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Consumo colaborativo ganha adeptos em São Paulo
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JULIANA CUNHA
DE SÃO PAULO
Na dúvida entre comprar um carro ou uma casa de praia, há quem resolva ter ambos sem adquirir nenhum. São consumidores que fazem parte de um pequeno --mas crescente-- nicho que não se importa em acumular posses, e sim em usufruir de tudo possuindo o mínimo possível. Para eles, ter menos bens significa menos dor de cabeça, investimento e dano à natureza.
Para atender a essa demanda, surge um mercado de consumo compartilhado, que é mais forte no exterior, mas começa a chegar a São Paulo. São iniciativas que permitem compartilhar um carro, um apartamento em uma cidade que você escolhe como destino de viagem, um punhado de roupas que você não usa mais. Tudo com a ajuda da internet.
Atitudes como essas evitam o acúmulo de lixo e a produção desenfreada de bens de consumo e geram uma economia alternativa que vem se consolidando como serviço profissional. "O mundo sustentável dos séculos 21, 22, 23 vai ser compartilhado. As coisas não necessariamente vão ser minhas ou suas, mas vamos usá-las: de um livro a um carro", avalia Estanislau Maria, do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente.
Conheça, a seguir, algumas iniciativas que já aportaram por aqui.
As ilustrações desta reportagem também seguem a proposta do compartilhamento. Elas foram retiradas do livro "Neubau Welt", de Stefan Gandl, que permite seu uso livre.
Editoria de Arte/Folhapress |
EMPRESTE SUA CASA
Alugue uma casa para ficar por noite, diretamente com os proprietários, em 9.000 cidades de 170 países --de um futon em Nova York por US$ 10 a um loft em Paris por US$ 2.500. É o que oferece o Air BNB (www.airbnb.com), um dos maiores sites de compartilhamento de propriedades.
O endereço foi criado em 2007 e funciona como um espaço de troca de imóveis: se você vai viajar e quer alugar temporariamente seu apartamento, basta postar fotos e informações dele e esperar o contato de um hóspede. Também é possível alugar apenas quartos ou aquela casa de veraneio que fica vazia. O diferencial é que o site faz uma pré-seleção e só oferece lugares bacanas.
A designer paulistana Mai Silva, 26, já usou o Air BNB três vezes, quando precisou se hospedar em San Francisco, Los Angeles e Nova York: "Não gosto muito do ambiente de hostel, prefiro algo mais reservado. Como eu estava fazendo uma viagem longa, para mim era importante ter um pouco de privacidade, uma cozinha e um bom preço", conta ela, que pagou, em média, US$ 100 por noite em cada cidade.
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COMPARTILHE SEU CARRO
Na cidade que tem 7 milhões de carros, quem quiser abrir mão de comprar um veículo tem uma nova alternativa: dividi-lo com outros usuários. Fundada há dois anos, a Zazcar, empresa de compartilhamento de veículos, atende cerca de 350 clientes que se revezam no uso de 14 carros.
Felipe Barroso, 32, sócio-diretor da companhia, diz que se trata de um tipo especial de aluguel de carros, menos burocrático. "Ter um carro em uma cidade como São Paulo é muito caro e muito poluente. Considerando o valor do seguro, da manutenção, a prestação do próprio carro e a desvalorização, não dá para gastar menos de R$ 1.000 por mês", afirma.
A pedido da sãopaulo, Samy Dana, professor de finanças pessoais da Fundação Getúlio Vargas, comparou os custos anuais para manter um carro popular e os custos do uso do carro compartilhado pagando-se R$ 8,90 por hora (preço no plano mais barato), com gasolina incluída. A constatação dele é que o carro compartilhado é mais econômico para quem faz uso dele por até três horas e 20 minutos por dia.
Para utilizar o carro nesse esquema, o usuário se cadastra e recebe um cartão que faz as vezes de chave. Quando quer usar um, faz o agendamento pela internet e vai retirá-lo em um dos estacionamentos conveniados, que ficam na avenida Paulista e nos bairros de Moema, Vila Olímpia e Pinheiros.
Fernando Donato, 31, que trabalha para empresas de marketing, usa um mix de transporte público, táxi e carro compartilhado. "Meu prédio não tem garagem e só o valor do estacionamento aqui perto já é R$ 300, que é mais do que eu gasto por mês usando o carro compartilhado."
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DIVIDA SEU ESPAÇO DE TRABALHO
Em 2008, Fernanda Nudelman, 30, resolveu que o seu negócio seria dar um fim às queixas dos amigos freelancers e pequenos empresários: eles reclamavam dos custos de manter um escritório, mas também não queriam trabalhar em casa, com cachorro latindo e filho caçula passando o boletim de ocorrência da última briga.
Fernanda importou o conceito de "coworking", os chamados escritórios compartilhados, muito comuns em Tóquio e em Nova York, onde o metro quadrado é caro demais para os pequenos empreendedores.
Hoje, a empresa de Fernanda --a Pto de Contato é só mais uma entre as que atuam em São Paulo. Ela tem duas unidades, em Pinheiros e nos Jardins, e atende cerca de 70 profissionais liberais e empreendedores que estão começando seus negócios.
"Os maiores atrativos são o custo reduzido e a falta de burocracia. Enquanto alugar um escritório demanda fiador e contratações, aqui é só chegar e trabalhar. No dia em que o cliente mudar de ideia, basta colocar a bolsa debaixo do braço e ir embora", diz. A uma taxa mensal de R$ 1.500 (valor mais alto cobrado pela empresa), é possível usar o escritório todos os dias das 9h às 21h, por exemplo.
São Paulo conta, também, com The Hub, escritório que atende cerca de 200 profissionais. Cada um deles paga aluguel de até R$ 800 para usar uma infraestrutura que inclui biblioteca, sala de reuniões e internet. A casa ainda organiza palestras sobre como realizar projetos pessoais e incentiva parcerias entre os usuários.
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TROQUE SUAS ROUPAS
Em maio de 2009, a publicitária Ana Luiza Mc-Laren, 29, tinha um apartamento pequeno quando surtou e começou a atirar roupas e acessórios em um montinho. O namorado perguntou o que estava acontecendo, e ela respondeu: "Enjoei dessas coisas. Aliás, vê aí se o domínio www.enjoei.com.br está disponível na internet".
Estava. E foi do surto de Ana que nasceu o bazar virtual Enjoei, que já postou mais de 590 itens, 80% deles vendidos com sucesso. Quem decide o valor das mercadorias é o dono do produto, mas o site fica com 15%.
Outra iniciativa que segue uma filosofia parecida é o "clothing swap" (bazar onde as pessoas trocam peças). A publicitária Lalai Luna, 37, organizou um via Facebook. Para ela, a troca faz com que o consumidor reflita. "Enchemos sacolas com coisas que não usamos, mas não fazemos nada com elas. Não vendemos, não doamos e tudo ocupa espaço. Melhor mudar de atitude."
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TIRE SEU PROJETO DO PAPEL
Você tem esse projeto incrível pelo qual seus amigos suspiram, mas as empresas não dão a menor bola. Mais grave que isso: talvez você nem saiba como abordar uma companhia ou o governo pedindo incentivo. Antes, suas opções eram arquivar a ideia ou financiar com o próprio bolso. Depois do "crowdfunding", você pode elaborar o projeto e colocá-lo sob apreciação de um exército de mecenas virtuais que apoiam financeiramente ações que julgam interessantes.
No Brasil, os maiores sites desse tipo são o Catarse e o Movere. Os dois aceitam todo tipo de projeto: show, exposição, filme, aplicativo para iPhone e produto tecnológico. As exigências são que o projeto seja criativo e tenha começo, meio e fim definidos. Os autores explicam o que querem fazer e de quanto dinheiro precisam. Cada internauta define o quanto quer doar.
Até agora, o Catarse já aprovou 40 projetos. Desses, 12 foram finalizados com sucesso, isto é, conseguiram o dinheiro de que precisavam. No total, o site movimentou cerca de R$ 130 mil e rendeu R$ 6.000 aos fundadores, que cobram uma taxa de 5% sobre os projetos bem-sucedidos.
Segundo Diego Reeberg, um dos criadores do site, o que garante que os autores não vão simplesmente sumir com o dinheiro doado é que sua credibilidade está em jogo: "Entre 60% e 80% dos apoiadores fazem parte da rede de relacionamentos do autor do projeto. Ele precisa se expor, divulgar seu nome, e-mail, perfil nas redes sociais. Usar o dinheiro indevidamente geraria um dano de imagem para ele que certamente não compensaria."
O primeiro projeto financiado pelo Catarse foi o Cidade para Pessoas, de Natália Garcia, 27, sobre soluções para o trânsito. Para tirá-lo do papel --ou, no caso, colocá-lo no papel--, Natália começou a vender lotes do projeto. Levantou R$ 25 mil, que pagaram metade da viagem, que está em curso e já passou por Copenhague, Amsterdã e Barcelona.
A outra metade está sendo negociada com empresas aéreas, albergues e outros patrocinadores. "Foi mais legal viabilizar o projeto desse jeito. Hoje tem um monte de gente em torno da ideia. Eles ajudaram não só com a grana, mas com trabalho, programando o site, fazendo a identidade gráfica. Trabalhar colaborativamente é mais interessante do que do jeito tradicional".
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COMPARTILHE VOCÊ TAMBÉM
Carro
www.zazcar.com.br
www.fourprivate.com.br
www.zipcar.com
Casa
www.airbnb.com
www.roomorama.com
Trabalho
www.ptodecontato.com.br
www.saopaulo.the-hub.net
Projetos
www.catarse.me
www.movere.me
www.queremos.com.br
Roupas e acessórios
www.enjoei.com.br
www.clothingswap.com
www.bagborroworsteal.com
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