Sem Copa do Mundo, ESPN tenta retomar Liga dos Campeões

Crédito: Bruno Santos/Folhapress Russell Wolff, VP da ESPN, e retratado nos estudios do canal em São Paulo.
Russell Wolff, executivo da ESPN, é retratado nos estudios do canal em São Paulo.

EDUARDO GERAQUE
DE SÃO PAULO
PAULO PASSOS
EDITOR-ADJUNTO DE 'ESPORTE"

Em 2018, pela primeira vez em 16 anos, a ESPN não transmitirá jogos da Copa do Mundo. A emissora americana, instalada no Brasil na década de 1990, não aceitou oferta da Globo, que repassa os direitos do torneio no Brasil.

Já a disputa para exibir a Liga dos Campeões da Europa em 2018, que a emissora perdeu na temporada de 2015 para o Esporte Interativo, da também americana Turner, será definida até o final deste ano.

Retomar a transmissão do torneio europeu é uma das metas da empresa para tentar diminuir o baque após ficar sem o Mundial da Rússia.

No Brasil, o vice-presidente da ESPN Internacional, Russell Wolff, falou sobre as prioridades do canal e como ele pretende se adaptar às mudanças no mercado de transmissões esportivas com a entrada de concorrentes como Twitter e Facebook, que passaram a investir no setor.

Folha - A ESPN tem como meta recuperar os direitos de transmissão da Liga dos Campeões?
Russell Wolff - O fato é que haverá uma competição até o final deste ano para os direitos do torneio a partir de 2018. Precisamos ter claro que direitos de transmissão vão e vem. Há 20 anos que é assim. Sem a Liga dos Campeões ainda fizemos um bom trabalho. Não perdemos audiência por isso. Estamos sempre olhando para os melhores produtos e a Liga dos Campeões é um dos grandes. Temos o Campeonato Inglês garantido por pelo menos cinco anos, exclusivo. Podemos negociar, mas nesse momento é exclusivo.

A ESPN ainda negocia a compra dos direitos para a Copa do Mundo de 2018?
Não, já decidimos que não vamos transmitir. Não houve acerto [a Globo é a detentora dos direitos no Brasil e repassa para outras emissoras]. Mas isso não quer dizer que o evento será ignorado. Faremos uma grande cobertura. A Copa acontece durante 30 dias. São 700 horas de transmissão de conteúdo. Os jogos representam 96 horas. Não teremos as partidas, mas estaremos lá.

Em 2015, foi descoberto um grande esquema de corrupção na Fifa que envolvia a venda de direitos de transmissão. Como a ESPN lidou com isso?
Cobrimos muito bem essa história, sob a perspectiva jornalística. Não negociamos com as agências envolvidas. Compramos os direitos para o Brasil diretamente da Globo e para os EUA compramos diretamente da Fifa. Não houve irregularidade nos negócios em que estivemos envolvidos.

É possível prever como as pessoas irão consumir esporte nos próximos dez anos?
Acho que sabemos que a tecnologia vai avançar muito para mudar os hábitos de consumo do nosso conteúdo. Assim como houve nos últimos dez anos. Se você olhar todos os serviços que surgiram de streaming, é óbvio que teremos mudanças. Os fãs do nosso canal já podem assistir ao conteúdo em outras plataformas. Acho que teremos cada vez mais streaming. A tecnologia fará com que as coisas fiquem mais fáceis para os fãs de esporte. Nós investimos em tecnologia para isso.

A TV a cabo deixará de existir?
Acho que as pessoas vão assistir de diversas maneiras, cada vez mais. As plataformas, porém, não deixarão de existir. A TV aberta ainda é lucrativa na transmissão de esportes ao vivo, por exemplo. Há muitos modelos. Primeiro veio o cabo, depois cabo e satélite, depois cabo, satélite e telefone. Agora temos o YouTube com um serviço de televisão paga. E a ESPN está inserida. Será uma mistura, com mais opções para as pessoas receberem o conteúdo.

A transmissão de esportes ao vivo pode ser uma saída para a TV, que já perde mercado para serviços como o Netflix?
Sim, 98% do que se vê em esportes é ao vivo. Não só os eventos que transmitimos, mas também os programas, os telejornais. Somos uma marca de ao vivo.

Como vocês avaliam a competição com o Twitter e o Facebook, que têm investido em transmissões ao vivo?
Acho que competição é boa para o consumidor e para a gente também. Mas há uma diferença a nosso favor. Os fãs de esporte sabem que somos uma marca de esporte. Eu acredito que isso faça diferença. Um competidor que tem como foco principal outra área ainda está atrás da gente.

Mas ao transmitirem eventos ao vivo, eles não se tornam rivais a serem temidos?
A ESPN tem uma herança de investimento em jornalismo, de investigação, de estar em vários lugares que se mantém. É uma grande vantagem.

Em 2006, a ESPN lançou um telefone com conteúdo exclusivo do canal. Apostava no consumo de informação pelo celular antes do iPhone. Mas o projeto foi cancelado.
A gente analisa isso de várias maneiras. Somos orgulhosos por termos feito, gostaríamos que tivesse funcionado melhor na época e, por termos tentado, nos preparou para o mundo que temos hoje. Era um modelo em que vendíamos o aparelho. A experiência de criar conteúdo para aquela plataforma foi interessante. Mas não permanecemos no negócio de aparelhos. Funcionou por menos de um ano. O nosso negócio é criar conteúdo e isso fazemos bem para plataforma mobile.

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