De qualquer perspectiva que se olhe —com ou sem VAR— foi um salto triplo carpado com rodopio executado à perfeição. Ao escolher o juiz Sergio Moro para pasta da Justiça plus size, Jair Bolsonaro chamou para seu governo um quatro estrelas do esquadrão da Força Simbólica. Ele mesmo um presidente-ideia, o antipetista, o capitão reformado atraiu para Brasília uma outra mensagem de igual força: Moro é representação síntese do combate à corrupção.
Pode parecer que Bolsonaro caiu na armadilha de uma negociação soma zero: perde com a entrada do juiz. O problema estaria no status do novo ministro, que seria indemissível pelo prestígio conquistado. Brasília é uma Asgard burocrática. A caneta presidencial é o martelo de Thor. Nem Moro está imune.
O juiz pode, sim, ser o FHC de Itamar —um personagem maior em busca de seu Plano Real da Corrupção. Por enquanto, só o presidente eleito capitalizou.
No governo, Moro terá que enfrentar, além de mirar os malfeitos da política, as rebeliões de presídios, os crimes financeiros, o tráfico de drogas na fronteira e a parada de armas nos morros. Se a economia patinar e tudo se resumir a giros de carrossel desses dois mitos, com tuítes e operações reprisadas, a opinião pública se cansa e pula o brinquedo.
Chamado de soldado pelo presidente eleito, ele sabe que o teatro de operações do combate à corrupção será na capital.
Moro colocou na cadeia o ex-presidente Lula, o ex-todo-poderoso da Fazenda Antonio Palocci e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. Não quis ser o ex-juiz da Vara Curitiba.
A batalha da Lava Jato não se trava mais em Curitiba. Aí as operações escassearam, os holofotes se apagaram, as narrativas criminais agora envolvem personagens menores, incapazes de alimentar o farfalhar das redes sociais.
Estudioso da Mani Pulite, da qual a Lava Jato é cópia carbono, Moro sabe que na Itália operação foi minada pelo backlash das elites legislativa e judiciária —e quando a cobertura da mídia perdeu intensidade.
No milenar livro "A Arte da Guerra", há uma virtude exigida de bons comandantes: dominar a arte de manipular os deslocamentos dos inimigos.
A Lava Jato entrou em sua fase de recursos. Logo, processos-chave sairão da órbita de Curitiba e do TRF-4. Tudo ocorrerá em outro plano simbólico e material —em Brasília, no Congresso, no Superior Tribunal de Justiça, no Supremo Tribunal Federal. Moro se antecipa. Sempre foi um soldado com uma missão: combater a corrupção.
Com essa transferência, questões essenciais surgirão. A execução da pena após segunda instância será mantida? As delações serão garantidas? O entendimento atual sobre o alcance da lavagem de dinheiro permanecerá íntegro? Apesar da sintonia atual das decisões de Curitiba com a opinião pública, o STF deverá debatê-las, ajustá-las, se assim entender. No campo do direito, não há inimigos. Nem um super Moro pode pensar assim.
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