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Leitores aprovam novo formato da versão impressa da Folha

Alguns deles, porém, apontam ressalvas, como impossibilidade de destacar mais do que 2 cadernos

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São Paulo

Lançada neste domingo (dia 1º), a versão impressa da Folha em novo formato tem sido recebida, de modo geral, de maneira elogiosa pelos leitores, embora surjam ressalvas.

Uma das críticas se refere à impossibilidade de destacar mais do que dois cadernos do volume total –ao menos nesta edição de estreia. Com 96 páginas, a Folha deste domingo especificamente estava dividida em dois cadernos: o A, com 72, e B, com 24. As próximas edições terão configurações diferentes.

A assistente social aposentada Solange Yamamoto lê a Folha em novo formato ao lado da piscina do seu prédio, em São Paulo - Allison Sales/Folhapress

A reportagem ouviu leitores de diferentes perfis, do morador de Brasília que assina a Folha há 48 anos à gaúcha radicada em São Paulo cuja assinatura acaba de completar quatro meses.

"Senti um certo estranhamento nos primeiros instantes, mas comecei a folhear e achei muito bom. É fácil de manusear, e a leitura me pareceu bem fluida", diz a médica ginecologista Larissa de Freitas Flosi, 38, que assina a versão impressa há oito meses.

"Como a página da versão anterior [standard] tem uma área maior, eu acabava ignorando os textos que estavam no pé da página. Agora não. Tive a sensação de ter lido muito mais textos", afirma ela, que vive em São Paulo.

Para a médica, os anúncios ganharam nitidez. "Senti um pouco mais de intimidade com a publicidade."

Flosi pondera que os cadernos poderiam ser destacáveis, o que seria uma vantagem para ela e o marido, o advogado Rafael Ferreira, 37, quando conseguem ler juntos, algo que nem sempre os filhos pequenos, Raul e Francisco, permitem.

Edição da Folha em novo formato em meio a jornais europeus que adotam o mesmo padrão - Zanone Fraissat/Folhapress

Analista aposentado do Ministério Público Federal, Marcos Fernando Daufner, 65, faz a mesma observação. "Eu gostava de separar os cadernos. Nesse sentido, piorou com a mudança", diz ele, que assina a Folha há 46 anos.

Para Daufner, morador de Joinville (SC), é muito cedo, porém, para uma avaliação mais detalhada da alteração promovida pelo jornal.

Outro leitor que acompanha o jornal impresso há décadas é o também aposentado Luiz Gornstein, 75, que vive na capital paulista. "É pela comodidade, sou de outra geração e assim fui educado", diz o ex-sócio de uma gráfica.

Sobre a transição para o berliner, diz não ter críticas a fazer. "Tudo muda, e a gente tem de se adaptar. Demorei para ter WhatsApp e agora não posso ficar sem ele. Espero que a Folha continue sendo um jornal imune a qualquer tipo de pressão", afirma ele, que lê a versão impressa do jornal há mais de 40 anos.

Gornstein coleciona artigos em papel, que são cuidadosamente arquivados em pastas ou repassados a amigos e familiares, para nortear as conversas de fim de semana.

O aposentado Luiz Gornstein, que lê a versão impressa da Folha há mais de 40 anos - Allison Sales/Folhapress

Laura Piccoli, 29, também mantém o ritual de recortar reportagens da versão impressa. Uma recente, "Pesca do salmão divide a Islândia, e Björk lidera protestos", agora está pendurada na sua geladeira.

"Sou meio analógica na vida, olho o jornal no domingo e vou guardando o que acho interessante. E no impresso, há a possibilidade de descoberta de outros temas que não buscaria por conta própria, a gente tem contato com reportagens que não veria na internet, por conta do algoritmo", diz a cabeleireira gaúcha que vive em São Paulo.

Para Piccoli, a mudança de formato vai facilitar dois dos seus hábitos: ler o jornal no metrô e levar o exemplar com ela, durante os passeios que faz pela cidade. "Pego o jornal e vou para a rua, leio em parques. Na semana passada, precisava fazer uma compra e o levei para ler na loja, enquanto aguardava", afirma ela, que assina o jornal impresso há quatro meses.

"Visualmente, a versão ficou interessante também, e a organização dos temas é intuitiva", complementa.

O aposentado Oscar Akio Nawa, 82, também avalia como positiva a adoção do formato berliner. "Dá para abrir com as duas mãos e sem apoio de mesa. Mesmo me considerando conservador, gostei da mudança", diz ele, que assina a Folha há 48 anos.

O novo formato tende a tornar mais confortável um costume de Nawa: ler o jornal deitado, antes de dormir.

Ele só reclama da leve redução na fonte —de corpo 11pt para 10,5 pt. "É um detalhe, mas quem já passou dos 80 anos sofre um pouco. Se aumentasse, agradeceria. Tenho amigos que até usam lupa para ler jornal", afirma. "Agora, para embrulhar coisas, o formato anterior realmente era melhor."

A jornalista Priscila Camazano com uma edição da Folha em formato berliner - Zanone Fraissat/Folhapress

Tendo crescido em uma casa de leitores de jornais, tanto brasileiros como estrangeiros, o consultor independente em estratégia de comunicação Jean-Louis Manzon, 44, diz que sentirá falta do formato anterior da Folha —ao menos no fim de semana.

"O domingo em família era marcado pela discussão do que estava acontecendo no Brasil e no mundo, e o ponto alto era a experiência compartilhada que o modelo anterior, com cadernos destacáveis, permitia. Dava para distribuir uma parte da edição para cada pessoa da casa", afirma o carioca radicado em São Paulo, hoje assinante digital e que compra o jornal na banca ocasionalmente.

Em sua visão, o novo formato parece pensado apenas para os dias de semana e peca por deixar a leitura individualizada, mais parecida com o que já ocorre no celular, por exemplo. "O impresso é uma outra coisa, é um documento histórico e é louvável que siga existindo, mas é preciso oferecer experiências distintas, pensadas para os diversos formatos em que a notícia é publicada."

Não é o que pensa Solange Yamamoto, assistente social aposentada de 62 anos. "Gostei muito do novo formato pela praticidade que oferece. É mais fácil agora sair de casa com o jornal para fazer a leitura em outros locais", diz ela, que assina a Folha há mais de duas décadas.

Moradora de São Paulo, Yamamoto conta que costuma ler o jornal na área externa do seu prédio, no bairro do Jabaquara, hábito que tende a se tornar mais frequente.

Fã das palavras cruzadas, ela acha que a seção está mais fácil de encontrar no novo projeto gráfico.

"Fiquei um pouco preocupado com o fato de os cadernos não serem destacáveis. Gostaria que a separação de antes voltasse", diz Walter Vettore, 84, leitor da Folha desde a década de 1970.

"Por outro lado, as páginas com quatro colunas facilitam a leitura, principalmente para quem está acostumado a dobrar o jornal ao meio. E, pelo menos na estreia, as matérias da edição foram tratadas de maneira primorosa. Tomara que continue assim", afirma.

Segundo o advogado, o saldo da mudança é positivo. "Quando as colunas variam de largura, acho ruim, mas gostei do tamanho das fotos e das ilustrações. As letras ficaram menores, mas dão boa leitura", diz. Embora a fonte dos textos seja levemente menor, a entrelinha se mantém. O ajuste, portanto, não prejudica a leitura.

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