'Não irei comentar por questão de disciplina intelectual', diz Mourão sobre decisão do Exército de livrar Pazuello

'Como general da reserva também sou subordinado ao Comandante do Exército brasileiro', afirmou à Folha

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Brasília

O vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, afirmou à Folha que por "questão de disciplina intelectual" não irá comentar a decisão do Exército de não punir o general da ativa Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, por ter participado de um ato com o presidente no Rio de Janeiro.

"Não irei comentar por uma questão de disciplina intelectual, pois como general da reserva também sou subordinado ao Comandante do Exército brasileiro", afirmou Mourão, ao ser questionado sobre a decisão.

Dias após o ato no Rio, ocorrido em 23 de maio, Mourão declarou que uma eventual punição de Pazuello teria por objetivo “evitar que a anarquia se instaure dentro das Forças Armadas”.

“A regra tem que ser aplicada para evitar que a anarquia se instaure dentro das Forças. Assim como tem gente que é simpática ao governo, tem gente que não é", disse naquela ocasião.

Ocomando do Exército anunciou nesta quinta-feira (3) que Pazuello, ex-ministro da Saúde, não sofrerá punição por ter participado de um ato com o presidente Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro.

Em nota, é informado que "o Comandante do Exército analisou e acolheu os argumentos apresentados por escrito e sustentados oralmente pelo referido oficial-general".

"Desta forma, não restou caracterizada a prática de transgressão disciplinar por parte do general Pazuello. Em consequência, arquivou-se o procedimento administrativo que havia sido instaurado", diz a nota.​

No começo da semana, o comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, já sinalizava a colegas de farda que integram o Alto Comando que a possibilidade de não punir Pazuello estava na mesa de discussões.

Oliveira alegou que a pressão feita pelo presidente Jair Bolsonaro era um fator relevante e poderia ser decisivo para não punir o general da ativa, ex-ministro da Saúde.

Diante da possibilidade, concretizada nesta quinta, discutiu-se, então, uma passagem imediata de Pazuello à reserva. Este movimento, porém, dependeria do próprio general, que já havia dito a integrantes do Alto Comando que não tomaria essa iniciativa enquanto durar a CPI da Covid no Senado, onde é um dos principais alvos.

No dia 23 de maio, Pazuello subiu sorridente ao carro de som onde estava Bolsonaro. Pouco antes houve um passeio de moto com apoiadores, do Parque Olímpico ao aterro do Flamengo. O percurso teve 40 quilômetros. Ao fim, houve discurso aos apoiadores.

O decreto de 2002 que institui o regulamento disciplinar do Exército prevê como transgressão disciplinar a manifestação política por militar da ativa.

Os diferentes discursos sobre o ato no Rio

18.mai
Jair Bolsonaro, em mensagem em vídeo publicado pelo deputado Otoni de Paula (PSC-RJ)

  • “Amigos do Rio de Janeiro, no próximo domingo, dia 23, juntamente com o [deputado] Otoni de Paula, vamos dar um passeio de moto no Rio de Janeiro. Fui convidado por várias associações e agora vou neste compromisso, motivo de honra e satisfação, voltar ao nosso querido Rio de Janeiro. Até domingo, se Deus quiser”


23.mai
Jair Bolsonaro, em manifestação com motoqueiros no Rio de Janeiro, no dia 23 de maio

  • “Um momento como este não tem preço. Ser reconhecido e ser, porque não dizer, aplaudido por parte da população apesar das dificuldades”
  • “Vamos sim, cada vez mais, fazendo com que as pessoas eleitas por você melhorem a sua qualidade. E nós temos este compromisso”
  • “Imaginem se o poste tivesse sido eleito presidente da República [referência a Fernando Haddad]. Como estaria nosso Brasil no dia de hoje?”

Eduardo Pazuello, em manifestação com motoqueiros no Rio de Janeiro, no dia 23 de maio

  • “Eu não ia perder esse passeio de moto de jeito nenhum. Tamo junto, hein? Tamo junto. Parabéns pra galera que está aí, prestigiando o PR [presidente]. PR é gente de bem. PR é gente de bem. Abraço, galera”

Flávio Bolsonaro, em rede social

  • “Hoje foi mais um dia histórico! Apesar de todo esse apoio, não são os brasileiros que estão com Bolsonaro, é o presidente que está com o povo”
  • “A melhor pesquisa eleitoral é o povo, ao qual [sic] o presidente nunca saiu do lado! [...] Verdadeira festa da democracia!!”

Carlos Bolsonaro, em rede social

  • “Obrigado a todos pelo apoio gigantesco que oferecem ao meu pai! Isso certamente jamais será desconsiderado!”

Mario Frias, em rede social

  • “O DATAPOVO informa: não adianta chorar. É o presidente mais amado da história!!!”

27.mai
Jair Bolsonaro, em live semanal

  • “É um encontro que não teve nenhum viés político, até porque eu não estou filiado a partido político nenhum ainda. Foi um movimento pela liberdade, pela democracia e apoio ao presidente”

3.jun
Jair Bolsonaro, em live semanal

  • “A punição existe nas Forças Armadas. Ninguém interfere, a decisão é do comandante da unidade. E a disciplina só existe porque nosso código disciplinar é bastante rígido”
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