Descrição de chapéu Agora

Pacientes invadem UBS por vacina de febre amarela, e segurança é reforçada

Crédito: Google Street View Fachada da UBS Jardim Helena, na zona leste de São Paulo
Fachada da UBS Jardim Helena, na zona leste de São Paulo

DO "AGORA"
DE SÃO PAULO

Dezenas de pessoas revoltadas com a vacinação contra a febre amarela invadiram a UBS (Unidade Básica de Saúde) Jardim Helena, em Itaquera (zona leste), por duas vezes na manhã desta sexta-feira (19). O portão foi forçado, um computador foi destruído e funcionários foram ameaçados.

A Polícia Militar e a GCM (Guarda Civil Metropolitana) foram chamadas para conter o grupo e a segurança permaneceu reforçada durante todo o dia.

O tumulto teve início às 6h40, quando funcionários da UBS colaram um cartaz na frente da unidade: "Estamos aguardando reabastecimento pelo Padi" –Padi é o Posto de Armazenamento e Distribuição de Imunobiológicos. De acordo com um funcionário do posto, isso revoltou quem aguardava a UBS abrir.

Febre Amarela

"Havia pessoas esperando desde as 19h do dia anterior e, quando vimos isso, chamamos a polícia" disse o funcionário, que pediu para não ter seu nome divulgado. O grupo forçou o portão e entrou na unidade. Dois PMs que estavam no posto desde as 6h conseguiram contê-lo.

Por volta das 10h, houve nova invasão. Desta vez, as pessoas quebraram um computador na recepção e ameaçaram funcionários, que se esconderam em salas. A GCM havia substituído a PM, e controlou o tumulto.

Um boletim de ocorrência foi feito no 22º DP (São Miguel) e um inquérito foi instaurado para tentar identificar os invasores. Ninguém foi detido ou se feriu.

A UBS do Jardim Helena é uma das unidades de referência para aplicação da vacina contra a febre amarela para viajantes com destinos a áreas com risco para a doença. Por isso, o posto está abastecido com apenas mil doses do imunizante.

"Mesmo restrito a quem vai viajar essa [e outras unidades] têm recebido um alto fluxo de pessoas buscando a vacina", informou a secretaria.

Crédito:

O aposentado Jaime Oliveira, 70, chegou ao local às 4h30 para pegar um lugar na fila da vacinação, e às 14h30 ainda não havia recebido a imunização. "Peguei chuva, estou de pé aqui e sem comer, mas quero tomar a vacina", disse Oliveira.

"As notícias estão deixando a gente apavorado. Fico mais seis horas na fila mas não saio daqui sem tomar a vacina, está morrendo gente e eu moro perto de um córrego", falou o aposentado.

A faxineira Gisele Alves Santos, 53, havia chegado às 3h com os netos Bernardo, 6, e Victor, 2. "Eu tenho medo que os meninos peguem essa doença, tem muito mosquito aqui", disse Gisele. "Eu vi na televisão que as pessoas estão pegando essa febre com picada de inseto, então precisa tomar vacina", diz.

A Secretaria Estadual de Saúde, porém, afirmou que "a campanha tem como público-alvo todos os distritos da zona norte, onde 90 UBS estão aplicando a vacina que reside ou trabalha na região". A ação também contempla três distritos da zona sul (Parelheiros, Marsilac e Jardim Ângela) e parte do Capão Redondo. Na zona oeste, a recomendação é apenas para os moradores do distrito Raposo Tavares.

Na UBS Sigmund Freud, na Vila Clementino (zona sul), a população também invadiu o posto após a colocação de um cartaz, às 7h. "Fomos orientados pela coordenação a colocar um cartaz no portão avisando a população de que o posto não dispunha da vacina. Havia 700 pessoas esperando desde a noite anterior e elas ficaram irritadas", disse uma funcionária. "Eles arrombaram o portão e fomos agredidos. Fizemos boletim de ocorrência", disse.

Na UBS Jardim Miriam 2, em Cidade Ademar (zona sul), funcionários resolveram não abrir os portões por falta de vacina –apesar de centenas de pessoas na fila. A PM foi chamada. Na UBS Chabilândia, em Guaianases (zona leste), moradores atearam fogo a objetos na rua após serem informados de que a vacina havia acabado. A PM dispersou os manifestantes.

APURAÇÃO

O promotor Arthur Pinto Filho, do Ministério Público de São Paulo, instaurou nesta sexta um inquérito civil para apurar e corrigir os problemas na distribuição da vacina da febre amarela em São Paulo, bem como a falta de materiais para a imunização.

No inquérito, o promotor também pede a apuração das responsabilidades do Estado e do município pela falta de organização na vacinação. "Peço apenas que Estado e município informem onde e quando haverá vacina disponível e em qual quantidade", afirmou.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.