Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Luciana Coelho

Dupla 'Key & Peele' renova piadas de raça

Dupla 'Key & Peele' renova piadas de raça

Fazer humor usando estereótipos e incorreções políticas é um caminho pedregoso que raramente leva a um final feliz –vide os tristes exemplos do humor stand-up brasileiro nos últimos anos. Por isso, os poucos que conseguem fazê-lo com graça, como a dupla americana Key & Peele, merecem atenção.

Keegan-Michael Key, 44, e Jordan Peele, 36, na TV americana há quatro anos pelo canal Comedy Central, ganharam notoriedade mundial em abril com um vídeo feito no celebrado jantar anual dos correspondentes da Casa Branca, do qual sempre participa o presidente e um comediante em alta no momento.

Nele, Key aparece com Barack Obama interpretando o personagem mais famoso da dupla, o "tradutor de raiva" –que, em vez de verter o que o presidente diz para outra língua, acrescenta às falas do político as emoções negativas que ele supostamente omite.

É uma brincadeira com a fama de tranquilo de Obama, mas é também uma sátira ao estereótipo racista americano do "angry black man", algo como o "negão barraqueiro".

Em seu programa de meia hora na TV, eles subvertem este e outros arquétipos racistas para ridicularizar aqueles que os adotam. Conseguem fazer pensar, mas principalmente fazer rir com esquetes rápidos, povoados por personagens de variados graus de "negritude" e "branquitude".

Embora tampouco tenham trava na língua, o humor da dupla é mais arguto e moderno que o de outros comediantes negros de sucesso, como Chris Rock. Talvez por isso tenham conquistado uma plateia mais ampla, sem maquiar sua origem (a revista "GQ" os pôs em 2014 no topo da lista de melhores comediantes vivos, atrás apenas do ruivo Louis C.K. e da loirinha Amy Schumer).

No primeiro episódio do programa, que foi ao ar em 2012, os comediantes fazem questão de dizer que são "birraciais" (aquilo que o Censo brasileiro chama de "pardo"). Estão autorizados, portanto, a tirar sarro de brancos e negros.

É uma ousadia em um país onde o presidente é "birracial" mas a indústria do entretenimento segmenta sua produção entre brancos e negros. Diretores como Tyler Perry enriquecem com filmes para o segundo público, mas que passam em branco pelo primeiro, enquanto as comédias românticas hollywoodianas raramente apresentam um personagem negro verossímil.

Gente como Key e Peele e o produtor Lee Daniels, que neste mês comemorou o fato de sua "Empire" (com elenco quase todo negro) virar a série mais vista dos EUA pelo público adulto, começa a borrar essas divisórias sem ignorar sua existência.

O braço brasileiro do Comedy Central não planeja, por ora, exibir o programa da dupla no Brasil. É possível vê-los no YouTube, onde têm uma playlist no canal do Comedy Central, e no Twitter (twitter.com/keyandpeele). Busque o tradutor de raiva e os "recaps" de "Game of Thrones" e afie seu inglês.

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