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15/11/2005 - 10h10

Trote foi "brincadeira", diz sargento

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MARI TORTATO
da Agência Folha, em Curitiba

Os trotes violentos aplicados a sargentos novatos em um quartel de Curitiba do Exército, que o "Fantástico" mostrou em reportagem no último domingo, não teriam passado de "brincadeiras consentidas". Foi o que disseram à da Folha oito dos 12 terceiros-sargentos da 2ª Companhia de Fuzileiros de Curitiba identificados nos vídeos que foram ao ar.

Giovani Moscatelli e Marcelo Salles Correa, dois dos supostos aspirantes submetidos à tortura dos veteranos, estavam no grupo que concedeu a entrevista. Eles sustentaram a mesma versão: disseram também que não são novatos e que se submeteram à "brincadeira" voluntariamente. E que em várias "brincadeiras" figuraram no papel invertido.

"Fui conivente [com as agressões físicas] e não sou novato. Tenho dois anos de Exército", afirmou Moscatelli. "Não é tortura [o que se viu nos vídeos], não há vítima", afirmou o militar. Segundo ele, todos os que aparecem eram voluntários no trote, mesmo os três aspirantes confirmados.

Correa, outro veterano que aparece recebendo trotes, disse que também já participou de sessões contra outros colegas. Na condição de voluntário, exigiu a exclusão da sessão de afogamento e que sua vontade foi respeitada.

Na versão dos oito e de um tenente e um capitão que acompanharam a conversa, o ferro de passar que foi colocado nas orelhas dos "novatos" estava frio. Os choques elétricos aplicados seriam de baixa amperagem.

As sessões de afogamento, porém, contêm veracidade. Um dos sargentos diz que o grupo queria testar "o quanto agüenta uma pessoa que está se afogando".

O grupo se exalta quando a pergunta é sobre se a inspiração vinha das prisões de Abu Ghraib (Iraque), em que soldados do Exército norte-americano torturavam prisioneiros iraquianos e as sessões eram filmadas. "Aqui ninguém sai ferido nem está preso", reagiu o militar mais falante. Ele não se identificou e seu nome ainda não se tornou público.

As imagens mostradas pela reportagem de TV foram feitas pelo próprio grupo, em câmera digital, no dia 25 de agosto, em que se comemorava o Dia do Soldado. Os sargentos dizem ter feito apenas uma cópia, supostamente roubada e cedida à Rede Globo por alguém do quartel.

"O que apareceu na reportagem é um mal-entendido. As imagens foram forçadas e distorcidas pela edição", declarou o sargento não identificado. Além dos choques elétricos, dos afogamentos e das aplicações de ferro de passar roupa na pele, os sargentos também foram alvos de chineladas.

O 20º Batalhão de Infantaria Blindado tem cerca de 900 soldados. Fica no bairro Bacacheri, norte de Curitiba. A 2ª Companhia, conhecida como Pantera, conta com 15 sargentos. Apenas três não participariam das constantes "brincadeiras". Elas começaram há dois anos, para comemorar o aniversário de um deles. Com participação de antigos sargentos, que já ascenderam na carreira, dizem. O soldo dessa patente é de R$ 1.254 brutos.

O grupo não admite nem que as sessões sejam chamadas de trote, por não acontecerem apenas em finais de cursos de aspirantes a oficiais. "No final, acaba com um churrasco e todo mundo rindo", disse Maurício Schiavon Ramos, tido como um dos responsáveis pelo registro das imagens. Ele nega que as imagens exibidas mostrem cenas violentas: "Não acho. Conheço a história por dentro".

A Central Globo de Comunicação negou que tenha "forçado" a edição. Disse que a prática de tortura foi reconhecida pelo próprio Exército em uma nota no final da reportagem, na qual afirma que as imagens são "verídicas" e anuncia a abertura de sindicância para "apurar os fatos e punir os responsáveis". A Globo afirma ainda que dois especialistas atestaram a veracidade das imagens.

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