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Governo Bolsonaro Eleições 2022

Bolsonaro ameaça fazer discurso normal de candidato, mas não se aguenta

Presidente atendeu estrategistas e falou de seu governo, mas no final atacou STF

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Rio de Janeiro

Parecia que Jair Bolsonaro (PL) faria um discurso "normal" de candidato, falando bem de seu governo e mal dos adversários, ainda que usando termos duros. Mas o presidente não se segurou e teve que atacar o Supremo e jogar desconfiança sobre as urnas eletrônicas em evento que confirmou que será candidato à reeleição.

Em termos bolsonaristas, foram críticas até relativamente breves, é verdade, e menos agudas do que ele já cometeu.

O presidente Jair Bolsonaro, com sua esposa Michele, no lançamento de sua candidatura à reeleição durante a Convenção Nacional do Partido Liberal, no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro - Eduardo Anizelli/Folhapress

Os sinais enganosos de que havia um novo clima no ar começaram cedo, com uma inusitada homenagem à vilanizada urna eletrônica, com o característico "piiiiii" da confirmação de voto seguindo o nome de cada autoridade anunciada pelo locutor.

As faixas de ameaça ao STF também foram escassas, com a maior dela, dizendo que "o Supremo está abaixo do povo", sintomaticamente estendida no chão durante boa parte do tempo.

Bolsonaro seguiu durante grande parte de seu longo discurso o roteiro imaginado por seus marqueteiros e assessores. Acenou às mulheres, até com um certo exagero. A ex-ministra Tereza Cristina (Agricultura) foi a única a ter a deferência de ser chamada por ele a estar a seu lado no palco.

Também fez incontáveis referências ao Nordeste, "tão esquecido pelos que dizem amar o povo de lá". Falou diretamente aos jovens, dizendo que seu acesso às redes sociais estaria ameaçado pela regulação defendida pela esquerda.

Ainda citou obras emblemáticas de seu governo, como a pavimentação da BR-163 e a ferrovia Norte-Sul e acenou aos liberais, reiterando que "Estado forte é povo fraco".

Tudo dentro do que se espera do figurino de um candidato, assim como está dentro das quatro linhas de qualquer campanha ir para cima do adversário –no caso, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A ofensiva foi pesada, sem dúvida, associando o ex-presidente ao perigo comunista, à bandidolatria, à liberação do aborto, à ideologia de gênero e, claro, à corrupção. Num momento especialmente grosseiro, chamou-o de "cachaceiro e descondenado".

O discurso já se encaminhava para a parte final quando Bolsonaro teve sua recaída. Primeiro, de maneira esperta, evitou criticar o STF diretamente, dando a deixa para que a plateia vaiasse com força os ministros da corte.

Em seguida, numa estratégia clara de buscar isolar o Judiciário, disse que Executivo e Legislativo são "Poderes irmãos".

Não foi à toa a profusão de elogios de Bolsonaro ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), um dos mais aplaudidos no evento.

O presidente transformou-o em sócio de seu governo e das vitórias legislativas que teve e deixou claro que conta com a ajuda de Lira nos embates eleitorais e pós-eleitorais que se avizinham.

Pior viria com a afirmação de que há "11 surdos de capa preta" no Supremo,, ou a referência de que o Exército "não admite fraude e quer transparência", uma óbvia referência à urna que havia sido homenageada pouco antes.

Nada que incendiasse o ambiente, no entanto, como a convocação para a população ir às ruas no 7 de Setembro, dando a vida e o sangue pela defesa da liberdade. Talvez como um ato falho, pediu que as pessoas se manifestassem em defesa de seu governo "uma última vez".

O pronunciamento, no fim, teve um pouco para todos os componentes do vasto guarda-chuva bolsonarista.

Estrategistas mais racionais (sim, eles existem) ficaram satisfeitos com a ênfase dada a ações de seu governo e os acenos aos grupos demográficos em que o presidente come poeira. Embora preferissem que os ataques mais virulentos não tivessem ocorrido, avaliaram que conseguiram evitar um tom abertamente golpista.

Já o centrão e a velha política, representados no evento por figuras como Lira, o ex-presidente Fernando Collor e o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, entre outros, ouviram palavras de agradecimento pelo apoio congressual.

A ala ideológica, por sua vez, refestelou-se com as referências ao comunismo e aos temas da agenda cultural. E todos, claro, apreciaram os ataques a Lula.

Mas ninguém saiu tão satisfeito quanto os que apostam em confusão. Por um momento, parecia que o presidente os havia abandonado, mas Bolsonaro estava lá, só esperando para voltar a ser Bolsonaro.

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