Mudanças na forma como o conteúdo do Twitter é exibido têm confundido os usuários quanto às postagens expostas na página inicial da plataforma. A alteração se soma a uma série de medidas controversas adotadas pela rede social desde a aquisição por Elon Musk, em outubro.
Em janeiro, uma atualização da plataforma dividiu a linha do tempo em duas abas: a "Para Você" e a "Seguindo". A mudança afeta a página principal do Twitter, a primeira vista ao entrar no site e que, tradicionalmente, exibia conteúdos publicados pelas contas acompanhadas pelos usuários.
Agora, a página "Para Você", exibida por padrão, mostra tanto tuítes de contas e tópicos seguidos pelo usuário quanto aqueles recomendados pelo algoritmo da plataforma com base no que infere sobre seus interesses. Além disso, não exibe os conteúdos de forma cronológica.
A aba "Seguindo" exibe apenas tuítes de contas acompanhadas, e de forma cronológica.
Na versão antiga, já era possível selecionar entre receber primeiro o conteúdo mais recente ou uma curadoria feita pelo algoritmo do Twitter. A seleção era limitada, no entanto, àquelas contas que o usuário optou por acompanhar.
"Fazemos recomendações para facilitar e agilizar a localização de conteúdo que contribui para a conversa de forma significativa, como conteúdo relevante, crível e seguro. Isso significa que você poderá ver Tweets de contas que não segue. Recomendamos Tweets a você com base nas pessoas e nos tópicos que você já segue, e não recomendamos conteúdo que possa ser considerado abusivo ou spam", afirma a empresa em seu blog oficial.
O recurso foi lançado primeiro para usuários de iPhone, no dia 10 de janeiro. Três dias depois, chegou à versão de computador. No Android, sistema de celular mais usado pelos brasileiros, a atualização veio no dia 20.
A confusão surgiu porque, quando a novidade apareceu, no dia 10, sempre que o usuário abria o Twitter, a primeira página exibida era a de tweets recomendados.
O ajuste só foi feito duas semanas depois. Agora, ao fechar o site ou o app do Twitter, o usuário retornará à timeline que tiver aberto por último –o que nem sempre funciona.
Mesmo passadas semanas após o lançamento inicial, usuários continuam a reclamar na própria rede social por perceberem que, de repente, estão vendo uma curadoria de postagens socada goela abaixo.
Desde que assumiu o comando da companhia, em outubro, a gestão de Elon Musk é considerada errática. Outro exemplo disso é o contador de visualização dos tuítes.
Desde dezembro, ao lado do número de comentários, retuítes e likes, o Twitter exibe o número de pessoas que viram a publicação. A mudança impopular surgiu do nada e dividiu opiniões. A solução encontrada não foi permitir que o usuário ative ou desative o contador, mas sim deslocá-lo da esquerda para a direita.
Outro fiasco sob Musk foi a implementação do Twitter Blue, assinatura paga que oferece selo azul de "verificado", anteriormente uma forma de autenticar contas reais de personalidades e da mídia.
O lançamento no início de novembro levou a uma onda de contas falsas, que poderiam pagar US$ 8 (R$ 42) pelo selo e se passar por oficiais. Horas depois, a plataforma tentou criar um segundo emblema, exclusivo para as contas autênticas de pessoas e entidades influentes (uma espécie de "verificação da verificação"). Na sequência, o próprio Musk suspendeu o Twitter Blue, cerca de um dia depois de ir para o ar. O programa retornou em dezembro.
A instabilidade pesou no bolso. Mais de 500 anunciantes pausaram as atividades na rede entre a aquisição de Musk e janeiro, segundo o site de tecnologia The Information.
Na última quinta-feira (2), a empresa anunciou mudanças na sua API –recurso técnico que possibilita a extração de dados da plataforma e a comunicação com outros sistemas, como os que permitem fazer login em sites usando a conta no Twitter ou criar robôs para publicar na plataforma.
A rede social afirmou que o recurso passará a ser pago, mas não deu detalhes sobre as alterações, que entrarão no ar nesta quinta (9) e podem impactar pesquisadores e outras empresas.
ALGORITMO VICIANTE
Com a insistência na aba "Para Você", o Twitter agora junta-se a outras plataformas que visam engajar o usuário oferecendo de forma automática conteúdos baseados em seus interesses.
As mudanças acompanham o sucesso do TikTok, cujo poderoso algoritmo pode servir até como motor de busca. No app de vídeos, a aba tem exatamente o mesmo nome, "Para Você", e o sistema de recomendações é tido como o grande responsável pela popularidade que o serviço ganhou no mundo todo –e também por viciar pessoas no serviço.
Nessa toada, os fundadores do Instagram lançaram uma nova rede social na terça-feira passada (31). O Artifact, que ainda não está disponível globalmente, consiste em um feed de notícias e textos selecionados por inteligência artificial.
Nessas plataformas, "treina-se" o algoritmo até que ele conheça o usuário o bastante para sugerir apenas conteúdos que lhe agradem. O resultado disso é um maior tempo de tela e, claro, mais receita para as donas desses aplicativos.
Um outro efeito negativo é a criação das chamadas "bolhas" de conteúdo semelhante: como o algoritmo aprende o que os usuários gostam e com que interagem, pode passar a exibir conteúdos que apenas ecoem a opinião da pessoa.
Procurado pela reportagem, o Twitter não explicou como as informações exibidas na aba "Para Você" são escolhidas, seu impacto nos usuários ou se tomou medidas para evitar o efeito das bolhas. Em janeiro, na esteira de uma onda de corte de gastos, a empresa deixou de ter uma assessoria de imprensa no Brasil para se comunicar com a mídia local.
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