Campanha do PSDB em SP tem crise de estrutura e até tiro para cobrar mais verba

Episódio de tiro na sede da sigla evidenciou descontentamento entre aliados de Rodrigo Garcia

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São Paulo

Candidatos do PSDB em São Paulo e aliados da coligação estadual têm se queixado de que o partido não cumpre o prometido em relação a repasses de verbas e à estrutura para suas campanhas.

O governador Rodrigo Garcia (PSDB) conseguiu formar uma aliança de dez legendas em torno da sua tentativa de reeleição, mas a direção estadual tucana agora enfrenta uma série de cobranças.

O episódio mais notável da crise foi o tiro disparado na sede do PSDB-SP pelo deputado estadual Roque Barbiere (Avante), membro da coligação. Segundo políticos ouvidos pela Folha, o parlamentar estava insatisfeito com o tratamento dispensado a ele, o que o levou à atitude de ameaça e intimidação.

Candidatos a deputado federal e estadual, alguns dos quais ouvidos sob condição de anonimato, relatam que a direção do PSDB prometeu dar dinheiro às suas campanhas, mas estão a ver navios. A coligação de Rodrigo reúne PSDB, Cidadania, Avante, MDB, Patriota, Podemos, PP, Pros, Solidariedade e União Brasil.

O deputado estadual Roque Barbiere (Avante), flagrado pelas câmeras de segurança disparando um tiro dentro do diretório do PSDB em São Paulo
O deputado estadual Roque Barbiere (Avante), flagrado pelas câmeras de segurança disparando um tiro dentro do diretório do PSDB em São Paulo - Reprodução

Com R$ 317 milhões, o PSDB tem a sexta maior fatia do fundo eleitoral, de quase R$ 5 bilhões, e já deu R$ 42,4 milhões a candidatos de São Paulo, estado visto como prioritário por ser liderado pela sigla há 27 anos.

A própria campanha de Rodrigo expõe a disputa por recursos na legenda. Até terça-feira (13), o governador havia recebido mais verba da União Brasil, dono da maior parcela do fundo eleitoral, do que do PSDB. Foram R$ 10 milhões repassados pelo partido aliado, ante R$ 8,7 milhões da legenda da qual faz parte.

Tucanos ouvidos pela reportagem admitem que líderes da sigla fizeram promessas agora difíceis de equacionar. Até mesmo benesses prometidas durante as prévias nacionais do PSDB, em que João Doria (SP) derrotou Eduardo Leite (RS) na disputa pelo Planalto, estariam sendo cobradas na campanha.

Uma candidata do PSDB à Câmara afirma ter recebido apenas metade do prometido. Outro impasse, segundo ela, é que a verba foi repassada semanas após 16 de agosto, data do início oficial da campanha.

Outras postulantes tucanas, Ana Santiago, 26, e Regina Enfermeira, 54, receberam R$ 5.000 cada uma —quantia que, dizem elas, é insuficiente para cobrir os gastos de campanha. Regina, que pleiteia uma cadeira na Câmara dos Deputados, afirma que só entrou na disputa eleitoral depois de convite da direção estadual do PSDB. Antes, ela havia concorrido ao cargo de vereadora em Arealva (a 350 km de São Paulo).

"Não ia concorrer agora, mas daqui a dois anos. Se eu não fosse convidada, não ia entrar [na corrida eleitoral], porque não tenho dinheiro para fazer campanha. Deixei isso claro para eles", diz a enfermeira.

Ela diz também que até o momento não conseguiu marcar um encontro com o presidente do PSDB-SP, Marco Vinholi, motivo que também teria irritado Barbiere. "Fui a São Paulo, fiquei três dias e não consegui conversar com o presidente do partido. Vinholi estava fazendo reuniões em outros locais", afirma Regina.

O presidente do diretório paulista do PSDB, Marco Vinholi
O presidente do diretório paulista do PSDB, Marco Vinholi - Rodrigo Capote - 8.mai.22/Folhapress

Já Ana, que busca uma vaga na Assembleia Legislativa de São Paulo, diz estar decepcionada com a corrida eleitoral, "uma desigualdade social que já começa na política". "Sou jovem, conheço a população e quero fazer o Brasil melhor, mas não tenho esperança e vou levar a campanha como consigo."

Até a noite de terça, o PSDB havia feito uma doação a um candidato a deputado estadual por São Paulo que pertence a outro partido. Trata-se de Carlos Augusto Abranches, do Cidadania, legenda que também se aliou aos tucanos em nível nacional —ele recebeu R$ 130 mil. Recursos da campanha de Rodrigo (R$ 55 mil) também foram direcionados a Edson Aparecido (MDB), que disputa o Senado.

Vinholi, porém, disse à Folha que o PSDB-SP não deu anuência para o repasse a Abranches. Integrantes das direções nacionais do PSDB e do Cidadania afirmam que, apesar de os partidos formarem uma federação, ficou decidido que cada sigla doaria apenas para seus filiados e que algum acerto entre candidatos pode explicar a doação a Abranches. Eles negam ter conhecimento do caso.]

A respeito das reclamações de candidatos tucanos, Vinholi diz que a executiva nacional do PSDB tem disponibilizado recursos do fundo eleitoral de acordo com a sua realidade. "Todos esperamos o máximo possível, mas com certeza estão contemplando muito mais em relação à eleição anterior", escreveu ele, que não quis comentar o episódio do tiro disparado por Barbiere no dia 1º, caso ainda sob investigação.

Segundo relatos à polícia, o deputado foi até a sede tucana para conversar com Vinholi, mas a reunião foi cancelada. Procurado por meio de sua assessoria, Barbiere não respondeu até a publicação deste texto.

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