Descrição de chapéu internet Facebook Meta

Reino Unido aprova regulação de big techs e abre caminho para remuneração de imprensa

Parlamento britânico votou lei aos moldes do ato de mercados digitais europeu, com previsão de multa de até 10% do faturamento anual

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São Paulo

O Parlamento britânico aprovou, nesta quinta-feira (23), uma lei para regular mercados digitais, como redes sociais, buscadores e lojas de apps. O objetivo é evitar práticas anticoncorrenciais dos gigantes da tecnologia. A medida ainda precisa do selo real, que funciona como a sanção presidencial no Brasil.

O texto da lei britânica de mercados digitais, concorrência e consumidores, como é chamada, colocará empresas como Google, Meta (dona de Facebook, Instagram e WhatsApp), Apple e Microsoft na condição de "mercado estratégico" —o que aumenta os poderes de polícia sobre essas firmas pela Autoridade de Competição e Mercados (CMA, na sigla em inglês), o órgão antitruste britânico.

Montagem com logo de empresas que precisam se adequar ao DMA, ato de mercados digitais europeu que entrou em vigência em 2023. Em ordem: Google, Amazon, Microsoft, Wikipedia, Brainly, AliExpress, Facebook, Meta, Apple, Snapchat, Linkedin, Youtube, Instagram, Twitter, Tik Tok e varejistas de roupas Zalando.
Empresas que precisam se adequar ao DMA, ato de mercados digitais europeu que entrou em vigência em 2023 - AFP

Uma unidade da CMA que já estuda o comportamento das empresas de tecnologia, chamada de Unidade de Mercados Digitais, confirmará quais empresas terão esse status, caso o texto votado na quinta receba o selo real.

A legislação, aprovada sete dias antes da dissolução do congresso para a realização de novas eleições em junho, tem redação abrangente e dá ao CMA a responsabilidade de definir o que seriam práticas abusivas. As empresas terão de se adaptar a três princípios: negociação em termos justos e razoáveis, dar aos usuários opções de escolha informada durante o uso de aplicativos e plataformas digitais e informar os consumidores previamente sobre mudanças que tenham impacto material.

A News Media Association (entidade patronal dos veículos jornalísticos britânicos) elogiou o texto e avalia que a legislação abre caminho para que as empresas de mídia tenham condições de reivindicar remuneração de Google e Meta pela circulação de links de notícias, aos moldes dos modelos adotados na Austrália e no Canadá.

As empresas jornalísticas vão poder acionar a CMA para apontar supostas práticas anticoncorrenciais das big techs, sem precisar ir aos tribunais. A autoridadade antitruste poderá impor multas de até 10% da receita anual dos gigantes da tecnologia.

Nos casos em que jornais e revistas de Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido e Chile processaram Google e Meta pedindo compensação pelo tráfego que as big techs ganham com jornalismo, a principal alegação das empresas de mídia é o suposto abuso de uma posição quase monopolista para ditar as regras do mercado de anúncios. Os veículos jornalísticos diz que as receitas de anúncios estão em baixa, embora o dinheiro gasto com publicidade na internet tenha crescido nos últimos anos.

O Google se defende e chama as ações, em geral, de "especulativas e oportunistas". A Meta argumenta que não precisa da audiência proveniente de jornalismo e afirma que os publishers usam as redes sociais para ampliar a audiência.

A nova legislação britânica ainda pode demorar até ter efeito no dia a dia, visto que a CMA ainda precisará definir as obrigações das empresas marcadas como de "mercado estratégico", de acordo com a professora de direito da Universidade de Sussex, Beatriz Kira. "A autoridade já tem contratado gente e criado expertise, mas vai precisar entender de forma específica qual o desafio concorrencial de cada empresa e terá o desafio de desenhar regras para remediar dores específicas", afirma.

A lei britânica tem o mesmo objetivo do Ato de Mercados Digitais (DMA, na sigla em inglês) da União Europeia, mas, ao contrário do DMA, que possui um conjunto fixo de regras para determinadas empresas, permite uma grande flexibilidade.

O projeto de lei foi proposto pela bancada conservadora do premiê Rishi Sunak e teve apoio dos outros dois maiores partidos britânicos, o Trabalhista e o Liberal-Democrata.

Lorde Offord de Garvel, conservador da câmara alta, disse que a legislação "será vital para incentivar o crescimento, inovação e produtividade, ao mesmo tempo em que protegerá consumidores."

"No geral, acreditamos que é um bom projeto que toma os primeiros passos para regular o comportamento das big techs, em uma corrida em que já estamos atrasados", disse Jones de Whitchurch, dos Trabalhistas.

O texto aprovado também é popular entre ativistas e desenvolvedores de aplicativos, que pedem por um jogo mais equilibrado dentro das lojas de aplicativos, como a App Store, da Apple, e a Play Store, do Google, disponível em aparelhos Android.

Críticos ao projeto e os gigantes da tecnologia afirmam que as regras podem ser "excessivamente onerosas" e "arrefecer a inovação" em mercados digitais. Argumentos similares foram feitos em relação ao DMA europeu, segundo Kira.

Outro ponto de crítica é o papel relevante que o regulador desempenhará nesse novo regime. A CMA será não apenas a autoridade antitruste, mas também o órgão regulador que vai especificar as regras dos códigos de conduta para cada empresa.

"Isso exige uma capacidade institucional adequada para dar conta do volume e da complexidade de implementação de uma lei nova e bem demandante", diz a professora da Universidade de Sussex.

No relatório de análise de impacto regulatório da proposta, o governo admite, de um lado, que há um risco de que as empresas afetadas terão seus lucros potencialmente reduzidos, e que empresas internacionais podem descontar investimentos pelo "clima regulamentar" do Reino Unido ao planejarem as suas atividades comerciais. De outro, a análise de impacto menciona vários benefícios potenciais para os mercados e para consumidores, a partir da promoção de concorrência.

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