Em TV da Itália, Lula pede desculpas 'ao povo italiano' por não ter extraditado Cesare Battisti

Petista volta a demonstrar arrependimento pelo caso e diz que seguiu orientação do Ministério da Justiça

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São Paulo

O ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu desculpas à população italiana por não ter extraditado Cesare Battisti, ex-membro do grupo Proletários Armados pelo Comunismo, que foi condenado na Itália por assassinato e se refugiou no Brasil.

"Peço desculpas ao povo italiano, pensei que ele não era culpado, mas depois de sua confissão, só posso me desculpar", disse o petista, em entrevista concedida na tarde desta sexta-feira (9) à TG2 Post.

"Enganei-me ”, disse Lula, que já havia demonstrado arrependimento anteriormente em relação ao caso.

"Tomei a decisão baseado em uma orientação do Ministério da Justiça", afirmou, em referência à equipe do então ministro Tarso Genro. "E pensei que era uma decisão correta porque achei que era inocente", completou.

Entrevista do ex-presidente Lula à TV italiana - Reprodução

Battisti foi entregue à Itália durante o governo de Jair Bolsonaro.

No último dia de seu mandato, em 2010, o petista concedeu asilo ao italiano. Battisti foi preso na Bolívia por agentes da Interpol em janeiro de 2019, e extraditado para a Itália, onde cumpre prisão perpétua.

Em agosto do ano passado, Lula afirmou em um programa de debates da TV Democracia que se arrependeu de ter defendido Battisti.

"Hoje, acho que, assim como eu, todo mundo da esquerda brasileira que defendeu Cesare Battisti aqui ficou frustrado, ficou decepcionado. Eu não teria nenhum problema de pedir desculpas à esquerda italiana e às famílias do Battisti", disse Lula na ocasião.

O ex-presidente alegou que seu então ministro Tarso Genro, assim como outros líderes da esquerda brasileira, estavam convencidos da inocência de Battisti, acrescentando que o italiano enganou "muita gente no Brasil".

"Não sei se enganou muita gente na França, mas na verdade muita gente achava que ele era inocente. Nós cometemos esse erro, pediremos desculpas", declarou Lula, que lamentou que o caso tenha "comprometido" suas boas relações com o governo italiano e "com toda a esquerda italiana e a esquerda europeia".

Tarso já havia cobrado uma autocrítica do Brasil depois que Battisti admitiu em março de 2019 a participação em quatro homicídios cometidos no final dos anos 1970, quando era expoente de um dos tantos grupos armados da esquerda (havia também os de direita) que se insurgiram contra o Estado.

Nesta sexta, Lula também pediu desculpas ao "camarada Napolitano" durante a entrevista à TV italiana. Após a prisão de Battisti, o petista foi alvo de muitas críticas de seu aliado histórico, o ex-presidente italiano Giorgio Napolitano, ícone da centro-esquerda e que conhece Lula desde os anos 1980.

“Tenho muitos amigos na política italiana, nos sindicatos, na igreja”, afirmou Lula.

O ex-presidente criticou ainda a gestão do governo Bolsonaro em relação a pandemia de Covid-19 no Brasil, que já matou mais de 330 mil pessoas e está em sua fase mais dura, atingindo mais de 4.000 mortes diárias.

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