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PF isola área na margem de rio em possível rota de lancha de desaparecidos

Indigenista Bruno Pereira e jornalista britânico Dom Phillips não são vistos desde 5 de junho

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Atalaia do Norte (AM)

Depois da sinalização de um indígena mayoruna, da terra indígena Vale do Javari (AM), a Polícia Federal isolou uma área na margem do rio Itaquaí pela qual a embarcação onde estavam o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips pode ter passado.

Pereira e Phillips estão desaparecidos desde 5 de junho.

A reportagem da Folha estava percorrendo o rio na tarde deste sábado (11) quando flagrou o momento em que policiais federais avançaram por um igapó —área de mata inundada por água, à margem do rio— para uma perícia inicial do local. Os agentes isolaram o trecho onde existe a suspeita de passagem da lancha dos desaparecidos com uma fita amarela.

A ação de isolamento e a perícia inicial durou cerca de uma hora.

Policiais Federais realizam perícia e isolam uma parte da margem do rio Itaquaí, onde surgiu uma suspeita de que o barco onde estavam Bruno e Dom Philips poderia ter entrado - Pedro Ladeira/Folhapress

A suspeita de indígenas, relatada à Folha com o auxílio de tradutores, é que a embarcação usada por Pereira e Phillips pode ter perdido a direção, após um possível ataque, e ter avançado pelo igapó de forma descontrolada.

Os indígenas da região integram o trabalho de vigilância e buscas feito pela Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari). Pereira é servidor licenciado da Funai (Fundação Nacional do Índio) e colaborador da Univaja.

Um mayoruna constatou que o mato no local estava danificado como se tivesse ocorrido um movimento brusco de um objeto de grande porte, o que levou à comunicação do episódio aos coordenadores das buscas empreendidas pelos indígenas.

As autoridades responsáveis pelas investigações foram contatadas para periciar o local, o que levou ao isolamento da área. Trata-se de uma das diligências mais ostensivas feitas até agora pela PF desde o desaparecimento de Pereira e Phillips.

Fontes da PF ouvidas reservadamente confirmaram a suspeita de que o barco pode ter entrado no local.

Segundo essas fontes, a embarcação não está na área isolada. O passo seguinte é tentar descobrir onde ela pode estar.

O local foi isolado para que a perícia continue nos dias seguintes.

O ponto isolado pela PF fica a uma hora de barco de Atalaia do Norte (AM), cidade na região da tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia.

Era Atalaia o destino final planejado pelo indigenista e pelo jornalista antes do desaparecimento.

Segundo as primeiras investigações policiais, os dois foram vistos pela última vez na altura da comunidade de Cachoeira, às margens do rio, onde vivem cerca de 15 famílias de pescadores e pequenos agricultores.

Os relatos de testemunhas relacionadas aos últimos momentos em que Pereira e Phillips foram vistos se tornaram elementos de prova sobre a suposta participação de Amarildo Oliveira, o Pelado, no desaparecimento.

Pelado vive numa comunidade vizinha, a São Rafael, e teria sido visto em uma outra embarcação atrás do barco usado pela dupla, na altura de Cachoeira.

O local isolado pela PF não bate com esses relatos. Descendo o rio, como a dupla desaparecida fazia no domingo rumo a Atalaia do Norte, o ponto de interesse da PF é anterior à comunidade de Cachoeira. Se uma lancha desapareceu no ponto isolado, ela não teria passado pela comunidade.

O trabalho da PF foi feito numa parceria com indígenas que vêm empreendendo as buscas por qualquer vestígio relacionado a Pereira e Phillips. No momento do isolamento, os indígenas estavam em duas embarcações usadas no projeto de vigilância mantido pela Univaja. Uma dessas canoas foi utilizada pela policial federal para isolar o local.

A área em questão não está dentro da terra demarcada, onde vivem os indígenas envolvidos nos trabalhos.

Após a aproximação de policiais federais, que entraram no igapó, também chegaram embarcações da Polícia Militar do Amazonas, da própria PF e do Exército.

O trabalho é lento; e indígenas e integrantes de associações reclamam da falta de coordenação dos órgãos envolvidos.

A Polícia Federal afirmou na quinta (9) que encontrou vestígio de sangue no barco de Pelado. O material será cruzado com elementos de DNA de Pereira e Phillips.

Equipes de busca localizaram no rio Itaquaí, nas proximidades do porto de Atalaia do Norte, material orgânico aparentemente humano, também encaminhado para perícia.

A Justiça do Amazonas acatou pedido da PF e decretou a prisão temporária de Pelado por 30 dias. Dias antes, ele havia sido preso, mas sob acusação de manter munição de fuzil e calibre 16, que são de uso restrito.

A família de Pelado diz que ele não tem qualquer envolvimento com o desaparecimento, com atividades criminosas e com armamento ilegal.

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