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China entra na corrida para criar concorrente do ChatGPT

Diversas empresas do país já têm planos para desenvolver grandes modelos de linguagem

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O lançamento do ChatGPT, com impressionantes 175 bilhões de parâmetros, impressionou muitas pessoas –entre as quais Robin Li, presidente-executivo e um dos fundadores da Baidu.

Detectando uma possível ameaça desordenadora ao setor de inteligência artificial chinês, Li considerou necessário que sua empresa lançasse um grande modelo de linguagem (LLM, na sigla em inglês) próprio, capaz de competir com o ChatGPT.

Li liderou pessoalmente o desenvolvimento. O vice-presidente de tecnologia da Baidu, Wang Haifeng, foi encarregado da execução do projeto. Aproveitando mais de uma década de know how sobre a inteligência artificial, a Baidu conseguiu se tornar o primeiro dos gigantes tecnológicos chineses a lançar um concorrente do ChatGPT.

O CEO da Baidu, Robin Li, durante anúncio do Ernie Bot, em Pequim - Michael Zhang - 16.mar.23/AFP

Em 16 de março, Li apresentou o Ernie Bot, na sede da empresa em Pequim. Li elogiou as capacidades do "chatbot" em termos de escrita literária e comercial, suas competências matemáticas, compreensão da língua chinesa e geração multimodal —a capacidade de produzir diferentes tipos de conteúdo, como imagens, com base em instruções de texto.

No entanto, não divulgou os parâmetros do modelo que embasa o sistema e nem ofereceu ao público uma demonstração ao vivo. No final de abril, o Ernie continuava disponível apenas para usuários de teste.

O grupo Alibaba é em geral considerado como uma das poucas empresas da China capazes de competir com a Baidu na pesquisa de LLM. Três semanas após o lançamento do Ernie, o Alibaba colocou em operação o Tongyi Qianwen, apenas para clientes empresariais convidados. O modelo de linguagem de inteligência artificial é capaz de realizar rodadas múltiplas de diálogo, escrever emails e código. E resolver problemas matemáticos simples.

Em 11 de abril, o presidente e presidente-executivo da Alibaba Group Holding, Daniel Zhang, anunciou que o Tongyi Qianwen será incorporado a todos os produtos e serviços do Alibaba no "futuro próximo". A aplicação DingTalk da empresa, semelhante ao Slack, e o seu app para casas inteligentes Tmall Genie se tornaram os primeiros produtos a ser integrados ao novo modelo de inteligência artificial.

Armados com capacidades profundas de inteligência artificial, a Baidu e o Alibaba estão tentando tirar vantagem de sua posição pioneira. Durante o lançamento do Ernie, Li disse que a tecnologia de inteligência artificial atual pode ser dividida em quatro camadas: a camada dos chips, a camada de estrutura, a camada de modelo e a camada de aplicativos.

Acrescentou que a Baidu realizou inovações autodesenvolvidas nas quatro camadas - de seu chip de inteligência artificial Kunlun à estrutura de aprendizagem profunda PaddlePaddle, passando pelo grande modelo pré-treinado do Ernie e por aplicativos de busca, computação em nuvem e para veículos autoguiados.

Do mesmo modo, o Alibaba tem seus próprios avanços em cada camada: o chip de inteligência artificial Hanguang 800, a Easy Parallel Library, que é uma estrutura de aprendizagem profunda para a formação de modelos distribuídos na camada de estrutura, o multimodal M6 e aplicativos como o DingTalk e o Alibaba Cloud.

Em comparação, o Tencent não parece ter muita pressa. Com os seus esforços de desenvolvimento de inteligência artificial distribuídos por diferentes departamentos, entre os quais o WeChat e o AI Lab, não houve um esforço coordenado para criar um produto unificado.

A companhia anunciou no final de fevereiro que tinha criado uma equipe para desenvolver uma ferramenta semelhante ao ChatGPT, chamada HunyuanAide, que irá incorporar o modelo de formação de inteligência artificial Hunyuan, criado pelo Tencent. O presidente da Tencent Holdings, Martin Lau, considera os "chatbots" como um dos muitos produtos de inteligência artificial do futuro e os encara como uma oportunidade de desenvolvimento em longo prazo, e não como uma área de concorrência que precise ser abordada de imediato.

Enquanto isso, a ByteDance escolheu um caminho diferente. Em vez de criar um sistema próprio, a empresa optou por oferecer os seus serviços àqueles que estão desenvolvendo LLMs, através de sua subsidiária de computação em nuvem, Volcano Engine. Os parceiros da empresa na área de grandes modelos de linguagem incluem as empresas de tecnologia de inteligência artificial MiniMax, Zhipu AI e Kunlun Tech. Atualmente, existem dezenas de criadores de grandes modelos de linguagem na China, e mais de 70% deles utilizam os serviços de computação em nuvem da Volcano Engine, disse Tan Dai, um executivo da empresa, à Caixin.

Embora a inteligência artificial generativa esteja intimamente associada aos principais negócios da ByteDance —vídeos curtos e distribuição de conteúdo—, a empresa tem, na verdade, o menor conhecimento e a tecnologia menos desenvolvida nessa área, em comparação com os seus pares de maior porte. Hoje, a companhia tem duas equipes trabalhando em LLMs, uma centrada na linguagem, liderada por Yang Hongxia, que antes supervisionou o desenvolvimento do modelo M6 do Alibaba, e outra centrada em áudio e vídeo, que poderia potencialmente ser integrada ao Douyin e ao TikTok. No entanto, o vice-presidente Yang Zhenyuan disse que ainda não há um calendário de lançamento.

Na verdade, empresas como Baidu, Alibaba, Tencent e Huawei Technologies já vinham criando LLMs há vários anos, mas os utilizavam principalmente para pesquisa ou aplicativos de nível empresarial. Não haviam considerado os chatbots para utilização pública. "São caros demais", disse um executivo da Baidu.

O executivo explicou que, na Baidu, o desenvolvimento empresarial começa normalmente pela identificação da aplicação comercial, antes do desenvolvimento do produto, como no caso dos geradores de imagens de inteligência artificial e de composição de inteligência artificial. No entanto, no caso dos produtos do tipo ChatGPT, cabe aos usuários identificar para que querem utilizar a ferramenta. E agora, para se manter na vanguarda, será necessário que todos os serviços de busca, como a do Baidu, tenham um plug-in de "chatbot’; de outra forma, eles se tornarão inúteis, disse a pessoa.

Na China, hoje, o ChatGPT é visto como o ingresso premiado para a próxima revolução da internet. E as empresas que não conseguirem garantir um desses ingressos temem ser marginalizadas no futuro. Desde o frenesi do ChatGPT, pelo menos 17 empresas anunciaram planos para intensificar o desenvolvimento de LLMs.

Zhang, do Alibaba, coloca a questão de forma mais direta. Ele acredita que vale a pena reestruturar todos os setores, aplicativos, software e serviços com base na tecnologia de conteúdo gerado por inteligência artificial e na tecnologia apoiada por LLM.

Embora os gigantes chineses da tecnologia estejam mergulhando de cabeça na corrida dos grandes modelos de linguagem, seus produtos ainda estão longe de ser "fáceis de usar". No caso da função de geração de imagens do Ernie, algumas pessoas se queixaram de que a pergunta era efetivamente traduzida para inglês antes de uma resposta ser gerada, e que assim o sistema não compreendia expressões idiomáticas chinesas e os nomes de certos pratos locais. Muitas respostas dadas pelo Tongyi Qianwen também continham erros factuais e informações desatualizadas. É claro que esses problemas não se limitam apenas aos produtos citados - surgiram queixas semelhantes com relação ao ChatGPT.

Li, da Baidu, reconheceu que o ERNIE fica aquém da versão mais recente do ChatGPT. Mas está confiante em que seriam precisos apenas "um ou dois meses" para estreitar a diferença.

Nem todos compartilham de seu optimismo. Yin Qi, presidente-executivo e um dos fundadores da Megvii Technology, acredita que os próximos 12 meses serão uma janela crucial para que as empresas apresentem avanços tecnológicos que possam desafiar o desempenho do ChatGPT-4. Na sua opinião, um máximo de duas delas encontrarão sucesso.

Este texto foi originalmente publicado aqui.

Tradução de Paulo Migliacci

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