Descrição de chapéu Inovação Educativa

Melhora da educação depende de parceria entre governo e sociedade

Para especialistas, atenção na primeira infância é fundamental para o desenvolvimento do estudante

Murilo Cavalcanti, secretário municipal de Segurança Urbana de Recife, Haroldo Corrêa Rocha, secretário estadual de Educação do Espírito Santo, Priscila Cruz, presidente-executiva do Todos Pela Educação, e Paulo Saldaña, jornalista da Folha e mediador do debate - Keiny Andrade/Folhapress
Beatriz Maia
São Paulo

As políticas públicas desenvolvidas em rede, ou seja, a partir de parcerias entre setores do governo e da sociedade civil, são a única forma de alcançar resultados positivos perenes na educação, segundo especialistas.

Nos últimos anos, o Brasil acelerou sua demanda pela qualidade na educação. De 2013 para 2017, aumentou de 61% para 74% o percentual dos que concordam totalmente que um ensino de baixa qualidade é prejudicial para o desenvolvimento do país, segundo pesquisa realizada por Todos Pela Educação em parceria com a CNI (Confederação Nacional da Indústria).

O tema foi debatido nesta quinta-feira (23) pelos participantes do 3º fórum Inovação Educativa. O evento foi realizado pela Folha em parceria com a Fundação Telefônica Vivo, na Unibes Cultural, em São Paulo.

Os palestrantes chamaram a atenção para a descontinuidade das ações a cada troca de governo. Para eles, o acompanhamento ativo da sociedade civil é que pode mudar essa realidade.

“O que foi feito pode morrer quando troca o gestor se a sociedade não acompanha. Essa é a história do Brasil. Só com acompanhamento, pressão e apoio da sociedade civil que a coisa anda”, disse Priscila Cruz, presidente-executiva do Todos Pela Educação.

O secretário estadual de Educação do Espírito Santo, Haroldo Corrêa Rocha, destacou a importância de buscar experiências de sucesso. “Nós não tentamos inventar a roda, nós buscamos experiências de outros lugares”, afirmou Rocha.

Ele citou como exemplo a implantação de um sistema eletrônico nas escolas do Espírito Santo, que organiza as informações dos estudantes. “Isso tem permitido que o sistema municipal acompanhe os dados em tempo real, e não tenha de esperar os dados consolidados no censo da educação, que é uma vez por ano”, contou o secretário.

Para o secretário municipal de Segurança Urbana de Recife (PE), Murilo Cavalcanti, a transformação deve ser feita em áreas pobres. Segundo ele, é preciso acabar com a lógica perversa de fazer o pior para quem é mais pobre.

“Se fizermos uma pesquisa nas grandes cidades brasileiras, vamos ver que as piores escolas estão nos lugares mais pobres. Precisamos fazer instituições de altíssima qualidade para quem mais precisa”, afirmou Cavalcanti.

Ele apresentou o modelo do Compaz (Centro Comunitário da Paz) de Recife, instituição com duas unidades na capital de Pernambuco que oferece uma gama de serviços ligados à educação. Para ele, o espaço deve integrar pessoas de diferentes faixas etárias, interesses e histórias.

“Temos a preocupação de que o Compaz não seja um gueto. Geralmente no Brasil se faz equipamento para setores específicos. Queremos ter espaço para os meninos bonzinhos, que fazem o dever de casa, mas a gente também quer o menino que dá trabalho”, disse o secretário.

O investimento na primeira infância, até os seis anos, é ponto fundamental para permitir que o desenvolvimento do estudante seja adequado. Os especialistas reforçaram a importância de condições adequadas de nutrição e formação educacional nessa fase.

“Há duas evidências muito fortes na educação que nos dão um tapa na cara todos os dias, porque não fazemos nada em relação a elas. São a importância da primeira infância e do professor”, afirmou Priscila Cruz.

Para os palestrantes, a formação dos professores e a valorização da carreira docente é o que puxará o desenvolvimento da educação de qualidade. Cruz defende que a profissão é a mais complexa entre todas, e que é preciso reconhecer a importância social que tem para o país.

“O professor é de alta importância para a sociedade e damos uma formação qualquer, com educação a distância crescendo. Nós não pensamos nunca em fazer uma formação de médicos a distância, por exemplo”, criticou.

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