Falta de acesso digital trava agricultura de precisão no país

Exclusão de pequeno agricultor impede avanço da produção, diz especialista

Gabriel Bosa
Goiânia

A ausência de conectividade digital e a carência na assistência técnica aos pequenos produtores rurais são os principais entraves para a consolidação da agricultura de precisão no Brasil.


Apesar de a agricultura familiar representar 84% de todos os produtores rurais brasileiros —segundo levantamento do Ministério do Desenvolvimento Agrário—, esses agricultores ainda estão excluídos das inovações tecnológicas, o que dificulta o crescimento da produtividade de alimentos no país.


Essa foi uma das conclusões dos especialistas que integraram o seminário Inovação no Brasil: Centro-Oeste, promovido pela Folha, com patrocínio do governo de Goiás, realizado na segunda-feira (12), em Goiânia.

Francisco Gonzaga Pontes, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Científico e Tecnológico e de Agricultura, Pecuária e Irrigação de Goiás, José Mário Schreiner, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás, e Luis Henrique Bassoi, pesquisador da Embrapa Instrumentação, durante o seminário em Goiânia (GO).
Francisco Gonzaga Pontes, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Científico e Tecnológico e de Agricultura, Pecuária e Irrigação de Goiás, José Mário Schreiner, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás, e Luis Henrique Bassoi, pesquisador da Embrapa Instrumentação, durante o seminário em Goiânia (GO). - Keiny Andrade/Folhapress

A integração de pequenas propriedades na agricultura de precisão será a segunda alavancada na produtividade agrícola brasileira, de acordo com José Mário Schreiner, presidente da Faeg (Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás). “Fazer a agricultura de precisão chegar à propriedade familiar será o novo salto espetacular.”


O primeiro grande marco da produção agrícola do país, segundo Schreiner, foi a criação da Embrapa, na década de 1970. A estatal promoveu o uso de tecnologia e emprego de práticas sustentáveis, colocando o Brasil entre os protagonistas na produção mundial de alimentos.


A agricultura de precisão utiliza tecnologia para otimização de resultados. A partir da análise de dados, é possível estabelecer planejamentos diferentes de avaliação do solo à colheita.


A ferramenta contribui para a economia de insumos, irrigação e defensivos agrícolas, refletindo no aumento de lucratividade e maior sustentabilidade para a produção.

ENTRAVES

Os elevados investimentos na compra de maquinários inteligentes restringem a técnica aos grandes produtores, segundo os especialistas.


Para o secretário de Desenvolvimento de Goiás, Francisco Gonzaga Pontes, os resultados positivos em grande escala justificam os investimentos aos produtores familiares. “Esse setor precisa do apoio governamental para se desenvolver e para fixar o homem do campo no seu local.”


As discussões para implementar meios de conexão em zonas rurais envolvem empresas de telecomunicação.


“O pequeno agricultor tem dificuldade em contratar um serviço de conexão, e isso depende da sua localização. Isto é, se existe o serviço disponível ou se o local é atraente para as empresas prestadoras”, afirma Luis Henrique Bassoi, pesquisador da Embrapa Instrumentação.

PÚBLICO E PRIVADO

A união entre as esferas políticas e entidades de pesquisa é fundamental para a inclusão da produção familiar na agricultura de precisão, de acordo com Schreiner.


“As propriedades de médio e grande porte têm seus próprios técnicos, mas os pequenos não têm. É preciso orientação técnica para analisar as informações e tomar as decisões corretas”, afirma.


Para encurtar a barreira tecnológica, o governo de Goiás investe na expansão da rede de conectividade. O objetivo é garantir acesso em todos os 246 municípios até o fim do ano, segundo Pontes.


As análises da agricultura de precisão também contribuem para a diminuição do impacto ambiental.


A irrigação das lavouras é foco de debate sobre a sustentabilidade do setor. Para Pontes, o controle do gasto de água é um dos grandes trunfos da técnica. “É possível controlar a produção e a umidade do solo, da forma que é necessária”, afirma.


A agricultura de precisão é bem difundida em países desenvolvidos, principalmente na América do Norte e na Europa, onde o acesso à conexão é mais facilitado.


Para o Brasil alcançar esse patamar, Bassoi afirma que é preciso criar uma rede com diversas frentes de atuação. “Empresas, universidades, institutos de pesquisa e de extensão rural devem aumentar a interação já existente.”

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