Descrição de chapéu The New York Times Apple

Como a China aumentou sua influência sobre o iPhone

Apple está dando pequenos passos em direção à Índia, mas a produção de seu celular mais recente mostra que será difícil fazer grandes mudanças.

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Tripp Mickle
Nova York | The New York Times

Nos próximos meses, a Apple fará alguns de seus principais modelos de iPhone fora da China pela primeira vez. É uma mudança pequena, mas significativa, para uma empresa que construiu uma das cadeias de suprimentos mais sofisticadas do mundo com a ajuda das autoridades chinesas. Mas o desenvolvimento do iPhone 14, que deve ser revelado nesta quarta-feira (7), mostra como será complicado para a Apple realmente se desvencilhar da China.

Mais do que nunca, os funcionários e fornecedores chineses da Apple contribuíram com trabalho complexo e componentes sofisticados para o 15º ano de seu principal dispositivo, incluindo aspectos de design de fabricação, alto-falantes e baterias, de acordo com quatro pessoas informadas sobre as novas operações e analistas. Em consequência, o iPhone deixou de ser um produto projetado na Califórnia e fabricado na China para ser uma criação dos dois países.

O trabalho crítico fornecido pela China reflete os avanços do país na última década e representa um novo nível de participação de engenheiros chineses no desenvolvimento de iPhones. Depois de atrair empresas para suas fábricas com legiões de trabalhadores de baixo custo e capacidade de produção incomparável, os engenheiros e fornecedores do país subiram na cadeia de suprimentos para reivindicar uma fatia maior do dinheiro que as empresas americanas gastam para criar aparelhos de alta tecnologia.

Funcionários trabalhando em uma loja com logotipos de fabricantes de telefones, incluindo Apple, Huawei, Oppo, Vivo e Samsung, no mercado de eletrônicos Huaqiangbei, em Shenzhen - Jade Gao/AFP

As crescentes responsabilidades que a China assumiu pelo iPhone podem ameaçar os esforços da Apple para diminuir sua dependência do país, objetivo que ganhou maior urgência em meio às crescentes tensões geopolíticas sobre Taiwan e as preocupações latentes em Washington sobre a ascensão da China como concorrente em tecnologia.

As empresas chinesas com operações na Índia ainda terão um papel fundamental no plano da Apple de fabricar alguns iPhones no país. Em Chennai, na Índia, o fornecedor taiwanês Foxconn, que já produz iPhones em fábricas por toda a China, comandará a montagem do dispositivo pelos trabalhadores indianos com o apoio de fornecedores chineses próximos, incluindo a Lingyi iTech, que possui subsidiárias para fornecer carregadores e outros componentes para iPhone, de acordo com duas pessoas familiarizadas com os planos. A chinesa BYD também está estabelecendo operações para cortar vidro para telas, disseram essas pessoas.

"Eles querem diversificar, mas é um caminho difícil", disse Gene Munster, sócio-gerente da empresa de pesquisa tecnológica Loup Ventures. "Eles dependem muito da China."

A Apple se recusou a comentar. Foxconn, BYD e Lingyi iTech não responderam imediatamente a pedidos de declarações.

As interrupções relacionadas à Covid exacerbaram a situação da Apple. Quando a China fechou suas fronteiras em 2020, a Apple foi forçada a revisar suas operações e abandonar a prática de transportar hordas de engenheiros da Califórnia para a China para projetar o processo de montagem dos principais iPhones.

Em vez de submeter a equipe a longas quarentenas, a Apple começou a capacitar e contratar mais engenheiros chineses em Shenzhen e Xangai para liderar elementos críticos de design de seu produto mais vendido, segundo as quatro pessoas informadas sobre as operações.

As equipes de fabricação e design de produtos da empresa começaram a fazer videochamadas tarde da noite com os colegas na Ásia. Após a retomada das viagens, a Apple tentou incentivar sua equipe a retornar à China oferecendo uma bolsa de US$ 1.000 por dia durante suas duas semanas de quarentena e quatro semanas de trabalho, disseram essas pessoas. Embora o pagamento pudesse chegar a US$ 50 mil, muitos engenheiros relutavam em ir devido à incerteza sobre quanto tempo teriam de quarentena.

Na ausência de viagens, a empresa incentivou os funcionários na Ásia a conduzir reuniões antes lideradas por seus colegas na Califórnia, disseram essas pessoas. Eles também assumiram a responsabilidade pela seleção de alguns fornecedores asiáticos de futuras peças do iPhone.

A empresa agora recorre cada vez mais à China para fornecer trabalhadores com altos salários para esses trabalhos, disseram essas pessoas. Este ano, a Apple divulgou 50% mais empregos na China do que em 2020, segundo a GlobalData, que acompanha as tendências de contratação no setor tecnológico. Muitos desses novos contratados são cidadãos chineses que estudaram no Ocidente, segundo essas fontes.

A mudança na forma como a Apple trabalha coincidiu com um aumento do número de fornecedores chineses que ela usa. Há pouco mais de uma década, a China contribuía com pouco valor para a produção de um iPhone. Fornecia principalmente os trabalhadores de baixo custo que montavam os aparelhos com componentes enviados dos EUA, Japão e Coreia do Sul. O trabalho representava cerca de US$ 6 –ou 3,6%– do valor do iPhone, conforme um estudo de Yuqing Xing, professor de economia no Instituto Nacional de Estudos de Políticas, em Tóquio.

Gradualmente, a China treinou fornecedores locais que começaram a substituir os fornecedores da Apple do mundo todo. Empresas chinesas passaram a fabricar alto-falantes, cortar vidro, fornecer baterias e fabricar módulos de câmera. Seus fornecedores respondem hoje por mais de 25% do valor de um iPhone, de acordo com Xing.

Os ganhos ilustram como a China expandiu seu domínio na cadeia de suprimentos de smartphones, disse Dan Wang, analista da Gavekal Dragonomics, empresa independente de pesquisa econômica. "Essa tendência não está diminuindo", disse ele.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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