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Eleições 2022 Pesquisa eleitoral

Religião explica mais de 1/3 dos votos em Lula e Bolsonaro

Estudo de pesquisadores do Insper mostra que raça e gênero também determinam a escolha entre os dois principais candidatos

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Sergio Firpo

Professor de economia, coordenador do Centro de Ciência de Dados do Insper e colunista da Folha

Clarice Martins

Pesquisadora do Insper

As recentes pesquisas de intenção de voto do Datafolha mostram que os dois principais candidatos a presidente, Lula e Bolsonaro, têm aumentado a fração dos votos espontâneos destinados a eles. Em maio, eles tinham um pouco mais de 60% dos votos (Lula 37,6%, Bolsonaro 22,5%).

Em agosto, eles detinham quase 68% dos votos espontâneos (Lula 39,5%, Bolsonaro 28%). O aumento de 8 pontos percentuais deve-se sobretudo ao aumento de 5,5 pp nas intenções de voto em Bolsonaro nos últimos três meses.

Para além do fato de Bolsonaro ter tido quase o triplo do crescimento que Lula teve no mesmo período (1,9 pp), há um importante aspecto a ser levado na análise das intenções de voto e sua dinâmica nos últimos três meses. Referimo-nos aos determinantes do voto em cada um desses dois candidatos.

LULA X BOLSONARO
O ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro, líderes nas pesquisas eleitorais - Marlene Bergamo/Folhapress e Adriano Machado/Reuters

Há pouquíssima variação desde maio no perfil dos eleitores entrevistados pelo Datafolha. Olhando para os dados de agosto, temos que 42,8% estão na região Sudeste, 14,5% no Sul, 27,2% no Nordeste, 7,4% no Centro-Oeste e 8,1% no Norte.

Há 42% sem o ensino médio completo, 35,8% pararam no médio e 22,2% têm pelo menos algum ano cursado no ensino superior. A idade média é de 43 anos, 52% são mulheres, e 56,2% são negros.

Em termos de distribuição de renda familiar, 29,7% têm até um salário-mínimo, 23,3% entre 1 e 2, 18,1% entre 2 e 3, 16,8% entre 3 e 6, 8,7% entre 6 e 12, e 3,3% têm mais do que 12 salários-mínimos mensais. Quanto à religião, enfatizamos aqui apenas uma clivagem, embora a pesquisa seja bem ampla quanto a essa questão: de todos os entrevistados, 25% podem ser classificados como evangélico.

Em recente estudo, procuramos entender como religião, raça e gênero contribuem para a intenção de voto em Lula e em Bolsonaro. Os efeitos que encontramos não se confundem com os de renda, região, escolaridade e idade.

Nossa modelagem permite dizer como as características em destaque (religião, raça e gênero) afetam a intenção de voto para grupos de eleitores na mesma região, com idades similares, nas mesmas faixas de renda e níveis de escolaridade.

Em maio, olhando para grupos homogêneos de escolaridade, renda, região e idade, o eleitor negro declarava, em média, intenção de votar em Lula 4 pp maior do que o não negro, e o não evangélico 16,9 pp maior do que o evangélico.

Homens e mulheres não diferiam entre si quanto à intenção de votar em Lula. Esses números em agosto são 6,6 pp a mais entre negros do que entre não negros, 19 pp entre não evangélicos do que entre evangélicos e 3,5 pp a mais entre homens do que entre mulheres. Ou seja, a diferença na intenção de voto em Lula dentro dos agrupamentos de raça, religião e gênero aumentou nos últimos três meses.

Em maio, para grupos homogêneos de escolaridade, renda, região e idade, em média, o eleitor negro não diferia do não negro no que diz respeito à intenção de votar em Bolsonaro. Contudo, homens tinham 8 pp a mais de chance de declarar intenção de voto em Bolsonaro do que mulheres, e evangélicos 15 pp a mais do que não evangélicos.

Esses números em agosto são 5,5 pp a mais entre não negros do que entre negros, 19,3 pp entre evangélicos do que entre não evangélicos e 6,4 pp a mais entre homens do que entre mulheres. A diferença na intenção de voto em Bolsonaro, dentro dos agrupamentos de raça e religião, aumentou nos últimos três meses.

A fim de aprofundar a análise, olhamos para a intersecção de raça, gênero e religião. Decompondo os 25% que se declararam evangélicos em quatro grupos de raça e gênero, vemos que em agosto, estão distribuídos da seguinte forma: homens negros são 7,1%; mulheres negras são 8,7%; homens não negros são 4%; e mulheres não negras são 5,3%. Já os demais 75% de eleitores que não são evangélicos se distribuem em homens negros, 19,8%; mulheres negras, 20,6%; homens não negros, 17,2%; e mulheres não negras, 17,4%.

Dois resultados chamam muito a atenção. Novamente, olhando para grupos sociodemográficos homogêneos, entre maio e agosto: para as mulheres evangélicas e não negras houve um aumento de 14 pp na intenção de voto em Bolsonaro e uma queda de 10 pp na do voto em Lula. Entre mulheres não negras e não evangélicas, Bolsonaro conquistou 4 pp de intenção de voto, sem contrapartida de mudança relevante na intenção de voto em Lula.

Nossos resultados também mostram que o mais forte previsor de nossos modelos de intenção de voto é a religião. Sozinha, ela explica até 40% da intenção de voto em Lula e um terço do voto em Bolsonaro.

As intenções de voto costumam mudar ao longo da campanha. Contudo, parece sobrar pouco espaço para surpresas até o dia 2 de outubro dado o pouco tempo até as eleições, o número relativamente pequeno de eleitores que não pretendem votar em Lula ou Bolsonaro e o recrutamento ativo de votos dentro de grupos específicos de raça, gênero e religião por esses dois candidatos.

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