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14/04/2012 - 09h29

"O Espião que Sabia Demais" leva para as telas anti-James Bond

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MANUEL DA COSTA PINTO
COLUNISTA DA sãopaulo

George Smiley está para John le Carré como James Bond está para Ian Fleming. Os dois personagens trabalham para o MI6, serviço secreto britânico. A diferença é que o sedutor 007 e seus "gadgets" rendem filmes de espionagem há 50 anos, enquanto o soturno -e cornudo- agente da Circus (mais alto círculo na hierarquia do MI6) teve carreira cinematográfica tão discreta quanto seu temperamento.

Isso não impediu que a literatura de Le Carré gerasse um filme envolvente como "O Espião que Sabia Demais", dirigido pelo sueco Tomas Alfredson com elenco extraordinário: Gary Oldman (Smiley), John Hurt na pele de Control (codinome do chefe da Circus), Colin Firth ("O Discurso do Rei") e Ciarán Hinds ("Munique"), entre outros.

Divulgação
David Dencik e Gary Oldman em cena do filme "O Espião que Sabia Demais", de Tomas Alfredson
Os atores David Dencik (esq.) e Gary Oldman (dir.) em cena do filme "O Espião que Sabia Demais", de Tomas Alfredson

Enredo obscuro, ritmo lento e interpretações sóbrias podem frustrar quem espera uma aventura de espionagem. A grande virtude de Alfredson, porém, está em incorporar à estética do filme a opacidade de sua matéria-prima.

Vale aqui um paralelo com o cinema "noir" dos anos 1940. Naquele, a complexidade da trama materializava as ambiguidades morais de detetives e criminosos. No universo de "O Espião que Sabia Demais", a busca obsessiva por maquinações secretas se converte numa visão paranoica da máquina do mundo.

Quando Smiley é convocado para identificar um agente duplo da Karla (serviço secreto soviético) infiltrado na agência britânica, a investigação faz aflorar traições de outra ordem: cooptações políticas e ideológicas da Guerra Fria se misturam à sombra do adultério, que aflige Smiley, e a diálogos em surdina, repletos de insinuações sórdidas e de semblantes desconfiados.

Cenografia e figurino merecem atenção especial: os tempos narrativos são identificados pelos modelos de óculos usados por Smiley, numa metáfora do olhar que se expande para planos gerais de edifícios em que vemos simultaneamente vários ambientes.

Tanto o exame microscópico de arquivos quanto a visão pan-óptica dos interesses ocultos, entretanto, sucumbem à expressão extenuada e fóbica de Smiley/Gary Oldman, impelido a enxergar o que não quer ver.

"O ESPIÃO QUE SABIA DEMAIS"
Diretor: Tomas Alfredson
Distribuidora: Playarte (DVD, locação; Blu-ray, R$ 89,90)

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