THAIZA PAULUZE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Amanda Alcedino, 38, surpreendeu a família quando anunciou que iria trabalhar como motorista de ônibus. A princípio, o objetivo era dirigir vans escolares, mas, há 12 anos, ela conduz linhas do transporte público paulista.

Desde o ano passado, é uma das sete que comandam o volante na chamada "linha rosa" criada pela empresa Tupi para incentivar a contratação de mulheres -há outras sete como cobradoras.

O circular, que é azul, apesar do nome da linha, passa no aeroporto de Congonhas e no metrô São Judas.

Num setor majoritariamente masculino, Amanda é exceção. Estima-se que as mulheres representem 12% dos profissionais na área -5.000 dos 40.000 cobradores e motoristas-, segundo o SPUrbanuss (Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo).

Em 2015, numa tentativa de diminuir a disparidade de gênero, o então prefeito, Fernando Haddad, assinou portaria determinando que as operadoras de transporte público reservassem, no mínimo, 30% das vagas para mulheres -não só ao volante, mas em todos os setores.

As empresas, no entanto, alegam dificuldade em preencher os postos. "Não que seja difícil dirigir um ônibus, mas os horários em que eles operam não são favoráveis para as mulheres, que têm tripla função", disse Francisco Christovam, presidente do SPUrbanuss, durante o 2º Seminário Mobilidade Urbana, realizado pela Folha.

Amanda concilia trabalho e casa. Divorciada e responsável pela mãe idosa e por dois filhos pequenos, ela diz lidar bem com a jornada das 15h às 23h. "Administro minha vida de manhã. Mas acho que a empresa precisa contribuir com bom senso quando acontece um imprevisto."

ASSÉDIO

Para Gabriel Tenenbaum, especialista em transporte público do ITDP (Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento), o assédio diminuiria com as profissionais.

"Num ambiente em que há quatro casos de assédio por semana, mais cobradoras e motoristas ajudariam a criar um sistema melhor", afirmou o especialista no debate.

Na Tupi, foi o número de reclamações que diminuiu. Antes, a média da linha era de 25 queixas por mês, a maioria devido à imprudência na direção. Mas, desde então, são duas reclamações mensais, segundo o gerente de operações Ernandes dos Santos.

Para Sergio Avelleda, secretário municipal de Mobilidade e Transportes de São Paulo, mais mulheres na direção também ajudariam a reduzir os acidentes.

"93% das mortes no trânsito na cidade de São Paulo são causados por homens. Se tivéssemos a capacidade de proibir que eles dirigissem, reduziríamos o número de mortes de 850 por ano para menos de 100", afirmou.

Na linha rosa, ocorre, em média, um acidente leve a cada três meses. Nas outras linhas da Tupi, são quatro por mês, de acordo com Santos.

Segundo o secretário, não faltam bons exemplos pelo mundo. "Paris reduziu os acidentes ao contratar mulheres com mais de 35 anos para dirigir os ônibus", afirmou Avelleda, que diz incentivar as empresas paulistanas a buscarem iniciativas parecidas.

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