Passividade
marca auto-imagem lá e cá
da Sucursal do Rio
Muitas coisas unem brasileiros e portugueses -uma delas, segundo
a pesquisa Datafolha, é o fato de que ambos têm
de si próprios uma imagem de passividade.
Os brasileiros apontam a alegria e o bom humor como suas maiores
virtudes (14%), enquanto os portugueses vêem a si mesmos
como amáveis e sociáveis (33%).
Mas, na hora de apontar seus defeitos, os brasileiros (23%)
dizem que é "aceitar tudo, concordar com tudo"
(23%), e os portugueses afirmam ser a "passividade e
o conformismo" (11%).
Portugueses com quem a Folha conversou em Lisboa tendem a
relacionar essa auto-imagem de povos passivos com os efeitos
causados pelas ditaduras que marcaram os dois países.
O grau de participação política, de organização
social e de cobrança de direitos -a chamada cidadania-
ainda seria considerado insatisfatório lá e
cá.
"Eu não sei se a ditadura tem algo a ver com isso
ou se essa imagem é fruto da sociedade de massas muito
rapidamente introduzida no Brasil", diz o presidente
e sociólogo Fernando Henrique Cardoso: "Essa rapidez
cria a idéia de uma sociedade cujas organizações
não são suficientes para expressar tudo o que
se quer".
Para a historiadora e professora de história da UFF
(Universidade Federal Fluminense) Hebe Maria Mattos, o principal
aspecto negativo, no caso da auto-imagem dos brasileiros (aceitar
tudo), acabaria sendo também a principal qualidade,
quando são somadas características afins, como
generosidade e bondade (13%), simpatia e cordialidade (10%),
passividade e resignação (6%), paciência
e tolerância (4%).
Em sua opinião, a idéia de passividade estaria
associada aos traços da cordialidade -como se essa
aparecesse com sinal trocado na hora de nomear o defeito.
Quando questionados sobre a primeira coisa que lhes vem à
cabeça ao pensar em seu próprio país,
os brasileiros enumeram um conjunto de referências negativas
que, juntas, somam 53%.
As respostas negativas foram: crise (14%), pobreza e miséria
(9%), precisa evoluir (6%), país mal administrado (6%),
criminalidade e violência (6%), desemprego (5%), coisa
ruim e porcaria (3%), tristeza (1%), país subdesenvolvido
(1%), nada (1%) e, por fim, impunidade (1%).
A primeira referência positiva -"um país
bom, maravilhoso"- foi citada por 6% dos entrevistados.
"A visão que o brasileiro tem do país é
negativa, ainda que seja sempre associada a fatores socioeconômicos,
como a crise e a miséria", diz a historiadora
Maria do Carmo Teixeira Rainho, do Rio.
Sua colega Hebe Maria Mattos vê, além de pessimismo,
o que chama de "presentismo": a pouca associação
do nome do país a características mais permanentes
e tradicionalmente ligadas à imagem brasileira, em
detrimento de noções conjunturais, como crise
e desemprego.
"Essas referências mais permanentes aparecem, no
entanto, na imagem que os portugueses têm do Brasil,
como a valorização das riquezas naturais, da
música, do futebol e do Carnaval", diz.
(MAG e FE)
( Colaborou
Clóvis Rossi, do Conselho Editorial)
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