Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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Claudio Bernardes

Espaços públicos devem ser usados na educação de crianças e jovens

Territórios educadores podem ser definidos como os espaços públicos da cidade, preferencialmente no entorno de estabelecimentos de ensino, projetados e adaptados, primordialmente, para a educação de crianças e jovens.

Esse conceito, cuja perfeita compreensão e aplicação ainda necessita de estudos e desenvolvimento aprofundados, pode se transformar em uma poderosa ferramenta de ensino para crianças e jovens aprenderem noções de urbanidade, cidadania e convivência social e conceitos básicos de funcionamento da cidade e da função do meio ambiente natural nas áreas urbanas.

A conceituação mais antiga e tradicional de educação utilizava como modelo o confinamento do aluno na sala de aula. Contestado por um grande número de especialistas, a evolução desse sistema permitiu alterar programas de ensino, fazendo com que os projetos das escolas incluíssem espaços de aprendizagem além da sala de aula.

Essa ideia pode ser transportada para um modelo mais amplo, criando no entorno da escola espaços públicos com as mesmas funções de ensino intramuros, mas voltados para promover o entendimento do funcionamento da cidade em toda sua abrangência.

Segundo especialistas, espaços abertos e ambientes naturais parecem estar diretamente associados ao desenvolvimento cognitivo das crianças, por meio da criação de oportunidades de experimentação, exploração e desenvolvimento lúdico. As crianças são afetadas emocionalmente pelas configurações externas, pelo contatos diretos, literais e táteis. A cognição permite que as crianças sejam construtores ativos de seus próprios conhecimentos, e o contato direto com os recursos e os fatores ambientais permitem a elas explorar, imaginar e descobrir novidades.

Trechos de praças públicas podem ser preparados e adaptados para ensinar às crianças a importância da diversidade biológica e da vegetação para as áreas urbanas. Espaços que façam as crianças entenderem, por exemplo, os efeitos nefastos da poluição sobre a saúde humana, e demonstrar a capacidade das plantas de tornar o ar mais limpo.

Explorar a história da cidade a partir de elementos locais da paisagem urbana pode ser também uma ação interessante e eficiente. Adaptações físicas que ressaltem determinados aspectos históricos e permitam aos alunos imaginar os acontecimentos ali ocorridos estabelecem vínculos e noções de pertencimento ao espaço urbano.

A convivência monitorada com a cidade real, as lojas, os shoppings, os bares, enfim, todos os lugares onde as pessoas transitam, trabalham, se encontram e se divertem propicia oportunidades de aprendizagem, conhecimento do território e do entendimento de sua conexão com o dia a dia das pessoas.

O exercício da cidadania é outro aspecto extremamente relevante. A experiência da vida em sociedade, no espaço e no tempo, dando a essas crianças a oportunidade de ter contato com a diversidade, vivenciar conflitos e observar soluções, permite construir e formar, em bases sólidas, cidadãos responsáveis e conscientes da importância da integração social.

Enfim, o aprendizado da apropriação responsável do espaço público e sua utilização em benefício da cidade e de seus cidadãos estabelecerá fortes laços entre as crianças e os conceitos de cidadania e vida em comunidade, ajudando-nos a construir uma sociedade mais comprometida com o bem-estar de todos.

Está mais do que na hora de começarmos a estudar seriamente esse assunto, e planejar de forma responsável e dirigida os espaços públicos, que poderão se transformar nos territórios educadores de nossas cidades.

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