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21/01/2007
-
09h13
ROBERTO PELLIM
MARIO CESAR CARVALHO
da Folha de S.Paulo
O Metrô optou pela técnica de maior risco para construir o trecho da linha 4 que entrará para a história por ter sido o palco do mais grave acidente já registrado em obras desse gênero em São Paulo, com seis vítimas fatais. A opinião é de dois dos maiores especialistas nessa linha, os geólogos Kenzo Hori e Adalberto Aurélio Azevedo.
Hori, 64, foi o responsável pelo levantamento geológico da linha 4 quando trabalhava no Metrô --ele entrou na companhia em 1968 e se aposentou em 1999 como chefe do Departamento de Projeto Civil.
Já Azevedo defendeu em 2002 uma tese de doutorado no Instituto de Geociências da USP justamente sobre a área em que ocorreu o acidente --o trecho da linha que fica ao lado do rio Pinheiros (zona oeste paulistana). O objetivo da tese era confrontar os riscos de cada técnica para saber qual seria a mais segura para a região da estação que desabou no dia 12.
Os dois geólogos defendiam um método construtivo diferente do que foi adotado pelo Consórcio Via Amarela com a concordância do Metrô. Eles afirmam que aquele trecho da linha amarela tinha de ser construído por um equipamento conhecido como "shield" (escudo, em tradução literal) ou TBM (Tunnel Boring Machine), o popular "tatuzão".
O vencedor da licitação deveria comprar dois "tatuzões". No entanto, o Consórcio Via Amarela, que ganhou a disputa, conseguiu mudar o método e comprou um só.
O trecho que desabou estava sendo construído com uma técnica chamada NATM (New Austrian Tunneling Method ou Novo Método Austríaco para Abertura de Túneis). O NATM usa retroescavadeira e explosivos para perfurar as rochas.
"Para o trecho da Vila Sônia à Fradique Coutinho, o 'shield' era recomendado por causa do risco", disse Hori à Folha.
A área do acidente é complexa do ponto de vista geológico por causa do que ele chama de "estabilidade precária": "Aquele trecho do rio Pinheiros é uma região de várzea que foi urbanizada. Há sedimentos trazidos pelo rio, uma argila mole, areia, e só então a rocha. Há uma quantidade maior de solo ruim [para perfurar túneis] até chegar à rocha sã".
Os dois métodos têm prós e contras. A literatura técnica internacional tende a apontar o "tatuzão" como mais seguro que o NATM ou túnel mineiro (cuja origem é a mineração). Em contrapartida, é bem mais caro --a máquina que está sendo montada na avenida Brigadeiro Faria Lima para o trecho que irá daquela área à Luz custou cerca de R$ 30 milhões, foi feita sob medida e não pode ser reutilizada em outra obra.
O NATM é mais barato. Os equipamentos (retroescavadeira, perfuratriz para furar a rocha que será explodida e bomba para concreto) não custam mais de R$ 500 mil e são o maquinário básico das empreiteiras. O crítico é a segurança.
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MARIO CESAR CARVALHO
da Folha de S.Paulo
O Metrô optou pela técnica de maior risco para construir o trecho da linha 4 que entrará para a história por ter sido o palco do mais grave acidente já registrado em obras desse gênero em São Paulo, com seis vítimas fatais. A opinião é de dois dos maiores especialistas nessa linha, os geólogos Kenzo Hori e Adalberto Aurélio Azevedo.
Hori, 64, foi o responsável pelo levantamento geológico da linha 4 quando trabalhava no Metrô --ele entrou na companhia em 1968 e se aposentou em 1999 como chefe do Departamento de Projeto Civil.
Já Azevedo defendeu em 2002 uma tese de doutorado no Instituto de Geociências da USP justamente sobre a área em que ocorreu o acidente --o trecho da linha que fica ao lado do rio Pinheiros (zona oeste paulistana). O objetivo da tese era confrontar os riscos de cada técnica para saber qual seria a mais segura para a região da estação que desabou no dia 12.
Os dois geólogos defendiam um método construtivo diferente do que foi adotado pelo Consórcio Via Amarela com a concordância do Metrô. Eles afirmam que aquele trecho da linha amarela tinha de ser construído por um equipamento conhecido como "shield" (escudo, em tradução literal) ou TBM (Tunnel Boring Machine), o popular "tatuzão".
O vencedor da licitação deveria comprar dois "tatuzões". No entanto, o Consórcio Via Amarela, que ganhou a disputa, conseguiu mudar o método e comprou um só.
O trecho que desabou estava sendo construído com uma técnica chamada NATM (New Austrian Tunneling Method ou Novo Método Austríaco para Abertura de Túneis). O NATM usa retroescavadeira e explosivos para perfurar as rochas.
"Para o trecho da Vila Sônia à Fradique Coutinho, o 'shield' era recomendado por causa do risco", disse Hori à Folha.
A área do acidente é complexa do ponto de vista geológico por causa do que ele chama de "estabilidade precária": "Aquele trecho do rio Pinheiros é uma região de várzea que foi urbanizada. Há sedimentos trazidos pelo rio, uma argila mole, areia, e só então a rocha. Há uma quantidade maior de solo ruim [para perfurar túneis] até chegar à rocha sã".
Os dois métodos têm prós e contras. A literatura técnica internacional tende a apontar o "tatuzão" como mais seguro que o NATM ou túnel mineiro (cuja origem é a mineração). Em contrapartida, é bem mais caro --a máquina que está sendo montada na avenida Brigadeiro Faria Lima para o trecho que irá daquela área à Luz custou cerca de R$ 30 milhões, foi feita sob medida e não pode ser reutilizada em outra obra.
O NATM é mais barato. Os equipamentos (retroescavadeira, perfuratriz para furar a rocha que será explodida e bomba para concreto) não custam mais de R$ 500 mil e são o maquinário básico das empreiteiras. O crítico é a segurança.
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