Descrição de chapéu Governo Lula forças armadas

Lula diz que Forças Armadas não devem atuar em nome de ideologia ou pretensões políticas

Presidente também exalta Múcio como 'maior ministro da Defesa' da história

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Brasília

O presidente Lula (PT) afirmou, nesta quarta-feira (28), que a verdadeira missão das Forças Armadas é garantir a ordem e não atuar em nome de uma ideologia ou de pretensões políticas.

A fala aconteceu em evento com militares para celebrar os 25 anos da criação do Ministério da Defesa no Clube do Exército, em Brasília. Lula também exaltou o seu ministro da Defesa, José Mucio. Disse que a história o reconhecerá como o "maior ministro da Defesa" do país.

O presidente Lula, entre o ministro da Defesa, José Mucio, e o comandante do Exército, Tomás Paiva, na celebração do Dia do Soldado

Além da data comemorativa, o evento também foi marcado pelo anúncio oficial da permissão inédita para mulheres se alistarem no serviço militar. Segundo o Ministério da Defesa, serão oferecidas inicialmente 1.500 vagas.

Ao exaltar a medida, Lula disse em seu discurso que "lugar de mulher é onde ela quiser". Ele estava acompanhado da primeira-dama, Janja, que não costuma participar das cerimônias das Forças Armadas em Brasília.

"Celebramos a verdadeira missão das Forças Armadas, que é de servir a nação brasileira, garantir a ordem, não em nome de uma ideologia ou a serviço de pretensões políticas individuais, mas em nome acima de tudo da soberania de um país e da proteção do povo brasileiro", afirmou o presidente.

Ele também elogiou o trabalho das Forças Armadas no resgate nas enchentes do Rio Grande do Sul, no apoio ao combate às queimadas e no combate ao garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami.

Ao final do discurso, o petista se dirigiu a Mucio e afirmou que "haverá um momento em que a história o reconhecerá como o maior ministro da Defesa do nosso país".

Múcio foi escolhido para o cargo para servir como um interlocutor com as Forças Armadas, após a aproximação dos militares com o antecessor Jair Bolsonaro (PL).

Por outro lado, também foi alvo de críticas do PT e alguns aliados por sua postura após os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023.

Nesta quarta-feira (28), o ministro comentou a abertura de inquérito no Exército para investigar quatro militares autores de uma carta, de 2022, que pressionava o comando da Força a dar um golpe contra a eleição de Lula.

Mucio afirmou que a abertura da apuração, com a prévia identificação do autores, mostra que o Exército não promove impunidade.

"Significa dizer que não é porque tem alta patente que está livre das obrigações das Forças Armadas. Foram militares de alta patente que resolveram estimular um fracionamento do bom equilíbrio do Exército, desestimulando o trabalho do general", declarou.

O ministro disse ainda que as "Forças Armadas, para serem fortes, não podem trabalhar sob a aura da suspeição".

Apesar de Mucio ter destravado resistência recíproca de Lula e militares, o presidente costuma citar o período de alinhamento das Forças com o governo de Jair Bolsonaro (PL) para dar recados sobre os perigos da politização dos quarteis.

O Ministério da Defesa foi criado em 1999, no governo Fernando Henrique Cardoso. O objetivo era criar uma estrutura que abrigasse os ministérios militares então existentes, do Exército, da Marinha, da Aeronáutica e Estado-Maior das Forças Armadas.

Essas estruturas perderam o status de ministério e passaram a ser vinculados à Defesa. A pasta foi comandada na maior parte de sua história por civis. Em 2018, no entanto, o então presidente Michel Temer (MDB) nomeou o general Joaquim Silva e Luna para o cargo.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) seguiu a tendência e nomeou militares para o cargo, o que foi revertido por Lula com a escolha de Mucio.

Nesta quarta, o ministro também divulgou a criação da carreira civil de defesa, outra medida inédita. O Ministério da Gestão deve divulgar nas próximas semanas um concurso público para civis entrarem na Defesa.

Outra novidade anunciada durante o evento foi a transferência do programa Calha Norte da pasta da Defesa para a do Desenvolvimento Regional.

A iniciativa, criada em 1985, tem o objetivo de melhorar a infraestrutura da região Norte, e sua transferência é uma demanda antiga do ministro da Defesa. Mucio argumenta nos bastidores que ela atrai muitos interesses políticos.

Mulheres nas Forças Armadas

Regulamentada por decreto publicado nesta quarta-feira (28), a permissão para o alistamento de mulheres no serviço militar foi antecipada pela Folha em junho.

Segundo o Ministério da Defesa, o recrutamento terá início em 2025, e a incorporação a uma das organizações militares da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ocorrerá a partir de 2026.

As primeiras mulheres devem entrar em organizações militares já adaptadas para o segmento feminino, com banheiros e dormitórios separados.

Elas trabalharão nas bases administrativas, nos hospitais, nos centros de ensino e na intendência, locais em que mulheres já participam em maior número na vida militar.

"A iniciativa está sendo adotada de maneira inédita pelos comandos das Forças Armadas, após período de estudos em conjunto com Ministério da Defesa. Por lei, o alistamento tem duração de 12 meses, podendo ser prorrogado a cada período de um ano até o prazo máximo de oito anos", informou a pasta em nota.

O período de alistamento será entre janeiro e junho, o que corresponde ao mesmo tempo do alistamento para homens. As voluntárias devem completar 18 anos no ano da inscrição e residir no município em que exista uma organização militar.

Atualmente as mulheres já são autorizadas a entrar nas Forças Armadas por outros meios, como nas escolas que preparam oficiais. A participação feminina, porém, é limitada —só a Marinha libera atuação delas em áreas mais combatentes, a de fuzileiros navais.

Como a Folha mostrou, Mucio se inspirou no modelo das Forças Armadas do Chile, que ele conheceu durante visita ao país.

Ele queria que 20% das vagas do alistamento militar fossem reservados para as mulheres. As Forças, porém, foram contrárias à reserva por considerá-la alta para um período de transição.

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