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04/03/2008 - 21h34

Via Campesina invade área de multinacional no Sul

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GILMAR PENTEADO
da Agência Folha, em Rosário do Sul

Mais de 500 trabalhadoras rurais do movimento Via Campesina invadiram nesta terça-feira a fazenda Tarumã em Rosário do Sul (390 km de Porto Alegre, RS), que pertence à empresa finlandesa Stora Enso. Houve confronto com a Polícia Militar. As mulheres foram retiradas no fim do dia com o uso de bombas de efeito moral e balas de borracha.

Pelo menos um PM sofreu um corte no braço provocado por uma foice. O movimento das trabalhadoras rurais afirma que dezenas de mulheres e crianças ficaram feridas, mas não havia confirmação do número de atingidos até as 21h.

As mulheres invadiram a fazenda de 2.075 hectares às 5h40 para protestar contra a exploração da área pela multinacional. Durante o dia, a PM cercou a fazenda e realizou a operação de retirada às 18h. Repórteres e fotógrafos foram retirados pela PM da área e ficaram a 11 km do local da invasão quando a operação foi realizada. A polícia não soube justificar a medida.

O subcomandante da Brigada Militar no Rio Grande do Sul, coronel Paulo Mendes, que coordenou a operação, confirmou que foram usadas bombas de efeito moral e balas de borracha. Cães e cavalos também foram utilizados na operação que contou com 50 policiais.

O coronel não soube dizer se alguma manifestante sofreu ferimentos na operação. As manifestantes seriam levadas de ônibus hoje à noite para uma delegacia na cidade vizinha de Santana do Livramento.

Segundo o coronel, as mulheres podem ser indiciadas por danos e corrupção de menores. De acordo com o movimento, 900 mulheres e 250 crianças participaram do protesto. Segundo a PM, eram 500 manifestantes. O número de crianças não foi contabilizado. De acordo com o subcomandante, quatro hectares de eucaliptos foram destruídos pelas invasoras.

Segundo a Via Campesina, mulheres foram agredidas com tapas e socos. O coronel Mendes disse que houve "empurra-empurra".

A fazenda Tarumã é utilizada pela Stora Enso há dois anos para o cultivo de eucaliptos. A área fica a 80 km da fronteira com o Uruguai, o que a inclui nas exigências da lei de faixas de fronteira. Essa legislação exige aprovação prévia do Conselho de Defesa Nacional para a compra de terras por estrangeiros em qualquer área que fique na faixa de 150 km da fronteira.

No total, a empresa adquiriu 46 mil hectares no Estado. Os trabalhadores rurais querem que essas áreas sejam destinadas à reforma agrária. Também acusam a empresa de criar uma empresa laranja como forma de regularizar a terra fronteiriça.

Essa foi a terceira vez que a fazenda da multinacional foi invadida. Nas outras vezes, não houve confronto. A empresa conseguiu na Justiça um interdito proibitório, decisão que apressa o processo de reintegração de posse.

Investigação

A criação pela Stora Enso de uma empresa brasileira, a Azenglever, para conseguir adquirir terras na região próxima à fronteira no Rio Grande do Sul é investigada pelo Ministério Público Federal no Estado. A superintendência do Incra (Instituto de Colonização e Reforma Agrária) diz que a operação foi irregular.

O órgão, por meio da assessoria de imprensa, afirma que o licenciamento da aquisição de terras na região estava em andamento, quando o grupo finlandês suspendeu o processo e decidiu criar uma empresa brasileira para regularizar as terras. O Incra define a medida da multinacional finlandesa como "burla".

Outro lado

A Stora Enso disse, por meio da assessoria de imprensa, que cumpre a legislação brasileira e que não cometeu irregularidades no país. A multinacional finlandesa também nega que a empresa Azenglever seja laranja, como afirmam os movimentos sociais e como suspeita o Ministério Público Federal.

Segundo a Stora Enso, a criação da Azenglever era necessária por uma "questão jurídica" e para viabilizar a compra de terras no Rio Grande do Sul. Os europeus dizem que comunicaram os órgãos do governo sobre a medida tomada e que "nada foi feito às escondidas".

De acordo com a Stora Enso, toda a documentação relacionada à fazenda em Rosário do Sul foi encaminhada ao Incra há mais de dois anos. O órgão, segundo a multinacional, ainda analisa os documentos.

A empresa que tem sede na Finlândia também argumentou que vem gerando empregos no Estado. Afirmou que hoje trabalham na fazenda invadida 150 funcionários. Antes da aquisição, quando a área era voltada para a agropecuária, eram apenas três trabalhadores, segundo a multinacional.

A Stora Enso possui 46 mil hectares no Rio Grande do Sul, sendo mais de 9.000 hectares cultivados (um ha tem 10 mil m¦). Toda a área usada no plantio fica em uma região de até 150 km da fronteira do país. A previsão é que mais 10 mil hectares sejam cultivados ao longo de 2008.

A fazenda invadida em Rosário do Sul tem 2.075 hectares. Cerca de 40% da área é destinada ao plantio de eucaliptos. O restante é uma reserva de preservação permanente. A matéria-prima do cultivo de eucaliptos será utilizada em projetos futuros. Uma possibilidade é a construção de uma fábrica de celulose no Estado.

As plantações de eucaliptos da empresa no Estado começaram em 2006, quando 5.000 hectares foram cultivados. No ano seguinte, 4.000 hectares receberam plantações.

Colaborou FELIPE BÄCHTOLD, da Agência Folha

Comentários dos leitores
Marcelo Takara (65) 01/02/2010 18h28
Marcelo Takara (65) 01/02/2010 18h28
Sr Mauricio de Andrade.
Má distribuição de riquezas e terras são problemas, mas não são mais graves do que o nosso sistema educacional público. Este sim, nosso maior problema, que perpetua o ciclo vicioso da concentração de riquezas. Resolva-se o problema da educação e eliminamos o problema da miséria. Educação dá discernimento, cidadania, melhora a qualidade na escolha de políticos e multiplica as chances de inclusão social e econômica. É a solução mais eficaz e qualquer estatística sobre índices de desenvolvimento humano mostram isso, e isso independe do sujeito pertencer ao campo ou a cidade.
sem opinião
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Marcelo Takara (65) 01/02/2010 17h43
Marcelo Takara (65) 01/02/2010 17h43
Acho que não me fiz entender direito.Valoriza-se mais as posses materiais do que a formação educacional. A agricultura familiar mudou muito, comparada àquela que se praticava décadas atrás. Sou de origem japonesa, meus avós foram agricultores, meu pai foi agricultor e migrou para cidade, onde conseguiu montar um comércio, graças a algumas boa colheitas. Detalhe: meu pai nunca foi proprietário de terras, sempre arrendou. Tenho alguns tios que continuaram na agricultura, no cultivo de hortaliças, e eles somente conseguem se manter porque se adaptaram, do contrário é difícil manter os custos. Atualmente, mesmo para tocar uma pequena propriedade, é necessário conhecimento técnico e qualificação para manejo sustentável, rotação de culturas, uso correto de fertilizantes e recuperação de solo. Ou seja eis a necessidade da QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL. A má distribuição de riquezas é consequência funesta da incapacidade de nossos governantes em dar uma educação digna à toda população, daí o fato de haver o exército de desempregados nos grandes centros urbanos. Igualmente continuarão a levar uma vida miserável mesmo na posse de uma terra, se não houver capacitação técnica. Por outro lado, tem surgido muitas vagas de empregos em muitas cidades pequenas e médias do interior do Brasil, que não são preenchidas por falta de formação educacional. A distribuição de terras pode até ser uma solução para o campo, mas não é a única. A melhor solução é de longo prazo e é EDUCAÇÃO. sem opinião
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Tiago Garcia (41) 01/02/2010 11h04
Tiago Garcia (41) 01/02/2010 11h04
A lei é para todos sem exceção.
Se a Cutrale grilou ou não fazenda a justiça que resolve, não o MST que eu nunca votei nem autorizei a fazer valer a vontade da lei. MST não tem legitimidade para isso.
A anos atrás quando eu estudei o MST seu principal argumento para invasões sempre era os grandes latifúndios improdutivos, terras paradas nas mãos da especulação. O que aconteceu com essa justificativa do MST?
2 opiniões
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