Já usei um elevador que foi fincado dentro de uma área de mata. Com o equipamento, dava para qualquer pessoa vislumbrar e sentir uma beleza natural, daquelas que criam memórias que se acionam em tempos de sensibilidade das emoções para se sentir mais calmo.
Também já experimentei certa vez tocar uma versão feita com texturas em relevo de uma figura artística complexa. O modelo aumentava, para além da sua descrição auditiva, também disponível, a experiência da visitação da obra para todos, e especialmente para pessoas cegas ou com baixa visão.
Na última década, uma profusão de aplicativos para aparelhos eletrônicos tem ajudado a diminuir entraves da vida prática de pessoas com deficiência, como a oferta de dispositivos que facilitam acessar funções do celular para quem tem restrições de movimentos nas mãos. Ou outros apps que otimizam a comunicação com surdos que se utilizam da língua de sinais.
Na engenharia e na arquitetura, avanços de inteligência abriram possibilidades para que rampas, passarelas, calçamentos e adaptações fossem desenhados em lugares impensáveis, com harmonia e boas condições de uso.
O conceito de que todos podem aprender a seu modo, com ferramentas de apoio, didáticas ligeiramente transformadas e profissionais com formação, tem se expandido e consolidado a mentalidade de que não faz sentido apartar ninguém na escola e que o caminho sempre será o de todos juntos.
Em relação às deficiências intelectuais, também se expande a mentalidade de enfrentamento de padrões de comportamento, de interação com o mundo, de modos de agir e de ser.
O que resiste ainda bravamente à inclusão, à acessibilidade, é mesmo a atitude humana. É o não abrir-se ao valor contundente e inequívoco do plural. Tais maneiras de agir, muitas vezes, não se restabelecem nem à luz de obrigações legais, que se acumulam a favor da diversidade.
Quando existe disposição real de tornar a festa aberta para comemoração de quem quiser, se atenuam quaisquer entraves tecnológicos, técnicos, financeiros e de conhecimento que possam estar envolvidos em uma demanda de acesso.
Mais do que encontrar uma facilidade de acesso a uma loja, como cadeirante, espero ser visto como um consumidor. Se o provador do magazine não foi desenhado para uma cadeira de rodas, que haja uma mobilização mínima para que a roupa seja provada e que uma atitude futura consistente seja tomada diante daquela demanda, que seja genuíno o desejo de encarar as diferenças como bem-vindas.
É o comprometimento do indivíduo, por meio de ações empáticas, de reconhecimento do outro como cidadão que deve se manifestar ao mundo do jeito que é e que precisa, com suas questões físicas, sensoriais e intelectuais, que faz mexer as grandes estruturas.
Quando se identifica que a escola do filho não tem alunos com deficiência, e isso incomoda, que o museu não recebe visitantes com demandas de comunicação acessíveis, que o ambiente de trabalho não tem multiplicidade de corpos e sentidos, a promoção de mudanças estruturais e atitudinais se torna prioridade, urgência e lógica.
Tornar a nós mesmos mais acessíveis às realidades alheias, às maneiras de tocar a existência distintas das que vivemos em nossos quintais, é seguramente criar uma via em que qualquer um poderá transitar.
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