná, as três campanhas refletem tendência que se avoluma a cada eleição, que é a substituição de linguagem que se referia mais ao jornalismo. 

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