Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
11/09/2006 - 13h58

Polícia ouve depoimentos e busca esclarecer morte de Ubiratan

Publicidade

da Folha Online

Policiais do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) começaram a ouvir nesta segunda-feira os depoimentos em busca de pistas sobre o autor do tiro que causou a morte do deputado estadual e coronel da reserva da PM Ubiratan Guimarães (PTB), 63. O crime ocorreu no fim de semana, no apartamento do coronel, nos Jardins --região nobre na zona oeste de São Paulo.

Folha Imagem
Coronel Ubiratan Guimarães, assassinado com um tiro em casa, em São Paulo
Coronel Ubiratan Guimarães, assassinado com um tiro em casa, em São Paulo
Segundo o delegado Armando de Oliveira Costa Filho, quatro pessoas já prestaram depoimento --um morador e três funcionários do prédio onde morava o coronel. Outras dez pessoas devem ser ouvidas até o final do dia.

Pela manhã, a advogada Carla Cepollina, namorada do coronel, esteve no DHPP. Ela foi a última pessoa vista com a vítima. De acordo com Costa Filho, Carla foi ouvida informalmente --o depoimento formal deve ocorrer na terça-feira (12).

Segundo o delegado-geral da Polícia Civil, Marco Antônio Desgualdo, a advogada disse que passou a manhã de sábado com Ubiratan em uma hípica, participaram de um evento político e seguiram para o apartamento do coronel. Ela teria relatado à polícia que, por volta das 18h, discutiram, após Ubiratan receber o telefonema de uma mulher.

A Polícia Civil estima que o crime tenha ocorrido na noite de sábado. No período, a advogada disse que estava em um local público.

O prédio onde morava Ubiratan teria circuito de câmeras, mas, de acordo com Desgualdo, o sistema não teria feito a gravação de imagens, o que impediria a identificação de suspeitos. O coronel comandou, em 1992, a operação que ficou conhecida como massacre do Carandiru e resultou na morte de 111 presos.

Morte

Ubiratan foi morto com um único tiro, que o atingiu debaixo do mamilo direito e saiu pelas costas. O corpo foi localizado por volta das 22h30 de domingo (10), mas há suspeitas de que o crime tenha ocorrido entre a noite de sábado e a madrugada de domingo, já que os jornais do dia permaneciam do lado de fora da porta.

Não havia sinais de luta no apartamento e a porta dos fundos estava apenas encostada. O corpo do coronel estava coberto apenas por uma toalha.

O governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), descartou na manhã desta segunda-feira o possível envolvimento do crime organizado no assassinato. Já o delegado-geral da Polícia Civil e o delegado Costa Filho, do DHPP, disseram que nenhuma hipótese pode ser descartada ainda. Desgualdo, porém, admitiu que não há indícios de envolvimento de facções criminosas.

"O disparo, a lesão, não é característica própria de execução", disse.

Para o delegado do DHPP, é possível que Ubiratan estivesse sentado e tenha sido baleado ao levantar. Conforme a polícia, o disparo foi feito a mais de um metro de distância.

Ele disse que uma arma da vítima --um revólver calibre 38-- desapareceu do apartamento após o crime, mas ainda aguarda laudo para saber se o tiro que atingiu o coronel corresponde ao calibre da arma levada. Outras armas --que também seriam no coronel-- foram encontradas no apartamento.

Entre as hipóteses para o crime está a de crime passional, afirma a polícia. As últimas relações amorosas do coronel devem ser investigadas.

Outra possibilidade que deve ser analisada é a ligação com o assassinato do diretor do Carandiru na época do massacre, José Ismael Pedrosa, assassinado em outubro do ano passado, em Taubaté (130 km de São Paulo), num crime atribuído ao PCC (Primeiro Comando da Capital).

Carandiru

O deputado atualmente disputava a reeleição. Ele nunca foi preso pela operação que resultou no massacre, ocorrido em outubro de 1992.

Em 2001, Ubiratan chegou a ser condenado a 632 anos de prisão pelas mortes de 102 presos e por cinco tentativas de homicídio, num julgamento em primeira instância. Ele não foi acusado pelas 111 mortes porque laudo do Instituto Médico Legal mostrou que alguns presos foram mortos por armas brancas, como facas, o que poderia indicar que foram golpeados por rivais durante a rebelião que antecedeu a operação policial no Carandiru.

Réu primário, recorreu da sentença em liberdade. Em fevereiro último, os desembargadores do TJ (Tribunal de Justiça) inocentaram Ubiratan, o que gerou protestos de entidades de direitos humanos e repercutiu negativamente no exterior. Dias depois, o mesmo Órgão Especial do TJ modificou o resumo do acórdão que absolveu o coronel. A mudança estabeleceu que os desembargadores não "declararam absolvido o réu", mas apenas "reconheceram" que ele tinha sido absolvido pelo Tribunal de Júri.

A operação que resultou no massacre ocorreu após uma rebelião sem reféns no Carandiru, e o caso teve repercussão internacional. A Casa de Detenção foi desativada em setembro de 2002. Em dezembro daquele ano, três pavilhões foram implodidos, inclusive o 9, onde ocorreram as mortes.

Ubiratan trabalhou 34 anos na Polícia Militar. Nos anos 70, durante a ditadura militar, combateu as ações guerrilheiras no Vale do Ribeira (SP). Como oficial, comandou a Cavalaria, a Rota e o Policiamento Metropolitano. E foi na condição de comandante do Policiamento Metropolitano que o coronel liderou a operação no Carandiru.

Colaboraram FAUSTO SALVADORI e TATIANA FÁVARO, da Folha Online; LÍVIA MARRA, editora de Cotidiano da Folha Online; e Agência Folha

Leia mais
  • Sempre ameaçado, Ubiratan dispensava seguranças, mas nunca a arma
  • Coronel Ubiratan usava o número 111 em campanhas políticas
  • Coronel assassinado do Carandiru recebia ameaças havia 14 anos

    Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre o coronel Ubiratan
  • Leia a cobertura completa sobre a morte do coronel Ubiratan
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página