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Não há censura em qualquer hipótese, diz Barroso após decisão que ameaça punir imprensa

Supremo decidiu que imprensa pode ser punida por entrevistas com indícios de falsidade

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Brasília

O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso, disse nesta quinta-feira (30) que a corte não tomou nenhuma decisão cerceadora da liberdade de expressão.

A declaração foi feita um dia após o tribunal aprovar uma tese prevendo a possibilidade de responsabilização civil de empresas jornalísticas que publicarem entrevistas que imputem de forma falsa crime a terceiros.

Barroso disse que o Supremo reafirma o seu compromisso com a liberdade de expressão, "que no entanto não é o único valor que deve prevalecer em uma sociedade civilizada"

O ministro Luís Roberto Barroso, do STF
O ministro Luís Roberto Barroso, do STF - Adriano Vizoni - 23.out.23/Folhapress

"Não existindo censura em qualquer hipótese, toda e qualquer pessoa, inclusive pessoa jurídica, pode eventualmente ser responsabilizada por comportamento doloso por má-fé ou por grave negligência", afirmou.

O presidente do STF acrescentou que a corte considera que a liberdade de expressão é essencial para a democracia e reiterou a vedação expressa de qualquer tipo de censura prévia à imprensa.

"A imprensa é um dos alicerces da democracia e tem aqui no Supremo um dos seus principais guardiões. Nós temos dezenas de reclamações acolhidas para assegurar a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão."

Barroso disse que o Supremo reitera a sua jurisprudência e assenta, como regra geral, que um veículo de comunicação não responde por declaração prestada por entrevistado, "salvo se tiver atuado com dolo, má-fé ou grave negligência, que evidentemente é critério de responsabilização em toda parte do mundo".

"A imprensa continua tendo o STF como um parceiro. Conseguimos fazer prevalecer a democracia em meio a muitos ataques, e penso que o Supremo, a sociedade civil e a imprensa tiveram um papel decisivo nisso. Nós confiamos e apoiamos a imprensa profissional agora e sempre", afirmou.

Segundo o entendimento dos ministros, a nova tese valeria quando são considerados indícios concretos de que as declarações são mentirosas. Entidades de imprensa manifestaram preocupação com a aprovação e cobraram esclarecimentos ao STF.

O texto aprovado pelo Supremo diz que "a plena proteção constitucional à liberdade de imprensa é consagrada pelo binômio liberdade com responsabilidade, vedada qualquer espécie de censura prévia, porém admitindo a possibilidade posterior de análise e responsabilização".

A tese foi elaborada pelo ministro Alexandre de Moraes, com mudanças propostas por Luís Roberto Barroso, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin.

Essa responsabilização, que pode incluir remoção de conteúdo, seria por "informações comprovadamente injuriosas, difamantes, caluniosas, mentirosas, e em relação a eventuais danos materiais e morais".

"Na hipótese de publicação de entrevista em que o entrevistado imputa falsamente prática de crime a terceiro, a empresa jornalística somente poderá ser responsabilizada civilmente se: (i) à época da divulgação, havia indícios concretos da falsidade da imputação; e (ii) o veículo deixou de observar o dever de cuidado na verificação da veracidade dos fatos e na divulgação da existência de tais indícios", diz a tese aprovada pelo Supremo.

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