Polo automotivo em Goiás desenvolve veículos verdes

Cidades de Anápolis e Goianésia receberão novas fábricas de elétricos

Eduardo Sodré FERNANDO MIRAGAYA
São Paulo

O polo automotivo de Goiás ganha relevância com o desenvolvimento de carros menos poluentes e planeja a chegada de veículos elétricos às linhas de montagem.

É um processo recente, que surgiu das demandas criadas em 2012 pelo programa Inovar-Auto. O plano de metas vinculava benefícios fiscais a reduções no consumo de combustível e na emissão de componentes nocivos e de gás carbônico.

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Automóvel passa por teste de eficiência energética nos laboratórios da Hyundai Caoa, na cidade de Anápolis (GO) - Divulgação

Para se adequar, o grupo Caoa investiu R$ 120 milhões em 2015 e criou o CPEE (Centro de Pesquisa e Eficiência Energética). As instalações são parte da fábrica de Anápolis (48 km de Goiânia), que produz modelos Hyundai desde 2007.  

A montadora já iniciou a compra de novos equipamentos para aperfeiçoar os laboratórios e agora aguarda o programa Rota 2030, que vai substituir o Inovar-Auto. As empresas acreditam que a implementação só ocorra em 2019, com um novo governo.

O grupo HPE, responsável pela produção de modelos Mitsubishi e Suzuki em Catalão (a 256 km de Goiânia), usou parte do R$ 1,1 bilhão investido entre 2012 e 2016 para melhorar a eficiência dos veículos, mas deixou outro projeto de lado: o lançamento de um automóvel elétrico no país, previsto para 2013.
Contudo, a Mitsubishi foi incorporada à Aliança Renault-Nissan, o que deve afetar a operação no Brasil.

Para Reinaldo Muratori, diretor de produto do grupo HPE, a mudança global abre caminho para novas tecnologias, o que traz de volta a possibilidade de montar um carro não poluente em Goiás.

Procurada, a Nissan do Brasil afirmou em nota que as operações da Mitsubishi no Brasil são próprias e que ainda não há envolvimento entre as empresas no país.

Hoje, a Aliança se dedica à reestruturação da marca japonesa nos mercados da Ásia, da Europa e dos Estados Unidos. Mudanças na América Latina devem ocorrer a partir de 2019.

O desenvolvimento de carros elétricos também está nos planos do grupo Caoa, que assumiu o controle da chinesa Chery no país. Essa deverá ser a marca do primeiro veículo não poluente da empresa, com previsão de lançamento entre 2021 e 2022.

“Quem não tiver veículos elétricos vai enfrentar sérios problemas para sobreviver, mas a grande discussão é que tipo de solução teremos no Brasil”, diz Mauro Correia, presidente do grupo Caoa.
 

BIKES E MOTOS

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Moto elétrica Electro Sport Power, que será montada em Goianésia, estado de Goiás - Divulgação

A primazia dos elétricos no polo de Goiás não caberá nem à Mitsubishi nem à Chery. A Electro Motors começa, em maio, a produzir sete modelos, entre motos, scooters e bicicletas, em Goianésia (170 km de Goiânia).

Os planos incluem a importação e montagem de automóveis da chinesa Zotye a partir de 2019. A marca ensaia sua estreia no Brasil desde 2014, tendo anunciado anteriormente investimentos no Espírito Santo, no Ceará e em Santa Catarina, que não se concretizaram.

Segundo Rodrigo Martins, responsável pelo marketing da Electro, serão investidos R$ 190 milhões na fábrica, que recebeu incentivos fiscais em Goianésia e diz que irá gerar 700 empregos diretos. 

Apesar do cenário aparentemente favorável ao desenvolvimento de veículos elétricos em Goiás, especialistas falam dos custos envolvidos sem previsão de retorno.

“O problema é ter dinheiro para atender ao que vem por aí, mas sem saber o tamanho do mercado para carros elétricos no Brasil. O que se tem em Goiás irá atender a um universo restrito”, diz Luiz Carlos Mello, diretor do Centro de Estudos Automotivos e ex-presidente da Ford.

Sérgio Habib, presidente da JAC Motors no país, também faz ressalvas aos veículos não poluentes. A empresa investe R$ 200 milhões numa fábrica de carros no estado, com início da produção previsto para 2019. “Não acredito em veículo elétrico no Brasil nos próximos 20 anos”, afirma. “Mesmo com isenção, vai custar R$ 100 mil.”

Para Habib, o polo se desenvolverá com a retomada das vendas. “Todas as fábricas têm capacidade ociosa.”

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