Investimento para pesquisa é insuficiente, diz cientista

Ciência e tecnologia são bases para inovação, mas atenção que lhes é dada pelo poder público é deficitária

EVERTON LOPES BATISTA Celomar Almeida
Goiânia

Ciência e tecnologia são as bases para inovação, mas a atenção que essas áreas recebem do poder público, traduzida em investimentos, não é suficiente, segundo especialistas que participaram do seminário Inovação no Brasil: Centro-Oeste, na segunda (12).


Falta sensibilidade para demandas da ciência no Ministério do Planejamento e no Ministério da Fazenda, segundo Helena Nader, presidente de honra da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).
“O Brasil está na contramão da história e caminha a passos largos para o abismo. Enquanto o país encarar ciência, tecnologia e inovação como gasto, e não como investimento, não vamos progredir”, declarou Nader.


Para que ciência e tecnologia cumpram seu papel de levar avanços a outras áreas, como economia e saúde, o subsídio deve ser regular e contínuo, de acordo com Maria Zaira Turchi, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás.

Da esq. p/ dir.: Helena Nader (presidente de honra da SBPC), Jorge Almeid Guimaraes (presidente da Emprapii), Maria Zaira Turchi (presidente da Fapeg) e Paulo Petrelli (do Instituto Gyntec), no evento da Folha em Goiânia
Da esq. p/ dir.: Helena Nader (presidente de honra da SBPC), Jorge Almeid Guimaraes (presidente da Emprapii), Maria Zaira Turchi (presidente da Fapeg) e Paulo Petrelli (do Instituto Gyntec), no evento da Folha em Goiânia - Keiny Andrade/Folhapress


Os investimentos, porém, devem ser direcionados aos centros de pesquisa ou a empresas que possuam estrutura para fazer os estudos, segundo Jorge Almeida Guimarães, presidente da Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial).


A Embrapii é uma organização social que financia projetos de inovação em empresas e centros de pesquisa com recursos do governo federal.


De acordo com Guimarães, a falta de departamentos de pesquisas e de pessoal qualificado nas empresas dificulta o avanço das parcerias.

MARCO LEGAL

A lei 13.243, conhecida como novo marco legal da ciência, tecnologia e inovação, foi apontada pelos debatedores como um estímulo para a área. Ela foi sancionada em 2016 e regulamentada em decreto de fevereiro deste ano.


Entre outras mudanças, a norma simplifica acordos de cooperação entre instituições públicas e privadas e a importação de insumos para a pesquisa, demandas antigas da comunidade científica.


A nova legislação cria um ambiente adequado para a inovação, segundo Nader. “Fazer inovação é diferente de construir uma estrada ou um prédio. Não podemos usar os mesmos parâmetros. Ela tem risco e deve ser avaliada de forma diferente.”

INDÚSTRIA

Na nova revolução industrial, a chamada indústria 4.0 melhora resultados e economiza recursos com uso de sensores e inteligência artificial.


Mas nada disso será realidade no Brasil se as fábricas não se empenharem em minimizar as diferenças que as separam de países como Alemanha e China, segundo participantes do seminário Inovação no Brasil: Centro-Oeste.


O conceito de indústria 4.0 teve origem em 2011 a partir de projeto do governo alemão de estratégias tecnológicas. A meta é conectar máquinas e sistemas que controlem a produção de forma autônoma.
Para a diretora de inovação do IEL (Instituto Euvaldo Lodi) de Goiás, Gianna Cardoso Sagazio, é a trilha dos países desenvolvidos que deve ser seguida, com políticas fortes de pesquisa e inovação.

Da esq. p/ dir.: Eduardo Braz (da Agittec - UEG), Gianna Sagazio (diretora de inovação do Instituto Euvaldo Lodi) e Mauricio Neves (do BNDES) no Seminário da Folha em Goiânia
Da esq. p/ dir.: Eduardo Braz (da Agittec - UEG), Gianna Sagazio (diretora de inovação do Instituto Euvaldo Lodi) e Mauricio Neves (do BNDES) no Seminário da Folha em Goiânia - Keiny Andrade/Folhapress


Ela citou levantamento da CNI (Confederação Nacional da Indústria) que mostra que 42% das indústrias brasileiras desconhecem a importância das tecnologias digitais para a competitividade. A sondagem foi realizada com 2.225 empresas em 2016.


Outra pesquisa da CNI, de 2017, realizada com 759 empresas, apontou que apenas 1,7% das entidades ouvidas usavam as tecnologias mais avançadas e disponíveis na perspectiva da indústria 4.0.


Só investimento, porém, não é suficiente para alavancar a indústria, segundo o superintendente de Planejamento do BNDES, Mauricio Neves.


Para que os recursos sejam alocados adequadamente, governos e gestores devem definir prioridades. “Precisamos debater qual é a agenda de desenvolvimento e de políticas públicas”, afirmou. 

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