Descrição de chapéu
ataque à democracia Congresso Nacional

Silêncios inexplicáveis

Não houve um pronunciamento à nação, em rede nacional, do presidente nem comunicado conjunto das Forças Armadas

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Demétrio Magnoli

O 8/1 foi uma tentativa, mesmo que um tanto ridícula, de produzir um golpe militar contra o governo eleito. Cinco dias depois, muito aconteceu. Não há registro, porém, de dois eventos tão previsíveis quanto necessários: um pronunciamento à nação, em rede nacional, do presidente da República e um comunicado conjunto do Ministério da Defesa e dos três comandantes das Forças Armadas.

Lula falou bastante, na reunião com os governadores e em entrevistas. Mas não fez um pronunciamento oficial aos brasileiros. Após golpes fracassados, chefes de Estado ou de governo sempre falam, oficialmente, ao conjunto dos cidadãos. Não é uma formalidade: trata-se de afirmar, do modo mais claro, que o governo legal mantém todas as rédeas do poder.

O silêncio de Lula abre espaço para as mais diversas e tresloucadas hipóteses conspiratórias. Propicia a difusão de boatos nas redes (anti)sociais. Contribui para um clima geral de insegurança, que não tem fundamento real. Por que o presidente não falou?

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto, nesta quinta-feira (12) - Pedro Ladeira/Folhapress

Tão estranha quanto isso é a ausência de um comunicado assinado pelo ministro da Defesa e os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Durante o (des)governo de Bolsonaro, emergiram notas oficiais conjuntas dos militares –e nem todas para dizer as coisas certas. Como, nas circunstâncias criadas pelo 8/1, explicar a falta de uma?

Os golpistas que vandalizaram os prédios dos Três Poderes conclamavam os militares a deixar os quartéis para violar a Constituição e destruir a ordem democrática. O plano deu em nada. Contudo, os comandantes militares não podem se furtar ao dever de responder ao chamado dos golpistas com um sonoro "Não!". O silêncio deles sugere que se recusam a dissolver as esperanças malucas do bolsonarismo duro.

O comunicado teria que esclarecer a posição constitucional e legalista das Forças Armadas. Dirimir qualquer dúvida sobre a lealdade às instituições democráticas, o que abrange a subordinação militar ao governo civil eleito regularmente. Explicitar o repúdio das três forças ao golpismo, sejam quais forem suas origem e inclinação ideológica. A ausência desse comunicado só pode ser interpretada como prosseguimento da prolongada leniência frente às articulações e ações dos golpistas.

Múcio disse que "joga na defesa, não no ataque". Passa da hora de jogar "na defesa" das instituições democráticas, não "na defesa" da ambiguidade dos militares diante dos inimigos da legalidade.

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