As recentes pesquisas de intenção de voto do Datafolha mostram que os dois principais candidatos a presidente, Lula e Bolsonaro, têm aumentado a fração dos votos espontâneos destinados a eles. Em maio, eles tinham um pouco mais de 60% dos votos (Lula 37,6%, Bolsonaro 22,5%).
Em agosto, eles detinham quase 68% dos votos espontâneos (Lula 39,5%, Bolsonaro 28%). O aumento de 8 pontos percentuais deve-se sobretudo ao aumento de 5,5 pp nas intenções de voto em Bolsonaro nos últimos três meses.
Para além do fato de Bolsonaro ter tido quase o triplo do crescimento que Lula teve no mesmo período (1,9 pp), há um importante aspecto a ser levado na análise das intenções de voto e sua dinâmica nos últimos três meses. Referimo-nos aos determinantes do voto em cada um desses dois candidatos.
Há pouquíssima variação desde maio no perfil dos eleitores entrevistados pelo Datafolha. Olhando para os dados de agosto, temos que 42,8% estão na região Sudeste, 14,5% no Sul, 27,2% no Nordeste, 7,4% no Centro-Oeste e 8,1% no Norte.
Há 42% sem o ensino médio completo, 35,8% pararam no médio e 22,2% têm pelo menos algum ano cursado no ensino superior. A idade média é de 43 anos, 52% são mulheres, e 56,2% são negros.
Em termos de distribuição de renda familiar, 29,7% têm até um salário-mínimo, 23,3% entre 1 e 2, 18,1% entre 2 e 3, 16,8% entre 3 e 6, 8,7% entre 6 e 12, e 3,3% têm mais do que 12 salários-mínimos mensais. Quanto à religião, enfatizamos aqui apenas uma clivagem, embora a pesquisa seja bem ampla quanto a essa questão: de todos os entrevistados, 25% podem ser classificados como evangélico.
Em recente estudo, procuramos entender como religião, raça e gênero contribuem para a intenção de voto em Lula e em Bolsonaro. Os efeitos que encontramos não se confundem com os de renda, região, escolaridade e idade.
Nossa modelagem permite dizer como as características em destaque (religião, raça e gênero) afetam a intenção de voto para grupos de eleitores na mesma região, com idades similares, nas mesmas faixas de renda e níveis de escolaridade.
Em maio, olhando para grupos homogêneos de escolaridade, renda, região e idade, o eleitor negro declarava, em média, intenção de votar em Lula 4 pp maior do que o não negro, e o não evangélico 16,9 pp maior do que o evangélico.
Homens e mulheres não diferiam entre si quanto à intenção de votar em Lula. Esses números em agosto são 6,6 pp a mais entre negros do que entre não negros, 19 pp entre não evangélicos do que entre evangélicos e 3,5 pp a mais entre homens do que entre mulheres. Ou seja, a diferença na intenção de voto em Lula dentro dos agrupamentos de raça, religião e gênero aumentou nos últimos três meses.
Em maio, para grupos homogêneos de escolaridade, renda, região e idade, em média, o eleitor negro não diferia do não negro no que diz respeito à intenção de votar em Bolsonaro. Contudo, homens tinham 8 pp a mais de chance de declarar intenção de voto em Bolsonaro do que mulheres, e evangélicos 15 pp a mais do que não evangélicos.
Esses números em agosto são 5,5 pp a mais entre não negros do que entre negros, 19,3 pp entre evangélicos do que entre não evangélicos e 6,4 pp a mais entre homens do que entre mulheres. A diferença na intenção de voto em Bolsonaro, dentro dos agrupamentos de raça e religião, aumentou nos últimos três meses.
A fim de aprofundar a análise, olhamos para a intersecção de raça, gênero e religião. Decompondo os 25% que se declararam evangélicos em quatro grupos de raça e gênero, vemos que em agosto, estão distribuídos da seguinte forma: homens negros são 7,1%; mulheres negras são 8,7%; homens não negros são 4%; e mulheres não negras são 5,3%. Já os demais 75% de eleitores que não são evangélicos se distribuem em homens negros, 19,8%; mulheres negras, 20,6%; homens não negros, 17,2%; e mulheres não negras, 17,4%.
Dois resultados chamam muito a atenção. Novamente, olhando para grupos sociodemográficos homogêneos, entre maio e agosto: para as mulheres evangélicas e não negras houve um aumento de 14 pp na intenção de voto em Bolsonaro e uma queda de 10 pp na do voto em Lula. Entre mulheres não negras e não evangélicas, Bolsonaro conquistou 4 pp de intenção de voto, sem contrapartida de mudança relevante na intenção de voto em Lula.
Nossos resultados também mostram que o mais forte previsor de nossos modelos de intenção de voto é a religião. Sozinha, ela explica até 40% da intenção de voto em Lula e um terço do voto em Bolsonaro.
As intenções de voto costumam mudar ao longo da campanha. Contudo, parece sobrar pouco espaço para surpresas até o dia 2 de outubro dado o pouco tempo até as eleições, o número relativamente pequeno de eleitores que não pretendem votar em Lula ou Bolsonaro e o recrutamento ativo de votos dentro de grupos específicos de raça, gênero e religião por esses dois candidatos.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.