Na TV, jovem apresentador Baleia Rossi pescava, fazia 'merchan' e entregava flores

Programa com o deputado foi exibido por mais de dez anos com formato e público variado

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Mogi das Cruzes (SP)

Uma baleia azul faz um zigue-zague para atravessar uma corrente de bolhas que exibem a imagem de um jovem Baleia Rossi, que pesca, entrevista senhoras e entrega flores. “Programa do Baleia, Baleia, Baleia Rossi”, anuncia a música ao melhor estilo Glub Glub —programa infantil transmitido pela TV Cultura na década de 1990.

A atração exibida naquela década até os anos 2000 tinha como apresentador o hoje deputado federal, presidente nacional do MDB e um dos principais candidatos à presidência da Câmara.

Baleia iniciava a carreira política como vereador em Ribeirão Preto, interior paulista, quando começou a frequentar a TV dos conterrâneos nas manhãs de domingo.

A Folha assistiu a duas edições de períodos diferentes do programa, recuperadas nos backups em fita betacam da Ilha Produção, empresa do irmão do parlamentar, Paulo Luciano Tenuto Rossi, da qual Baleia foi sócio até 2003.

A exemplo da televisão da década de 1990, tinha de tudo um pouco na atração, que carregava no sentimentalismo, nas trilhas sonoras, edição infantil com sua protagonista, a baleia, e muita propaganda para os patrocinadores de cada bloco.

“Em Corumbá, nós pegamos uma chalana maravilhosa que a Iate Milenium... Olha, mas bonita mesmo. Não só bonita: muito boa para pescaria e, principalmente, com conforto e com tudo que o pescador precisa a bordo também.”

Às 11h, lá estava na tela um Baleia, com seus vinte e poucos anos, ao som de uma moda de viola e pronto para a pescaria esportiva no meio do rio São Lourenço, em Mato Grosso do Sul. Para começar, algumas dicas para lidar com as piranhas.

“Soltei minha isca para a piranha não sentir, ou melhor, não escutar o barulho da isca batendo na água”, fala calmamente o apresentador, vestido de boné e camisa azul estampada com a baleia, sempre ela.

“Quando piranha resolve pegar, ela fica no cardume aqui. Bateu a chumbada e a isca na água, o barulho já atrai, ela já vai em cima”, completa, deixando ainda uma dica da culinária pantaneira para finalizar.

“A piranha proporciona uma das receitas que o pescador mais gosta, que é o caldo de piranha”, entonando o nome do peixe carnívoro. “Pescador vem para o Pantanal, se não tiver um caldinho de piranha ele não fica satisfeito.”

De camisa azul, óculos e boné, Baleia segura um peixe grande com as duas mãos
Baleia Rossi apresentando o Programa do Baleia, atração exibida entre a década de 1990 e os anos 2000 - Reprodução

Primeiro, Baleia exibe um pintadinho. Depois encontra a equipe mais a frente no rio para mostrar o jaú amarelado, diferente do encontrado no paranazão, que é preto, diz. Por último, o barbadinho, que se debate nas mãos do apresentador certo de que a captura seria seu fim.

“Ele nem acredita que viu água outra vez”, diz Baleia ao devolver o peixe para o rio.

Com uma retrospectiva da pesca intercalada com imagens do pantanal, toca a música que fecha o bloco.

“Quando bate a saudade e as lembranças queimam como o sol, eu sinto falta da natureza, das pescarias de linha e anzol. Eu mando embora a tristeza, sentindo de perto toda essa magia, assistindo no [sic] Programa do Baleia, Pesca e Ecologia.”

Antes de seguir com as atrações, lá vai novamente o recado para o telespectador: “só falar com Daniela ou Douglas da Iati Milenium… oh, assisti no programa do Baleia e quero ter mais informações sobre essa maravilha”.

A divulgação de instituições de assistência social —marca do mandato do parlamentar lembrada por quem mora na cidade— também estava presente no programa com o quadro Exemplo a ser seguido.

Era nele que Baleia, segurando um microfone simples, entrevistava líderes locais, voluntários e a população beneficiada pelas iniciativas.

Antes que o cantor Netinho de Paula levasse ao ar o Um dia de Princesa —quadro exibido nos anos 2000 em que uma jovem era levada de limousine para um banho de loja em um shopping local e uma sessão no cabeleireiro—, lá estava Baleia promovendo um salão da cidade no quadro Espelho Mágico, que tinha até caixa postal.

Mas a emoção do dominical ficava por conta do último quadro —Você é especial— em que, munido de um buquê de flores, Baleia visitava a homenageada da vez, lendo uma carta enviada ao programa por amigos, família ou outros admiradores.

Na versão dos anos 1990, o quadro era acompanhado de uma trilha de saxofone para Kenny G não botar defeito e encerrado com uma moldura de margaridas enfeitando a tela.

Baleia falando ao microfone e segurando um buquê de flores
Baleia Rossi apresentando o Programa do Baleia, atração exibida entre a década de 1990 e os anos 2000 - Reprodução

Anos mais tarde, já na fase deputado estadual, o programa ganhou espaço nas noites da TV Record, investiu na edição, com uma marca d’água azul simulando o mar que aparecia na tela para anunciar o nome dos entrevistados, e um selo personalizado, com uma baleia em 3D bem mais realista que o mamífero da década passada.

O tom descontraído deu lugar à seriedade de uma atração quase jornalística. O cenário com figuras de pescaria e flores foi substituído por um escritório com poltronas para os entrevistados em estúdio. A abertura com a baleia entre as bolhas foi trocada por uma vinheta ao estilo plantão noticioso.

No lugar de um Baleia jovem, que jogava o pescoço para trás enquanto gesticulava —com seu penteado Celso Portiolli—, um deputado de camisa e gravata, com um “boa noite” no padrão Jornal Nacional, lendo com seriedade para a câmera o editorial da vez.

Com cerca de 18 minutos de programa, diante de mais de meia hora na versão anterior da atração, o espaço para quadros mais leves foi reduzido.

No programa assistido pela reportagem, o Você é Especial estava lá, com Baleia levando seu buquê de flores e uma carta emocionada, mas repaginado com uma uma trilha sonora mais suave e uma imagem final simulando um mural de fotos numa moldura de cortiça.

A maior parte da atração era dedicada a uma entrevista sobre um tema do momento feita pelo parlamentar, como o programa cultura viva, da gestão de Gilberto Gil no antigo Ministério da Cultura, no governo de Lula, que tinha como proposta desburocratizar repasses para organizações da sociedade civil do setor.

A produtora e a assessoria do deputado não souberam precisar a data em que o programa foi exibido. Segundo a empresa do irmão de Baleia, foram mais de 10 anos no ar, com retransmissão pela afiliada da TV Bandeirantes no interior, para mais de 200 cidades, e também pela extinta TV Manchete.

Em agosto do ano passado, Baleia fez uma publicação nas redes sociais compartilhando algumas cenas do Programa do Baleia e seus quadros para marcar o Dia da Televisão, que no mês seguinte completou 70 anos no Brasil.

O post ganhou centenas de curtidas e dezenas de comentários de seguidores que desconheciam essa faceta do parlamentar ou de antigos telespectadores. “Como era bom esse programa”, escreveu uma seguidora, pontuando com um coração. “Boas lembranças”, agradece Baleia, com um emoji do mascote.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.