Governo de PE aluga por R$ 516 mil terreno de tio da primeira-dama para instalar delegacias

Aluguéis de imóveis onde funcionam unidades da Polícia Civil no interior estão atrasados há um ano

João Valadares
Recife

Sem pagar aluguel há um ano de pelo menos 15 imóveis que abrigam unidades da Polícia Civil do interior, o governo de Pernambuco alugou sem licitação por cinco anos, pelo valor de R$ 516 mil, terreno pertencente ao conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado) João Henrique Carneiro Campos para instalação de duas delegacias.

Campos é irmão da sogra do governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), e tio da primeira-dama, a juíza Ana Luiza Câmara. Cecilia Figueiredo Wanderley Câmara, cunhada do governador, tem um cargo comissionado no gabinete do conselheiro.

Em 2011, João Campos foi indicado para o TCE pelo seu primo, o então governador Eduardo Campos, que morreu em acidente aéreo em 2014.

O aluguel do terreno, localizado no bairro do Torreão, zona norte do Recife, assinado no dia 4 de outubro deste ano, prevê prorrogação do prazo e reajuste após 12 meses.

O valor mensal que consta no contrato de locação é de R$ 8,6 mil, o que significa R$ 103,2 mil anualmente. No imóvel, vai funcionar a 2º Delegacia Seccional de Polícia e a Delegacia do Espinheiro. 

O terreno possui 572 metros quadrados, sendo 380 de área construída. 

A locação ocorre no momento em que o governo de Pernambuco enfrenta graves problemas para manter delegacias do interior do estado em funcionamento.

A Delegacia de São José do Egito será fechada após o dono do imóvel conseguir na Justiça reaver o prédio que estava alugado ao governo por falta de pagamento. 

O estado chegou a ficar mais de um ano sem pagar o aluguel e só quitou os débitos após ter sido acionado na Justiça.

O governo procura um novo local para instalação da delegacia e promete não paralisar as investigações. 

O funcionário público Magno Marques é dono do imóvel onde funciona a Delegacia de Salgadinho, no agreste pernambucano.  

“Em 2017, o governo atrasou nove meses, mas quitou. Em 2018, ainda não recebi um mês sequer. Já falei com todo mundo e não adianta.” 

O motorista Antônio Pedro Lima Filho passa pela mesma situação. “Desde 2008, alugou meu imóvel onde funciona a Delegacia de Ferreiros. Estou há um ano sem receber o pagamento”, afirma. 

O proprietário da casa onde funciona a Delegacia de Buíque chegou a colocar uma faixa no imóvel: “Muitos alugueis atrasados. Paguem meu dinheiro e desocupem.”

A Folha levantou atrasos de aluguel de até um ano em unidades da Polícia Civil nos municípios de Paulista, Solidão, Tabira, Carnaíba, Parnamirim, Petrolina, Mirandiba, Salgadinho, Sanharó, Ferreiros, Buíque, Salgadinho, Ferreiros e Santa Cruz do Capibaribe.

Por meio de nota, o conselheiro João Henrique Carneiro Campos informou que, de acordo com o artigo 89 da Lei Orgânica do TCE-PE, não há nenhum impedimento legal em relação ao aluguel. 

“O contrato em questão obedece normas uniformes para todo e qualquer contrato de locação com a administração pública estadual”, explicou.

A Polícia Civil destacou que não existe nenhuma ilegalidade na contratação do imóvel de propriedade de Campos.

“Além de amparado na lei de Licitações e Contratos (nº 8.666), o processo de locação do novo imóvel traz uma economia de R$294.403,80 aos cofres públicos e melhores condições de trabalho aos policiais e atendimento à população”, diz a nota.

Quanto ao pagamento dos alugueis atrasados, a Polícia Civil comunicou que todos os esforços estão sendo feitos no sentido de quitar as dívidas. Há previsão para que os valores sejam pagos até o início de 2019.

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