Brasil precisa levar protocolos globais de tratamento de hipertensão às unidades de saúde

País tem acesso a práticas para cuidar de doente crônico, mas gargalos impedem disseminação de cuidados

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São Paulo

O Brasil já tem acesso a protocolos internacionais para tratar pacientes com doenças crônicas. O grande desafio é fazer com que essas diretrizes cheguem a unidades locais, onde o tratamento de fato acontece. O tema foi discutido na terça-feira (18), no seminário Doenças Crônicas: Inovando com simplicidade, organizado pela Folha.

No evento, especialistas ligados às gestões pública e privada de saúde debateram sobre como garantir a continuidade do tratamento desses pacientes, muitas vezes interrompidos por eles mesmos por falta de acesso ou interesse. Entre essas enfermidades estão diabetes e hipertensão, que acometem cerca de 17 milhões e 55 milhões de brasileiros, respectivamente, de acordo com entidades que tratam das duas doenças.

Especialistas em saúde pública participam do seminário Doenças Crônicas: Inovando com Simplicidade, no auditório da Folha, em São Paulo - Jardiel Carvalho/Folhapress

"Nós temos diretrizes internacionais, com palavras-chaves e estratégias, mas no final isso deveria chegar às pontas e às pessoas que cuidam da população, como um agente comunitário e um médico da família", diz Johannes Boch, diretor de saúde populacional da Fundação Novartis.

Para Thais Junqueira, superintendente-geral da Umane, associação que apoia a prevenção de doenças, a inovação passa necessariamente pela simplificação da rotina dos profissionais de saúde que atuam no SUS (Sistema Único de Saúde). Ela destaca que os protocolos de atendimento devem ser claros e acessíveis, levando em conta o cenário agitado de várias unidades do país.

Sheila Martins, presidente da Organização Mundial de AVC, defende que profissionais da área sejam orientados a medir a pressão arterial de todas as pessoas que cheguem às unidades. "Além disso, é necessário ter um protocolo bem organizado, apontando o que deve ser feito se a pressão estiver alta. É necessário diminuir a inércia dos profissionais", afirma.

Em São Paulo, segundo o secretário municipal de Saúde, Luiz Carlos Zamarco, os agentes ligados ao SUS fazem treinamentos online para simplificar e agilizar os atendimentos. "Esses profissionais, ainda nas primeiras conversas com o paciente, precisam saber enxergar a possibilidade de a pessoa ter algum tipo de cardiopatia ou hipertensão", diz.

No ano passado, 1.048 profissionais participaram desses cursos, desde médicos e enfermeiros até aqueles que trabalham na administração das unidades. Hoje, a atenção primária do sistema da capital paulista tem 40 mil profissionais.

Programas como esses são defendidos também por Cipriano Maia, secretário de Saúde do Rio Grande do Norte e presidente do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde). Ele ainda destaca a importância de o atendimento ao paciente ser feito pela mesma equipe durante vários anos.

Segundo o Ministério da Saúde, os médicos da atenção primária ficaram, nos últimos dez anos, em média apenas seis meses na mesma equipe de saúde da família. "A rotatividade é um problema, por isso é necessária a implantação de políticas de permanência de todos os profissionais, não só médicos", afirma Maia.

Tais políticas públicas dependem de verbas disponíveis aos municípios, ponta do atendimento primário à saúde. Nesse sentido, Thais destaca a importância do programa Previne Brasil, modelo de financiamento criado pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que redefiniu os parâmetros do envio de verbas às secretarias locais.

As transferências por meio do programa levam em conta, por exemplo, o número de pessoas cadastradas na atenção primária daquela cidade.

"O Previne Brasil tem sido muito importante para municípios de pequeno e médio porte. Hoje, uma série de cidades têm o apoio não só para cadastrar a população, mas também para estratificar o risco e orientar o profissional de saúde", diz ela.

Índices divulgados pelo Previne Brasil apontam que mais de 80% dos municípios ainda não conseguem aferir a pressão arterial de 50% dos seus hipertensos a cada seis meses nem dosar a hemoglobina glicada de metade dos seus diabéticos uma vez por ano. Os dados são referentes ao último quadrimestre de 2022.

Paralelamente, Maia defende a planificação do SUS. Nesse modelo, os profissionais da atenção primária medem o risco dos pacientes e direcionam aqueles em situação graves para o atendimento ambulatorial, onde serão examinados por 12 especialistas, como cardiologista, endocrinologista, nutricionista e educador físico.

O seminário foi patrocinado pela Fundação Novartis e moderado pela repórter especial da Folha Cláudia Collucci.

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