Mendoza, capital do vinho malbec, aposta agora em brancos e rosés

Região argentina abre neste mês temporada de colheita, uma das melhores para visitar vinícolas

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Vinhedos com montanhas cobertas de gelo ao fundo

Vinhedos da vinícola Norton na localidade de Perdriel, em Mendoza, na Argentina Divulgação

Mendoza (Argentina)

Em Mendoza, até as fontes das praças fazem questão de lembrar quem passa por elas: esta é a terra do malbec. As águas dançantes tingidas de vermelho nos espaços públicos remetem à variedade de uva que tornou a Argentina conhecida no mundo todo por seus vinhos tintos.

Recentemente, porém, as visitas a vinícolas do entorno da cidade, capital da província homônima, têm feito os turistas verem cores diferentes nas taças. Rótulos de brancos, rosés e espumantes se multiplicaram entre as opções de algumas marcas e são a nova aposta de Mendoza para ganhar prestígio para além do clássico malbec.

A Bodega Norton, fundada em 1895, é a que produz brancos em maior quantidade na região. Hoje em dia pouco mais da metade dos 20 milhões de litros anuais da vinícola ficam com os tintos. Os demais, algo em torno de 10 milhões de garrafas por ano, são brancos, rosés e espumantes.

Funcionários uniformizados com roupas cinza colhem uvas das parreiras dispostas em fileiras
Vindima (colheita de uvas) na vinícola Norton, em Mendoza, na Argentina - Divulgação

Essa guinada, conta Michael Halstrick, CEO e proprietário da Norton, se desenhou há cerca de cinco anos e ganhou mais força durante a pandemia —não só na sua companhia, mas como uma tendência mundial, destaca.

"Talvez porque seja um vinho mais fácil de tomar", diz o austríaco, que há três décadas se mudou para Mendoza para administrar a vinícola da sua família, os Swarovski, conhecidos pela marca de cristais.
"Antes não vendia nada, mas agora há até falta de brancos no mercado", completa ele, que no Novo Mundo é mais conhecido por Miguel.

As exportações, ele conta, são puxadas por EUA e Holanda. O Brasil, onde os vinhos da Norton são distribuídos pela importadora Casa Flora, está na mira para ser um mercado da mesma grandeza.

Um dos reforços para a linha de brancos veio da terra natal da família proprietária: a variedade austríaca grüner veltliner. Os primeiros rótulos saíram entre 2018 e 2019, fazendo da Norton, que tem à frente o enólogo argentino David Bonomi, a primeira vinícola da América do Sul a usar essa uva.

Mas nem só de castas novas para a região vive a produção de brancos e rosés, pelo contrário. A uva malbec, se prensada suavemente, não deixa a cor intensa característica da sua casca no mosto e dá origem ao "malbec blanco" e "malbec rosado".

A vinícola Susana Balbo, da enóloga homônima, pioneira entre as mulheres nessa profissão na Argentina, é uma das que adotaram esse outro uso.

"A Argentina é conhecida por seus tintos potentes, principalmente malbec, mas nosso DNA inovador nos permite pensar fora da caixa e representar nosso país com brancos e rosés de alta qualidade", diz o texto da vinícola que convida para uma visita à sede. Na Susana Balbo, atualmente de 30% a 40% da produção são brancos e rosés.

Para além das cifras de mercado, o impulso desses vinhos significa, para os turistas, poder apreciar Mendoza com taças de bebidas mais leves e geladas, ideais para o calor.

E justamente uma das melhores temporadas para conhecer (ou revisitar) a região começa em janeiro. Do fim deste mês até abril, época em que as máximas chegam facilmente aos 30°C, é realizada a vindima, a colheita das uvas.

É nesse período em que é possível presenciar as belas imagens dos parreirais cheios de folhas e cachos de uva, o contrário do que se vê no inverno, quando só restam galhos das plantas em meio à neve —não que essa cena congelante, emoldurada pela Cordilheira dos Andes e seus picos sempre brancos, não impressione. Afinal, em 2022 foram 3,5 milhões de visitantes na província de Mendoza, somadas todas as estações.

Para celebrar o período de colheita, a capital organiza anualmente uma festa com apresentações de música e dança. Em 2023, a programação acontecerá de 3 a 6 de março (informações em vendimia.mendoza.gov.ar). As vinícolas também costumam oferecer tours especiais nesses meses, para que visitantes conheçam de perto essa etapa da produção e até ajudem na colheita.

Aos enoturistas de primeira viagem, alguns avisos: a região é muito ensolarada e seca. Se para vinhos a combinação é campeã —agregada à água que degela das montanhas e garante que se possa irrigar as plantas—, para turistas pede atenção. Protetor solar, chapéu e água são essenciais.

Também é importante ter em mente que não se pode beber e dirigir em Mendoza. Vale a regra do Brasil, de tolerância zero ao álcool. Dessa forma, contratar tours até as vinícolas é o mais recomendável.

Além disso, é bom contar com motoristas profissionais porque há regiões a que se chega apenas por estradas mais difíceis —mas que compensam pelas paisagens extremas. Quem quiser conhecer as novas fronteiras da produção de Mendoza, no Vale do Uco, por exemplo, pode esperar se deparar com cenários pedregosos à beira dos Andes a caminho de vinícolas como Finca Sophenia e Andeluna.

É lá que, pela grande amplitude térmica, pelas características dos solos e pela altitude elevada (acima de mil metros), a uva malbec e outras tantas têm garantido garrafas com equilíbrio e acidez admiráveis —em todas as cores.


VISITAS A VINÍCOLAS

Norton
Está aberta a visitas e atividades de segunda a domingo. Custam de 4.500 pesos (cerca de R$ 127) a 21.500 pesos (R$ 608), por pessoa. É necessário reservar em wineobs.com.ar/mro/norton.

Susana Balbo
Há tours e degustações todos os dias, com preços de 6.500 pesos (R$ 183) a 41.500 pesos (R$ 1.170), por pessoa, sob reserva. Informações em turismo-susana-balbo-wines.meitre.com.

Andeluna
Recebe visitas de terças a domingos, com programas que vão de 5.550 pesos (R$ 156) a 21.530 pesos (R$ 607), por pessoa. Reservas em wineobs.com.ar/mro/andeluna.

Finca Sophenia
Visitas de terças a sábados, de 3.200 pesos (R$ 90) a 6.500 pesos (R$ 183), por pessoa. É preciso reservar pelo email visitas@sophenia.com.ar. Informações em sophenia.com.ar.

A jornalista viajou a convite da Bodega Norton

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