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No Japão, país da tecnologia, fax e disquetes ainda são 'paixões nacionais'

Muitos ainda se sentem mais seguros operando fora da internet e com suportes palpáveis, como o papel.

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Gonzalo Robledo
Tóquio (Japão) | RFI

Um japonês compartilhou recentemente nas redes sociais que sua filha havia lhe perguntado: "Pai, 'fax' é uma palavra ruim?". O homem começou por esclarecer que a palavra inteira era "fac-símile" e que não tinha nada a ver com o famoso insulto em inglês de quatro letras que soa semelhante.

Em seguida, ele explicou à menina que o aparelho, que é anterior à internet, não somente é vendido em todas as lojas de eletroeletrônicos, mas também é usado em seu escritório, já que muitos clientes de sua empresa, do setor de turismo, utilizam o fax para enviar listas e estatísticas internas.

Assim como em outros países industrializados, como na Alemanha, onde a resistência em se livrar do fax é surpreendente, o setor público no Japão é o principal defensor de uma tecnologia que, por ter um elemento analógico, o papel, dá uma sensação de segurança impossível de se alcançar no mundo digital.

Funcionária da Sony com câmera digital e disquete - Yoshikazu Tsuno - 10.abr.2001/AFP

A confiança no número de telefone do remetente impressa na margem de uma mensagem de fax faz com que muitos escritórios do governo aceitem o envio de documentos carimbados com um selo de identidade pessoal, o equivalente ocidental de uma assinatura.

Segurança offline

A segurança proporcionada pela operação off-line é o motivo citado pelos assessores de políticos japoneses para solicitar que o pedido de uma reunião com um legislador ou deputado seja enviado por fax.

Nas lojas de eletrônicos de Tóquio, os telefones fixos apresentam cores modernas, uma variedade de designs de botões e também uma opção de fax. Quem não tem fax pode se dirigir a uma loja 24 horas, onde sempre há um cantinho equipado com uma impressora que digitaliza o documento e o envia por fax.

Outra fixação dos japoneses com tecnologias consideradas obsoletas é o disquete.

O ministro do Digital do Japão, Taro Kono, ganhou as manchetes em agosto deste ano quando postou em sua conta no Twitter uma declaração de guerra contra o disquete: "cerca de 1,9 mil pedidos e formulários oficiais exigem que as empresas usem disquetes, floppy disk, CD, MD etc. Queremos mudar esses regulamentos para que possam ser feitos online".

Na contramão da velocidade contemporânea

Existem empresas que carregam os dados de pagamento em disquetes e os levam ao banco onde processam as informações para fazer as transferências.

A fabricante Sony, por exemplo, parou de produzir disquetes em 2011. Então, para os que estiverem preocupados com a escassez futura do produto, um fã destes pequenos arquivos anunciou nas redes sociais que uma empresa nos Estados Unidos tem um estoque de meio milhão de disquetes não utilizados.

O envelhecimento da população e a grande desconfiança dos japoneses no momento de proteger seus dados pessoais aparecem como os principais motivos para a manutenção destas tecnologias antes avançadas, mas que hoje podem ser consideradas um privilégio de quem pode viver ou trabalhar indiferente à rapidez do mundo contemporâneo.

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