Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Bolsonaro tenta desobstruir canal com Congresso e escala Onyx para falar com Maia

Presidente eleito desmarcou encontro com a cúpula da Câmara e do Senado e pediu para futuro ministro abrir diálogo

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Brasília

Emparedado pela necessidade de realizar reformas, Jair Bolsonaro (PSL) fez um gesto nesta segunda-feira (12) e escalou seu principal auxiliar político, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), para tentar desobstruir seu canal de articulação com o Congresso.

Até o início desta semana, 15 dias após a eleição, a equipe de transição ainda não havia procurado os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), sinalizando aos caciques políticos que a relação com o Parlamento não era prioridade. 

Bolsonaro, por sua vez, chegou a desmarcar um encontro com ambos nesta terça-feira (13) sem dar nenhuma explicação oficial.

Nesta segunda, porém, o futuro ministro da Casa Civil se encontrou com Maia na residência oficial para, segundo ele, dizer que o Planalto não pretende intervir na disputa para o comando do Senado e da Câmara —Maia quer concorrer à reeleição.

“Dissemos que o governo não pretende intervir nas definições do comando da Câmara e do Senado. Todos os governos que fizeram intervenção se deram muito mal”, afirmou Onyx. 

“Fomos estreitar nosso diálogo e assegurar que a relação do governo e do Parlamento será de independência”, completou.

Na reunião com Maia, o futuro chefe da Casa Civil estava acompanhado de Gustavo Bebianno, que deve assumir a Secretaria-Geral da Presidência. O cargo, que inicialmente seria extinto no governo Bolsonaro, é também responsável pela relação entre o Planalto e os parlamentares.

Maia tem trabalhado para que o governo não apoie nenhum nome para a Presidência da Câmara, mas tem encontrado resistências dentro do PSL. Um dos filhos de Bolsonaro, Eduardo, por exemplo, já disse que prefere outros perfis —e não o do atual presidente— para o cargo a partir de 2019.

Responsáveis por colocar em votação projetos como a reforma da Previdência, tratada até agora como prioridade do novo governo, Maia e Eunício ainda não conversaram com o presidente eleito.

Como Bolsonaro não deu explicação oficial para desmarcar as reuniões com a cúpula do Congresso —Onyx também não especificou o motivo— Maia e Eunício chegaram a elucubrar se havia riscos de segurança caso o presidente eleito quisesse circular no plenário —sua equipe costuma utilizar-se desse tipo de argumento para justificar ausências do capitão reformado.

A desorganização política da equipe de transição ficou latente na semana passada, quando os parlamentares aprovaram duas medidas de impacto econômico a partir do ano que vem, o aumento do salário dos juízes e a renovação dos incentivos fiscais da indústria automobilística. 

Nas ocasiões, Bolsonaro deu declarações públicas contrárias aos projetos mas não escalou nenhum aliado para articular a não aprovação das medidas.

Quem tem funcionado como uma espécie de ponte do novo governo com a cúpula do Congresso é o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, que já conversou por telefone com Maia algumas vezes desde o segundo turno e até com o presidente Michel Temer, com quem o guru de Bolsonaro esteve na última sexta-feira (9).

No entanto, mesmo Guedes já havia provocado mal-estar na Câmara e no Senado ao pedir uma “prensa” nos parlamentares para que aprovassem a reforma da Previdência ainda este ano.

Segundo o futuro ministro da Economia, essa seria a prioridade da transição, já que, caso o texto não avance em 2018, o novo governo deverá apresentar outra proposta, o que vai necessariamente atrasar muito a tramitação.

A declaração irritou deputados e senadores, e Guedes chegou a ter um desentendimento com Eunício na semana passada, de acordo com o próprio presidente do Senado.

Apesar do ruído, Onyx fez uma provocação nesta segunda ao ser questionado por jornalistas sobre a possível “prensa” no Congresso sugerida por Guedes.

“É que nem diz o capitão [Bolsonaro], às vezes você tem que dar uma ‘canelada’”. 

Em seguida, remendou que “toda a equipe está sendo preparada” para que os parlamentares digam que nunca foram tão respeitados como na gestão Bolsonaro.

Até agora, porém, não houve avanço para aprovar pelo menos parte da reforma da Previdência este ano, como queria Guedes.

Maia e Eunício não acreditam que projetos nesse sentido caminhem até dezembro —nem mesmo os que não alterem a Constituição e, portanto, precisem de menos apoio parlamentar. 

O próprio Onyx reconheceu que é bem difícil fazer andar qualquer ponto das mudanças na aposentadoria este ano.

A avaliação dos líderes da base e também dos dois chefes das Casas é que, além da falta de articulação política, o governo Bolsonaro é pouco claro sobre o que quer fazer e não apresenta um roteiro de prioridades ao Congresso, o que dificulta qualquer debate e planejamento de votação.

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