Publicidade
Publicidade
16/04/2007
-
10h24
EDUARDO SCOLESE
da Folha de S.Paulo, em Brasília
Uma soma de fatores pesou para o comando do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) decidir focar seus ataques no presidente Luiz Inácio Lula da Silva a partir de agora. Entre eles, o incentivo do governo à expansão da cultura da cana-de-açúcar e a tentativa de o movimento recuperar parte de seu referencial crítico esvaziado no primeiro mandato do petista.
A gota d'água da decisão, segundo a Folha apurou com líderes do movimento, foi a declaração de Lula de que os usineiros brasileiros, antes considerados "bandidos", estão virando "heróis mundiais".
Os usineiros, alguns ligados a denúncias de trabalho escravo, são considerados inimigos pelos sem-terra. Soma-se a isso a avaliação do movimento de que, ao incentivar a produção do álcool, o governo ajuda a inflar o número de bóia-frias.
O MST teme que o avanço desse tipo de trabalho agrícola, alinhado à consolidação do Bolsa Família, desmobilize parte da base do movimento.
Mudança
Conforme a Folha antecipou na edição da última quarta-feira, a direção nacional do MST decidiu, por unanimidade, mirar em Lula suas críticas e pressões a partir de agora. Cartazes com a foto de Lula serão espalhados pelos sem-terra com o seguinte título: "Por que não sai reforma agrária?"
Trata-se de uma mudança brusca em relação ao posicionamento político do movimento no primeiro mandato, quando preferiu poupar o petista das críticas e mirar seus ataques no modelo de política econômica e na estrutura do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
No primeiro mandato, o MST teve importante participação pró-Lula durante a crise do mensalão, quando saiu às ruas para defendê-lo diante da idéia de impeachment lançada pela oposição.
Respaldada pela maioria de sua base de acampados (falam em cerca de 140 mil famílias) e por intelectuais e integrantes de pastorais ligados ao movimento, a decisão unânime de mirar em Lula, agora, traz alguns riscos ao MST.
O governo, por exemplo, pode fechar a torneira de repasses de verbas ao movimento, assim como ocorreu com o MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra) após a invasão do Congresso, no ano passado.
Levantamento da ONG Contas Abertas mostra que três das principais entidades ligadas ao movimento (Anca, Concrab e Iterra) receberam, do governo federal, cerca de R$ 39 milhões no primeiro mandato petista, um avanço de 315% em relação ao segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso.
Com dinheiro em caixa para manter sua estrutura e tocar programas de capacitação, alfabetização e cursos de formação política, o MST manteve em alta o ritmo de invasões de terra.
Na primeira gestão de Lula, o MST foi responsável por 67% das 1.036 invasões registradas pela Ouvidoria Agrária Nacional de janeiro de 2003 a dezembro de 2006. Na prática, sob Lula, o movimento invadiu uma fazenda a cada dois dias -691 ações em quatro anos.
Outro risco ao MST, ao tensionar sua histórica relação com Lula e PT, é ficar isolado politicamente. Ou seja, sem o respaldo partidário que o auxilia em casos de violação dos direitos humanos, por exemplo.
O clima entre os líderes sem-terra ainda não é o de rompimento com o governo. A realidade, além de uma absoluta descrença no atual governo, é de buscar mais ousadia e novo rumo político, numa admissão de que o período do primeiro mandato foi perdido numa aposta que deu errado.
Para os sem-terra, é cada vez maior a assimetria entre o poder do agronegócio no governo petista e as intenções de Lula para a reforma agrária. "É evidente que as forças conservadoras têm mais espaço agora do que antes", disse João Pedro Stedile, da direção do MST.
Leia mais
MST e sem-teto negam agir em conjunto pelo país
Justiça mantém desapropriação de fazenda da Igreja Católica em Goiás
Trabalhadores sem-terra promovem invasões em SP e AL
Rainha contradiz MST e defende governo Lula
MST decide fazer ataques diretos a Lula
MST diz que invasões continuam até o fim do mês
Especial
Leia o que já foi publicado sobre o MST
Por "sobrevivência", MST decide elevar o tom contra Lula
Publicidade
da Folha de S.Paulo, em Brasília
Uma soma de fatores pesou para o comando do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) decidir focar seus ataques no presidente Luiz Inácio Lula da Silva a partir de agora. Entre eles, o incentivo do governo à expansão da cultura da cana-de-açúcar e a tentativa de o movimento recuperar parte de seu referencial crítico esvaziado no primeiro mandato do petista.
A gota d'água da decisão, segundo a Folha apurou com líderes do movimento, foi a declaração de Lula de que os usineiros brasileiros, antes considerados "bandidos", estão virando "heróis mundiais".
Os usineiros, alguns ligados a denúncias de trabalho escravo, são considerados inimigos pelos sem-terra. Soma-se a isso a avaliação do movimento de que, ao incentivar a produção do álcool, o governo ajuda a inflar o número de bóia-frias.
O MST teme que o avanço desse tipo de trabalho agrícola, alinhado à consolidação do Bolsa Família, desmobilize parte da base do movimento.
Mudança
Conforme a Folha antecipou na edição da última quarta-feira, a direção nacional do MST decidiu, por unanimidade, mirar em Lula suas críticas e pressões a partir de agora. Cartazes com a foto de Lula serão espalhados pelos sem-terra com o seguinte título: "Por que não sai reforma agrária?"
Trata-se de uma mudança brusca em relação ao posicionamento político do movimento no primeiro mandato, quando preferiu poupar o petista das críticas e mirar seus ataques no modelo de política econômica e na estrutura do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
No primeiro mandato, o MST teve importante participação pró-Lula durante a crise do mensalão, quando saiu às ruas para defendê-lo diante da idéia de impeachment lançada pela oposição.
Respaldada pela maioria de sua base de acampados (falam em cerca de 140 mil famílias) e por intelectuais e integrantes de pastorais ligados ao movimento, a decisão unânime de mirar em Lula, agora, traz alguns riscos ao MST.
O governo, por exemplo, pode fechar a torneira de repasses de verbas ao movimento, assim como ocorreu com o MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra) após a invasão do Congresso, no ano passado.
Levantamento da ONG Contas Abertas mostra que três das principais entidades ligadas ao movimento (Anca, Concrab e Iterra) receberam, do governo federal, cerca de R$ 39 milhões no primeiro mandato petista, um avanço de 315% em relação ao segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso.
Com dinheiro em caixa para manter sua estrutura e tocar programas de capacitação, alfabetização e cursos de formação política, o MST manteve em alta o ritmo de invasões de terra.
Na primeira gestão de Lula, o MST foi responsável por 67% das 1.036 invasões registradas pela Ouvidoria Agrária Nacional de janeiro de 2003 a dezembro de 2006. Na prática, sob Lula, o movimento invadiu uma fazenda a cada dois dias -691 ações em quatro anos.
Outro risco ao MST, ao tensionar sua histórica relação com Lula e PT, é ficar isolado politicamente. Ou seja, sem o respaldo partidário que o auxilia em casos de violação dos direitos humanos, por exemplo.
O clima entre os líderes sem-terra ainda não é o de rompimento com o governo. A realidade, além de uma absoluta descrença no atual governo, é de buscar mais ousadia e novo rumo político, numa admissão de que o período do primeiro mandato foi perdido numa aposta que deu errado.
Para os sem-terra, é cada vez maior a assimetria entre o poder do agronegócio no governo petista e as intenções de Lula para a reforma agrária. "É evidente que as forças conservadoras têm mais espaço agora do que antes", disse João Pedro Stedile, da direção do MST.
Leia mais
Especial
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Nomeação de novo juiz do Supremo pode ter impacto sobre a Lava Jato
- Indicação de Alexandre de Moraes vai aprofundar racha dentro do PSDB
- Base no Senado exalta currículo de Moraes e elogia indicação
- Na USP, Moraes perdeu concursos e foi acusado de defender tortura
- Escolha de Moraes só possui semelhança com a de Nelson Jobim em 1997
+ Comentadas
- Manifestantes tentam impedir fala de Moro em palestra em Nova York
- Temer decide indicar Alexandre de Moraes para vaga de Teori no STF
+ EnviadasÍndice