O governo federal apontou irregularidades e demitiu dois servidores da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) que foram alvos da PF (Polícia Federal) nesta sexta-feira (20).
A demissão dos servidores Eduardo Izycki e Rodrigo Colli foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União na noite desta sexta. A reportagem não conseguiu contato com a defesa deles.
A decisão foi tomada após o governo constatar a participação, na condição de sócios representantes da empresa Icciber/Cerbero, de um pregão aberto pelo Comando de Defesa Cibernética do Exército.
"O pregão tinha por objeto a aquisição de solução de exploração cibernética e web intelligence capaz de realizar coleta de dados e diversas fontes da internet", disse o governo, em nota.
Segundo o governo federal, os dois violaram as normas que proíbem a atuação de servidores em empresa privada ao mesmo tempo que prestam serviços para o serviço público. Além disso, violaram o regime de dedicação exclusiva.
Colli e Yzycky —presos nesta sexta—, segundo a PF, são suspeitos de coagir servidores da Abin para evitar a demissão.
O processo administrativo disciplinar já havia sido concluído, mas os dois continuavam na agência. Segundo a PF, eles teriam "utilizado o conhecimento sobre o uso indevido do sistema como meio de coerção indireta para evitar a demissão".
A Polícia Federal cumpriu 25 mandados de busca e apreensão e dois de prisão preventiva nos estados de São Paulo (2), Santa Catarina (3), Paraná (2) e Goiás (1), além do Distrito Federal (17).
Além de buscas e prisões, o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou o afastamento de Paulo Maurício Fortunato Pinto, atual número 3 da Abin, e de outros quatro servidores.
A sede da Abin também foi alvo de buscas nesta sexta. Segundo relatos, a PF levou os computadores de todos os suspeitos, incluindo as máquinas usadas por Fortunato.
A polícia suspeita que a Abin usou ilegalmente, durante o governo Jair Bolsonaro (PL), um sistema secreto de monitoramento de celulares contra jornalistas, políticos e adversários do ex-presidente. Os indícios colhidos pela PF levaram à deflagração, nesta sexta, de operação para investigar o rastreio irregular da geolocalização de oponentes do governo anterior (2019-22).
Segundo apuração da Folha, a PF aponta que o software foi utilizado contra adversários de Bolsonaro.
O software investigado permite acesso a dados de geolocalização, mas não o conteúdo dos aparelhos — ou seja, não possibilitaria que ligações ou conversas fossem grampeadas.
A Folha apurou que a PF identificou o uso do software 33 mil vezes. Desse total, 1.800 teriam como alvo políticos, jornalistas e adversários do governo Bolsonaro.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.