Descrição de chapéu Por que ir ao espaço

Aumento do lixo na órbita terrestre ameaça expansão do mercado espacial

Empresas começam a fazer monitoramento e remoção de objetos, atividade que pode aumentar no futuro

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J. Marcelo Alves
São Paulo

As atividades humanas poluíram as águas, os solos e a atmosfera do planeta. Com o ambiente espacial, não foi diferente, começando já nos anos 1950. Segundo especialistas, o lixo é uma ameaça grande o suficiente para, se fora de controle, inviabilizar uma parte considerável do mercado espacial.

Em fevereiro de 2009, um satélite de comunicações da empresa Iridium Satellite, dos EUA, e um satélite militar russo desativado colidiram a uma velocidade de cerca de dez quilômetros por segundo, a uma altitude de 800 km. A colisão poderia ter sido evitada com uma manobra de mudança de órbita do satélite da Iridium, uma vez que dados dos militares americanos mostravam, na época, que os dois satélites deveriam passar a aproximadamente 500 metros um do outro.

Captura de imagem da empresa LeoLabs, que rastreia mais de 20 mil objetos na órbita baixa, a menos de 2 mil km de altitude
Captura de imagem da empresa LeoLabs, que rastreia mais de 20 mil objetos na órbita baixa, a menos de 2 mil km de altitude - Reprodução/LeoLabs

​De 1999 a 2020, a Estação Espacial Internacional fez 29 manobras para desviar de lixo espacial. Tais desvios custam caro, desperdiçam tempo e não são livres de riscos.

No caso da estação espacial, uma manobra de desvio é efetuada sempre que houver um risco de colisão de um em 10 mil ou mais, a não ser que a manobra coloque a tripulação em risco. Portanto, nem o monitoramento do lixo nem as manobras de desvio são triviais e requerem cálculos e ponderações cuidadosas.

O monitoramento de objetos e lixo espaciais era feito, até alguns anos atrás, apenas por algumas poucas entidades governamentais como as americanas e russas.

Mais recentemente, empresas como a LeoLabs, da Califórnia, estabeleceram suas próprias redes de radares e passaram a monitorar o que acontece no espaço próximo —no caso da empresa californiana, são vigiados os primeiros 2.000 km, a chamada órbita baixa (daí o Leo do nome, do inglês “low Earth orbit”). A empresa diz monitorar 20.297 objetos de diferentes tipos e oferece um aplicativo interativo onde se pode visualizar em tempo real as posições estimadas desses objetos.

No entanto, tais números são somente uma pequena fração do problema. Segundo a Nasa, a agência espacial americana, que monitora por volta de 27 mil objetos no espaço, deve haver em órbita mais de 100 milhões de fragmentos não monitoráveis (por terem menos de cerca de cinco centímetros de diâmetro).

Mesmo pequenas lascas de tinta podem ser perigosas no espaço, por sua altíssima velocidade: algumas janelas dos antigos ônibus espaciais tiveram de ser substituídas devido a danos causados por fragmentos de tinta.

Algumas iniciativas, como o satélite europeu ClearSpace-1, a ser lançado em 2025, também estão sendo tomadas para remover lixo espacial antes que ele cause problemas.

O satélite terá quatro braços robóticos para capturar grandes objetos, em missões com alvo predefinido. A missão faz parte do contrato com uma startup suíça e tem como um de seus objetivos estabelecer um mercado para empresas de remoção de detritos.

Lixo espacial
Imagem mostra formação de lixo espacial - Divulgação/ESA


Dados os mais de 2.000 satélites ativos em órbita e os muitos milhares de novos satélites com planos de serem lançados, o problema do lixo espacial só deve aumentar. Dados os riscos mas também os lucros potenciais envolvidos, o mercado para monitoramento e remoção desse lixo também deve aumentar consideravelmente no futuro, segundo analistas. Empresas conhecidas tanto na área militar como no mercado civil, como Airbus, Boeing, Lockheed Martin e Northrop Grumman, entre outras, já estão desenvolvendo tais atividades.

Outro problema é a interferência, por causa do brilho dos satélites ao refletir luz solar, das constelações de nanossatélites nas observações astronômicas —um satélite passando aparece como um risco luminoso na imagem, e ela pode ter de ser descartada ou algum fenômeno pode ser encoberto. Há acordos entre indústrias e entidades científicas para estudar maneiras de construir e operar os satélites de maneira a minimizar a perda de dados científicos.

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