Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Mariliz Pereira Jorge

Você emagreceu é tudo o que quero ouvir

Crédito: Reprodução/TV Folha Mulher verifica o peso
Mulher verifica o peso

Porteiro, amigos, recepcionista da academia, fisioterapeuta, colegas de trabalho, leitores, seguidores no Instagram, o mundo. Todos já repararam que emagreci. A cada vez que alguém repete esse mantra sagrado, aumento a carga no legpress e sofro sem reclamar. Há dois meses não falto à academia a ponto de ter me referido à malhação como "treino", o que fez meu marido erguer a sobrancelha, preocupado. Shake de proteína já faz parte do meu cardápio, mas sigo resistente a comer batata doce no café da manhã. Tudo sob controle.

Há dois meses espero que o ser escolhido para me esposar diga aquilo que ao menos uma parte das pessoas quer ouvir. Mas ele insiste em mandar mensagens remelentas para declarar amor eterno, sem entender que, às vezes, tudo o que alguém precisa é ouvir que está magra. Mais magra. Que já dá para ver a saboneteira. Que o vãozinho na lateral da coxa ensaia uma aparição triunfante. Que o anterior da coxa parece uma comissão de frente nota 10. Mas nada.

Meu amor, não diga que me ama, diga que minha calça está caindo, que minha panturrilha está malhada, que meus tríceps estão saltando. Mentiras sinceras me interessam.

No fim de semana, deitei pelada na cama, esparramada e languida, tão esticada que o ilíaco despontava. Meio tímido. Tudo que consegui foi que ele perguntasse se era dor na lombar. Com a minha negativa, perguntou o que eu gostaria de almoçar, antes de desaparecer em direção à cozinha. Alface, é o jeito.

Sei que ele me considera inteligente, divertida, a melhor parceira de viagem e de maratona de séries, mas depois de uma idade tudo o que quero é que a razão de tanto supino e agachamento me ache gostosa. Depois de cinco anos de casamento, dois gatos, uma reforma, terapia de casal, depressão, casamento na Tailândia, tudo o que quero ouvir é que minha bunda está dura.

Casamentos acabam. Relações se desfazem. Tudo pela falta de comunicação entre os casais. A pessoa leva duas semanas para dizer eu te amo e a eternidade para perceber que dei adeus ao manequim 44.

E antes que me acusem de preconceito, por favor, quero que todos os gordos, os gordinhos, gordões, sejam felizes, amados e respeitados em sua corpulência, mas eu tenho todo direito de ser gordofóbica comigo mesma, como me tranquilizou minha amiga Sabrina. Abaixo a ditadura plus size. Cada um sabe onde o jeans aperta. O importante é estar satisfeito com o próprio corpo, não é mesmo?! Eu não estava com o meu.

Dei adeus à legging preta, aos vestidos e camisetões largos. Meu tamanho agora é "inho". Shortinho e vestidinho. Nem assim, consegui arrancar um "ai, delícia, assim você me mata". Talvez batata doce no café da manhã não seja má ideia. Quem sabe assim ele repara.

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