Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
23/09/2010 - 08h31

Ferran Adrià fala do "espaço de criatividade" que substituirá o El Bulli

Publicidade

ROBERTO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A ROSES (ESPANHA)

O melhor cozinheiro da década não quer mais ser cozinheiro. Pelo menos não como foi até agora.

Ferran Adrià diz que melhores gourmets do mundo estão no Brasil

"Seria muito chato", diz Ferran Adrià, 48. No ano que vem, ele fecha o portão do restaurante El Bulli para reabri-lo em 2014, como outra coisa. Mas que outra coisa?

Como um centro que não será de cozinha, segundo definiu o chef espanhol à Folha, e sim de criatividade. "A cozinha é o meio."

Adrià engata uma segunda explicação: não será uma escola, e sim um "museu" onde "a missão é criar".

É o contrário do que ocorre no restaurante. "As pessoas verão o conhecimento, e não a experiência."

Mas ele servirá comida? "Algum dia", diz Adrià. Como? "Não sei."

Uma coisa, sim, ele sabe: acabará uma das mais disputadas listas de reservas do mundo gastronômico, superada por só 50 pessoas ao dia entre junho e dezembro.

Esse funil conduz à casa que ganhou cinco vezes o título de melhor do mundo da revista "Restaurant" e que ficou em segundo na premiação deste ano, que deu a Adrià a distinção da década.

Com o projeto, acha que mais gente entrará ali --isso depois de percorrer uma estrada sinuosa na Costa Brava catalã até a cala Montjoi, uma enseada paradisíaca a duas horas de Barcelona.

Jeronimo Giorgi/Folhapress
O chef Ferran Adrià durante entrevista à Folha no restaurante El Bulli, en Roses (Espanha)
O chef Ferran Adrià durante entrevista à Folha no restaurante El Bulli, en Roses (Espanha)

Os visitantes verão não só a equipe de Adrià como 25 bolsistas, nem todos cozinheiros. "Queremos que existam algum filósofo e dois jornalistas."

Jornalistas? "São os que vão publicar na internet."

A internet é o motor do novo projeto. Motor de pressão sobre o próprio Adrià, que diz não conseguir criar de outra forma. As invenções serão anunciadas diariamente. "É a maneira de nos julgarem."

É também a maneira de girar uma rede de ideias para o mundo da gastronomia. "Não estamos fazendo um fórum do tipo 'eu fui comer e isso'. É o profissional dizendo: 'Estou fazendo este produto'. Queremos ajudar as pessoas, na cozinha não há tempo para criar."

Ele já decidiu que vai fechar a oficina-laboratório de Barcelona, onde são desenvolvidos os pratos do Bulli.

Porque sua função estará incorporada no novo centro. Adrià tem a pretensão de que saiam dali as pessoas que ditarão o futuro da gastronomia. Para criar bem, é preciso pensar bem, diz ele. E como se ensina isso?

"Explicando que tudo é relativo, sobretudo na comida", responde. "Não existe comida estranha, existe gente estranha."

Uma definição que gosta de repetir. "Quando lhe dizem isso, você entende que há liberdade. É normal que exista gente que não quer descobrir coisas novas. Que diga: 'Como sempre maçã'."

Ele, porém, acha que "o bonito é descobrir". Nos próximos anos, quer viajar o mundo, o que inclui uma passada pelo Brasil --onde ele não descarta abrir uma filial das casas de tapas que montará com Albert Adrià, seu irmão.

Dos negócios paralelos e da exploração de sua imagem espera conseguir dinheiro para bancar o centro, que será uma fundação.

Mais ou menos como hoje, já que com os 2,5 milhões de euros (R$ 5,6 mi) que fatura por ano a casa não fecha as contas.

Um jantar ali custa, com bebida, 300 euros (R$ 670). "Igual a um hotel normal em Londres", diz Adrià. "Apesar disso, há uma visão de que um restaurante é muito mais elitista do que um hotel. Você pode pagar 4 euros para ver um jogo de liga regional e 300 euros para o Barça x Madrid. Mas com restaurante, não. O dia em que dermos esse salto, a cozinha será o novo rock and roll."

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página