Com a confirmação do general Walter Souza Braga Netto para o cargo de chefe na Casa Civil, o país volta a ter um militar na liderança do ministério após 39 anos.
O último chefe da pasta oriundo da caserna foi o general Golbery do Couto e Silva, que saiu do cargo em 1981. Ele ocupou a cadeira no final do governo Ernesto Geisel e início do governo João Figueiredo, último presidente da ditadura militar (1964-1985).
Golbery assumiu o ministério em março de 1974, na posse de Geisel, e foi controverso. Figurou entre os principais atores políticos do regime desde o primeiro presidente da ditadura, Castello Branco.
A ele foi dada, em 1964, a chefia do Serviço Nacional de Informações (SNI), principal órgão do aparato de inteligência da ditadura. Golbery se debruçava sobre a doutrina de segurança nacional pelo menos desde 1952, quando tornou-se adjunto do Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra.
O general negava a relação do órgão que chefiava com governos totalitários e chegou a nomeá-lo “Ministério do Silêncio" por conta da recusa de dar entrevistas aos jornais.
É atribuída a ele, então chefe da Casa Civil de Geisel, a articulação que extinguiu o AI-5 (Ato Institucional nº 5), símbolo do período mais repressor da ditadura.
Golbery foi um dos articuladores da chegada de Geisel ao Planalto, em 1974, e manteve um nível de influência no governo que não condizia com a discrição que reservava.
Geisel e seu ministro eram vistos como traidores dos ideais de 1964 e criticados duramente em panfletos anônimos que circulavam nos quartéis. Os papéis atacavam a "vaidade cega" de Geisel e a "ganância insaciável" de Golbery, em geral retratado pendurado numa forca.
O pedido de demissão do general da Casa Civil, em agosto de 1981, causou alvoroço. O momento de reabertura "segura, lenta e gradual" de Figueiredo pareceu ameaçado.
A alegação era de "divergências políticas inconciliáveis", e foi combustível para as incertezas quanto a continuação do processo de redemocratização.
A tese era de que o grupo mais radical no Planalto —à frente o general Otávio Aguiar Medeiros— tenderia a ganhar força e minar as pretensões de abertura para a democracia.
A ida de Braga Netto para a Casa Civil foi enxergada como uma retomada do prestígio da ala militar no governo. Ele é o nono militar no primeiro escalão da gestão e se junta a outros dois generais que despacham no Planalto: Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional).
Os ministros da Casa Civil desde Golbery
- Golbery do Couto e Silva (1974-1981)
- João de Carvalho Oliveira (interino, 1981)
- João Leitão de de Abreu (1981-1985)
- José Hugo Castelo Branco (1985-1986)
- Marco Maciel (1986-1987)
- Ronaldo Costa Couto (1987-1989)
- Luís Roberto Andrade Ponta (1989-1990)
- Marcos Antônio de Salvo Coimbra (1990-1992)
- Henrique Hargreaves (1992-1993)
- Tarcísio Carlos de Almeida Cunha (1993-1994)
- Henrique Hargreaves (1994-1995)
- Clóvis Carvalho (1995-1999)
- Pedro Parente (1999-2003)
- José Dirceu (2003-2005)
- Dilma Rousseff (2005-2010)
- Erenice Guerra (2010)
- Carlos Eduardo Esteves Lima (2010-2011)
- Antonio Palocci (2011)
- Gleisi Hoffmann (2011-2014)
- Aloizio Mercadante (2014-2015)
- Jaques Wagner (2015-2016)
- Luiz Inácio Lula da Silva (2016)
- Eva Chiavon (2016)
- Eliseu Padilha (2016-2019)
- Onyx Lorenzoni (2019-2020)
- Walter Souza Braga Netto (2020)
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