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19/05/2006 - 07h59

Polícia diz que SP errou com PCC e ajudou facção a crescer

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FÁBIO ZANINI
LEONARDO SOUZA
da Folha de S.Paulo, em Brasília

Os dois delegados designados pelo governo de São Paulo para combater o PCC (Primeiro Comando da Capital) admitiram, em depoimento à CPI do Tráfico de Armas, que o Estado cometeu erros ao lidar com a facção, contribuindo para que ela se espalhasse por todo o país. E reconheceram o seu poder: "A organização é muito séria mesmo, e a tendência é crescer", disse o delegado Godofredo Bittencourt.

As declarações de Bittencourt e do delegado Ruy Ferraz Fontes, ambos do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), foram feitas em sessão secreta da CPI no último dia 10.

O PCC acabou tendo acesso a essas informações após dois advogados terem corrompido o responsável pela gravação, pagando R$ 200 por cópias do áudio. A polícia suspeita que o vazamento da gravação contribuiu para que fosse deflagrada a maior onda de violência da história do Estado.

Na sessão, os dois detalham o funcionamento da facção: o PCC envia armas pelos Correios, financia estudantes de Direito, arregimenta candidatos às eleições e faz empréstimos cobrando juros. Para Bittencourt, tal estrutura transformou o PCC numa "febre". "Ser do PCC é um bom negócio", afirmou o delegado.

"O governo do Estado [de São Paulo] cometeu um erro. Pegou a liderança do PCC e redistribuiu pelo Brasil, entre Brasília, Rio Grande do Sul, Rio, Mato Grosso do Sul e Bahia", diz Bittencourt.

Fontes reforça, dizendo que foi "plantada a sementinha" do PCC em Mato Grosso do Sul em 2000, quando um líder foi transferido para lá. Na onda de ataques feita pelo PCC nos últimos dias, presos se rebelaram em Mato Grosso.

Ambos criticaram a Secretaria da Administração Penitenciária do Estado, por permitir a entrada de celulares e atenderem reivindicações de presos. "Estamos cansados de ver a imprensa mostrar bandidos fotografando --inclusive o sr. Marcola-- com um celular", disse Bittencourt, em referência a Marcos Willians Herbas Camacho, chefe do PCC.

Bittencourt diz que a secretaria trocou a cor de uniformes, de laranja para cinza, por pressão dos presos. "Vamos trocar os uniformes? Vamos trocar os uniformes. [...] O PCC pleiteou e teve."

Procurado, o secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, disse que não comentaria as declarações.

Ontem, parte desse depoimento foi publicado pelo site "Congresso em Foco". A CPI confirmou o teor do que foi publicado, mas o restante permanece sob sigilo. A CPI vai pedir à PF que investigue o vazamento para o site.

Na parte dos depoimentos que veio à tona, não há referência ao plano de transferir líderes da facção, o que teria detonado a onda de violência. Segundo parlamentares ouvidos pela Folha, o assunto foi mencionado no final.

O PCC, segundo os delegados, tem uma receita de cerca de R$ 750 mil por mês. "Associados" que estão soltos pagam uma mensalidade de R$ 550, e os presos, de R$ 50. Também arrecadam com traficantes. "É uma organização extremamente estruturada, que faz a sua arrecadação com cinco ou seis tesoureiros", diz Fontes.

Há um esquema de empréstimos, segundo ele relata. Se um criminoso precisa de R$ 20 mil para organizar um roubo, o PCC empresta. O adiantamento é pago depois, com juros.

Também em relação à contabilidade da facção, os delegados citam o papel de Cíntia, mulher de Marcola. Segundo eles, ela --que chegou a ser presa, mas está em liberdade-- repassava ordens de Marcola. A polícia rastreou R$ 90 mil transferidos à conta bancária dela em seis meses.

Ele relata que a Polícia Civil trava "uma luta muito grande" com as operadoras para tentar barrar o acesso dos presos a celulares. E acusou: "Temos envolvimento de pessoas dentro da operadora."

Para distribuir armas, o PCC utilizaria os Correios. No presídio de Iaras (SP), teria sido entregue por Sedex um carregamento de armas. No de Avaré, 60 TVs.

A organização, que teria hoje 18 advogados, estaria se preparando para o futuro, financiando estudantes de Direito. Estaria também infiltrada na administração pública, manipulando concursos.

"Ele [Marcola] com certeza geriu a questão dos concursos públicos. Eles formam, pagam pela formatura de pessoas nas escolas de Direito", afirma Fontes.

Na política, a organização busca um braço. "Estão investindo em pessoas que têm interesse numa carreira política", diz Fontes.

Outro lado

O advogado Sérgio Wesley da Cunha, 38, acusado de comprar a cópia da gravação da sessão secreta da CPI e repassar ao PCC, admitiu ontem ter ido a um shopping com o técnico de som Arthur Vinicius Silva e a advogada Maria Cristina Rachado. Lá, diz ter obtido cópia só do trecho do depoimento do seu cliente.

Cunha, porém, se contradisse quanto ao pagamento da cópia. "Não sei [quanto custou] porque não fui eu que paguei. Foi a doutora. Deve ter sido ela. Mas não a vi pagando."Procurada pela Folha, Rachado não falou.

"A parte dos delegados [Bittencourt e Ferraz], o que eles falaram, foi reservada", disse Cunha, que se negou a apresentar o CD. Disse ainda que obteve uma "autorização verbal" para fazer a cópia. A CPI nega.

Ele disse que viu a advogada Maria Cristina pela primeira vez durante a sessão da CPI. Para ele, a acusação feita pela CPI teria o objetivo de "desviar a atenção do foco central que é a falta de segurança aqui em São Paulo."

O deputado Moroni Torgan informou que não iria se pronunciar sobre o caso.

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