Artes e esportes precisam ser mais valorizados no currículo das escolas

Estudo mostra que música, dança e teatro estimulam desenvolvimento e atraem estudantes ao colégio

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São Paulo

As artes e o esporte têm papel importante para o desenvolvimento de alunos no ambiente escolar e, portanto, não podem ocupar um espaço inferior ao de outras disciplinas nos currículos —até porque ajudam a fomentar competências que serão usadas em outras áreas.

Esse é um dos resultados apontados num trabalho, publicado em 2019, de Flávio Comim, professor titular do IQS School of Management da Universidade Ramon Llull, na Espanha, e professor afiliado da Universidade de Cambridge, na Inglaterra.

De acordo com o pesquisador, as disciplinas ganham ainda mais importância num momento de pós-pandemia.

“Artes e esportes são aliados na retomada porque estão entre as atividades mais valorizadas pelos alunos e podem ajudar na reinserção à escola. Também são disciplinas com mais socialização e estimulam reflexões necessárias para a superação de traumas causados pela pandemia”, afirma.
Além disso, são atividades mais fáceis de serem praticadas ao ar livre, mantendo o distanciamento social.

Há, ainda, vantagens no desenvolvimento dos estudantes para além das aulas em si.

“A música traz benefícios neurológicos, melhora o raciocínio. O teatro dá entendimento de narrativa e um conceito de coesão, de lógica, à criança. Tudo isso, pode não parecer, mas está em linha com parte das competências da BNCC (Base Nacional Comum Curricular)”, diz Angela Dannemann, diretora-executiva do Itaú Social.

Na pesquisa, Comim questiona o custo de oportunidade (a perda de horas que poderiam ser gastas com artes e esportes) da educação “produtivista”, que visa resultados a partir do protagonismo de matérias como língua portuguesa e matemática.

“É um modelo que ignora o potencial das artes e esportes não só como importantes ferramentas na educação, mas também como fontes importantes de geração de habilidades únicas na vida dos alunos (como criatividade, resiliência, espírito de grupo etc.)”, diz.

Por característica, dança, teatro e esportes são atividades que podem ser praticadas em espaços abertos. Não precisam necessariamente de equipamentos, como auditórios e quadras, para serem viabilizadas.

“Se a escola tiver um espaço grande, é fácil adaptar o local para as artes e os esportes. Tudo é possível quando há um bom educador”, diz Angela.

A formação dos professores é outro ponto abordado por Comim. De acordo com o estudo, há uma espécie de consenso de que os cursos de formação rápida geralmente não são suficientes. O pesquisador cita autores que sugerem uma formação voltada para contextos específicos, menos generalista.

Para Angela, o desafio é melhorar a formação dos professores e ter mais profissionais com licenciatura em artes, dança, teatro etc. Um mesmo educador poderia atender dois ou três colégios.

Outro desafio para o acesso às artes no país é a falta de museus, exposições e apresentações culturais especialmente nas cidades afastadas.

Mesmo nelas, porém, já existem, diz Angela, organizações da sociedade civil promovendo cultura. “Temos casos na região Norte e no Centro-Oeste de organizações pequenas promovendo orquestras e apresentações de dança, por exemplo”.

A sociedade civil pode e deve ser uma parceira das escolas na missão de levar arte e esportes aos estudantes. O fomento à sua participação no processo educacional está na meta número 6 do PNE (Plano Nacional de Educação).


Os 8 princípios da arte: de que a criança necessita*

1 - Um ambiente organizado, rico em materiais que a convide a descobrir, interagir, explorando-o sensorial e cineticamente, perguntando, se surpreendendo e estimulando sua imaginação

2 - Acesso a uma ampla variedade de mídia artística que apoie expressões em duas ou três dimensões

3 - Muito tempo no qual não tenha pressa, tanto tempo estruturado como não estruturado, para explorar as propriedades sensoriais e cinestésicas dos materiais e para desenvolver habilidades e conceitos na representação de suas experiências

4 - Um educador que possa avaliar suas diversas habilidades, interesses, questões, ideias e experiências culturais, incluindo as de cultura popular

5 - Um educador que possa apoiar o desenvolvimento apropriado de suas habilidades, uso e cuidado com os materiais

6 - Um educador que a entenda e a apoie em modos únicos para que ela possa representar os seus pensamentos, os seus sentimentos e percepções através de meios e processos reais, virtuais e experimentais

7 - Um educador que a apoie de múltiplas maneiras de tal modo que a criança possa criar significados a partir de conversas, histórias, explorações cinéticas, peças, músicas e artes plásticas

8 - Um educador que a observe cuidadosamente, que a escute e reflita sobre
o seu aprendizado, usando formas múltiplas de documentação e avaliação

*segundo o estudo Defining quality in visual art education for young children: Building on the position statement of the Early Childhood Art Educators, de McClure, Tarr, Thompson e Eckhoff (2017)

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