O vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) minimizou nesta quarta-feira (23) os recentes relatos de que pastores sem cargo público negociam transferências de recursos no MEC (Ministério da Educação) e defendeu que o caso precisa ser melhor esclarecido.
"Minha visão a respeito do trabalho do ministro [da Educação,] Milton [Ribeiro] é que ele é uma pessoa honesta, tem honestidade de propósito, uma pessoa extremamente educada e cautelosa nas coisas", disse Mourão, ao chegar em seu gabinete no complexo do Palácio do Planalto.
"Então eu acho que tem que esclarecer melhor essa coisa aí para se chegar a uma conclusão do que realmente ocorreu e se realmente houve algo que não seja realizado dentro dos princípios da administração pública."
Na segunda (21), a Folha revelou uma conversa gravada em que Milton Ribeiro afirma que o governo federal prioriza prefeituras cujos pedidos de liberação de verba foram negociados por dois pastores que não têm cargo e atuam em um esquema informal de obtenção de verbas do MEC.
Na gravação, o ministro diz ainda que isso atende a uma solicitação do presidente Bolsonaro e menciona pedidos de apoio que seriam supostamente direcionados para construção de igrejas. A atuação dos pastores junto ao MEC foi revelada anteriormente pelo jornal O Estado de S. Paulo.
"Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar", diz o ministro na conversa em que participaram prefeitos e os dois religiosos.
Os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura têm, ao menos desde janeiro de 2021, negociado com prefeituras a liberação de recursos federais para obras de creches, escolas, quadras ou para compra de equipamentos de tecnologia.
Nesta terça-feira, a pressão sobre o ministro da Educação atingiu grau crítico após a revelação do áudio pela Folha.
Enquanto Ribeiro cancelou sua agenda em São Paulo e divulgou nota para minimizar a atuação do presidente da República no caso, integrantes da oposição acionaram órgãos de fiscalização, pediram a convocação do ministro e a abertura de uma CPI para apurar os fatos.
O ministro da Educação é evangélico e pastor, mas até mesmo integrantes da bancada evangélica no Congresso cobraram explicações, e alguns deles cogitavam a substituição de Ribeiro do posto de comando na pasta.
Os dois pastores têm proximidade com Bolsonaro desde o primeiro ano do governo. Em 18 de outubro de 2019, participaram de evento no Palácio do Planalto com o presidente e ministros.
O ministro negou em nota divulgada na tarde desta terça ter determinado alocação de recursos para favorecer qualquer município. Ribeiro afirma que Bolsonaro não teria pedido para que os pleitos dos pastores fossem atendidos, mas somente que todos os indicados por eles fossem atendidos.
Questionado sobre o tema na manhã desta quarta, Mourão blindou Milton Ribeiro e disse que, no momento, não é possível emitir um juízo de opinião sobre as denúncias.
"É uma gravação, você não sabe se aquilo está editado ou não. Por isso que a gente não pode a priori chegar e emitir um juízo de valor", declarou o vice.
Ele afirmou ainda não ver problemas na permanência de Ribeiro no governo, apesar das revelações sobre a atuação dos pastores.
"Enquanto não houver um esclarecimento bem bom a respeito disso daí, eu acho que não há problema ele continuar no governo. Até pela forma como o ministro se comporta. Eu tenho profundo respeito por ele".
Para Mourão, as informações até o momento reveladas são apenas "indícios".
"Tem que ver qual o valor que foi executado, se realmente houve tráfico de influência. Se esses recursos que foram distribuídos estavam fora de um planejamento que já havia."
"Se foram executados de forma correta, então tem uma porção de coisas que tem que ser verificada para que a gente possa chegar e dizer: 'olha, isso aí realmente está totalmente errado'", disse o vice-presidente.
"Isso aí tudo por enquanto são indícios. Quando se confirmar, aí a gente pode tomar uma posição mais clara."
Além da gravação em que Milton Ribeiro cita Bolsonaro, o prefeito Gilberto Braga (PSDB), do município maranhense de Luis Domingues, afirmou que um dos pastores que negociam transferências de recursos federais para prefeituras pediu 1 kg de ouro para conseguir liberar verbas da educação para a cidade.
Segundo o gestor, o pedido foi feito em um restaurante de Brasília na presença de outros políticos. A declaração do prefeito foi dada ao jornal O Estado de S. Paulo, e a Folha confirmou com outras duas pessoas presentes no local onde o pedido de propina foi feito.
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