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11/08/2011 - 07h27

Macacos me morderam

LUCAS MENDES
DA BBC BRASIL, EM NOVA YORK (EUA)

Voltei das férias no Brasil e entrei no zoológico. Macacos em guerra liderados pelo genial Cesar, neste sétimo filme da industria "Planeta dos Macacos", conquistaram os humanos e até os críticos mais desumanos. Cesar é brilhante e é de briga.

Fora das telas, o macaco notícia foi Bongo, manchete dos tabloides nova-iorquinos. Um boneco de vinte centímetros de altura que era criado como um filho pelo casal Bonni Marcus e Jack Zinzi.

A caminho de um restaurante, esqueceram Bongo em cima de um parquímetro. Inconsoláveis, distribuíram panfletos pela área em busca de Bongo com uma recompensa de US$ 500 pelo retorno do filho.

Luis Barreto, um sem-teto, encontrou Bongo e se afeiçoou dele a ponto de não se interessar pela recompensa.
O macaco quase foi partido ao meio quando a mãe puxava um braço e o sem-teto o outro. Afinal, houve acordo: o sem-teto recebeu os US$ 500 e direito de visitação.

Não há acordo possível com a macacada na capital do zoológico. O presidente Obama é brilhante, mas não é de briga, como Cesar. O país quase deu o calote e até hoje não ficou claro porque o presidente não aplicou a 14ª emenda da Constituição, que obriga os Estados Unidos a pagar todas as dívidas. A única explicação de Obama foi que os advogados dele acharam que não era uma boa solução.

Nesta semana de macaquices, perdemos um Homem, com H maiúsculo, que salvou Nova York na década de 70, durante uma de suas piores crises financeiras. Mantidas as proporções, era tão grave quanto a crise americana.

Hugh Carey tinha 93 anos. Democrata, governou o Estado de 1975 a 1982. Foi eleito fora da máquina do partido e jamais foi corrompido por ela ou outras forças, mas 99% dos americanos fora de Nova York não sabem quem foi ele. E aqui mesmo pouca gente se lembrava de Carey até sua recente morte que ressuscitou seus méritos.

Quando foi eleito, a cidade estava à beira da falência e o governador não entendia por que Washington ignorava todos os pedidos de ajuda. Foi à capital e, durante um jogo de golfe com um informante, descobriu que a sabotagem era liderada pelo prefeito Dick Daley, o Cesar de Chicago que controlava a delegação de Illinois.

O argumento dele: se Nova York falisse, Chicago passaria ser a capital financeira do mundo. Era um macaco poderoso, embora enxergasse mal. O Estado dele também ia a caminho da falência. A crise de 70 tinha canalhas e situações semelhantes às de hoje.

Quem fazia a cabeça do presidente Gerald Ford era o chefe da casa civil, Donald Rumsfeld, ele mesmo, um dos pais da invasão do Iraque no governo Bush. Ele, também de Illinois, estava pendurado no cipó do prefeito Daley.

Hugh Carey despachou emissários a Illinois, desfez a conspiração e com uma habilidade extraordinária montou uma delicada, mas eficiente, coalizão de sindicatos, banqueiros, democratas, republicanos e independentes.

Milhares de empregados fizeram concessões penosas, banqueiros tiveram menos lucros e até pequenos prejuízos, mas a cidade evitou a falência.

Carey dizia: eu jamais deixaria um dos meus filhos falir, e Nova York é como um filho. Ele tinha 14, todos morando na mesma casa, no Brooklyn, num regime em que o mais velho era responsável pelo mais novo, de alto a baixo. E deu certo. E nenhum faliu.

Carey herdou os princípios de moralidade financeira e da antifalência com o pai, que na década de 30 mexia com petróleo e entrou numa crise durante a depressão.

Os credores cercavam o homem na porta da casa. Um dia, jogando beisebol com os filhos, fingiu que errou o arremesso, mandou a bola por cima do muro, pulou atrás dela e saiu às carreiras, perseguido pelos credores.

Escapou deles, da falência, ensinou uma lição para seu filho, futuro governador de Nova York, que ensinou várias lições para o país, infelizmente esquecidas.

Sem um Cesar para disciplinar a macacada em Washington nem um Hugh Carey para ensinar a dividir o cipó, vamos continuar perdidos muito tempo na floresta desta crise.

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